Os Animais têm Consciência: “Não é mais possível dizer que não sabíamos”
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Escrito por: Karina
Tags:animais, consciência, destaque, ecologia, manifesto, neurociência, Philip Low
Então. Publico este artigo, retirado
da Veja on-line, com um certo atraso aqui no InconscienteColetivo (a
data da publicação original é 16/07/2012), mas, antes tarde do que mais tarde ainda, esse é o tipo de notícia que não pode faltar no acervo do blog.
Talvez, para muitos, a notícia possa não parecer tão surpreendente… “ah,
a maioria dos animais (mamíferos, aves etc) têm consciência, e daí, eu
tenho cachorro/gato/papagaio/etc, já sei disso por experiência há muito
tempo“. Mas é surpreendente quando vários neurocientistas resolvem admitir isso abertamente. Porque agora, não é mais uma questão de “crença” ou de opinião… é um fato observado cientificamente
(aliás, há muito tempo, em diversos estudos e pesquisas, mas que só
agora foi colocado em termos de uma “conclusão científica” propriamente
dita).
Só abro um parênteses aqui, a respeito
do que os neurocientistas entendem por “consciência”. É uma palavra que é
utilizada em vários sentidos, podendo ser usada como sinônimo para
mente, para estado de vigília (estar acordado – consciente ou
dormindo/desacordado – inconsciente), para estado mental conhecido
(consciente – razão, raciocínio, algumas memórias etc / inconsciente –
conteúdo dos “bastidores”, desconhecido ou ignorado pela mente ou
consciência), Consciência como “alma”, inteligência
divina, cósmica que habita um corpo etc. Então, para ficar claro qual é o
conceito de consciência adotado, cito o próprio dr. Low:
“As evidências mostram que os seres humanos não são
os únicos a apresentarem estados mentais, sentimentos, ações
intencionais e inteligência”, afirmou. “Está na hora de tirarmos novas
conclusões usando os novos dados a que a ciência tem acesso.”
Basicamente, os animais também possuem uma certa consciência de si mesmos e do mundo ao seu redor (variando de espécie para espécie, e dentro, é claro, daquilo que podemos MEDIR cientificamente).
(O manifesto)”Representa, no entanto, um
posicionamento inédito sobre a capacidade de outros seres perceberem sua
própria existência e o mundo ao seu redor.”
É claro que é uma forma de consciência diferente da nossa (ou pelo menos, até onde sabemos…). Mas diferente não é o mesmo que inexistente. E é isso que todos precisam saber.
Quem entende inglês, pode ler ou baixar o manifesto clicando aqui.
Os grifos são meus:
+++
Neurocientista explica por que pesquisadores se uniram para assinar manifesto que admite a existência da consciência em todos os mamíferos, aves e outras criaturas, como o polvo, e como essa descoberta pode impactar a sociedade
O neurocientista canadense Philip Low ganhou destaque no noticiário científico depois de apresentar um projeto em parceria com o físico Stephen Hawking,
de 70 anos. Low quer ajudar Hawking, que está completamente paralisado
há 40 anos por causa de uma doença degenerativa, a se comunicar com a
mente. Os resultados da pesquisa foram revelados no último sábado (7) em
uma conferência em Cambridge. Contudo, o principal objetivo do encontro
era outro. Nele, neurocientistas
de todo o mundo assinaram um manifesto afirmando que todos os mamíferos,
aves e outras criaturas, incluindo polvos, têm consciência. Stephen Hawking estava presente no jantar de assinatura do manifesto como convidado de honra.
Low é pesquisador da Universidade
Stanford e do MIT (Massachusetts Institute of Technology), ambos nos
Estados Unidos. Ele e mais 25 pesquisadores entendem que as estruturas
cerebrais que produzem a consciência em humanos também existem nos
animais. “As áreas do cérebro que nos distinguem de outros animais não são as que produzem a consciência“, diz Low, que concedeu a seguinte entrevista ao site de VEJA:
Estudos sobre o comportamento
animal já afirmam que vários animais possuem certo grau de consciência. O
que a neurociência diz a respeito? Descobrimos que as
estruturas que nos distinguem de outros animais, como o córtex cerebral,
não são responsáveis pela manifestação da consciência. Resumidamente, se
o restante do cérebro é responsável pela consciência e essas estruturas
são semelhantes entre seres humanos e outros animais, como mamíferos e
pássaros, concluímos que esses animais também possuem consciência.
Quais animais têm consciência?
Sabemos que todos os mamíferos, todos os pássaros e muitas outras
criaturas, como o polvo, possuem as estruturas nervosas que produzem a
consciência. Isso quer dizer que esses animais sofrem. É
uma verdade inconveniente: sempre foi fácil afirmar que animais não têm
consciência. Agora, temos um grupo de neurocientistas respeitados que
estudam o fenômeno da consciência, o comportamento dos animais, a rede
neural, a anatomia e a genética do cérebro. Não é mais possível dizer
que não sabíamos.
É possível medir a similaridade entre a consciência de mamíferos e pássaros e a dos seres humanos?
Isso foi deixado em aberto pelo manifesto. Não temos uma métrica, dada a
natureza da nossa abordagem. Sabemos que há tipos diferentes de
consciência. Podemos dizer, contudo, que a habilidade de sentir dor e prazer em mamíferos e seres humanos é muito semelhante.
Que tipo de comportamento animal dá suporte à ideia de que eles têm consciência?
Quando um cachorro está com medo, sentindo dor, ou feliz em ver seu
dono, são ativadas em seu cérebro estruturas semelhantes às que são
ativadas em humanos quando demonstramos medo, dor e prazer. Um
comportamento muito importante é o autorreconhecimento no espelho.
Dentre os animais que conseguem fazer isso, além dos seres humanos,
estão os golfinhos, chimpanzés, bonobos, cães e uma espécie de pássaro
chamada pica-pica.
Quais benefícios poderiam surgir a partir do entendimento da consciência em animais?
Há um pouco de ironia nisso. Gastamos muito dinheiro tentando encontrar
vida inteligente fora do planeta enquanto estamos cercados de
inteligência consciente aqui no planeta. Se considerarmos que um polvo —
que tem 500 milhões de neurônios (os humanos tem 100 bilhões) —
consegue produzir consciência, estamos muito mais próximos de produzir
uma consciência sintética do que pensávamos. É muito mais fácil produzir
um modelo com 500 milhões de neurônios do que 100 bilhões. Ou seja,
fazer esses modelos sintéticos poderá ser mais fácil agora.
Qual é a ambição do manifesto? Os neurocientistas se tornaram militantes do movimento sobre o direito dos animais? É uma questão delicada. Nosso
papel como cientistas não é dizer o que a sociedade deve fazer, mas
tornar público o que enxergamos. A sociedade agora terá uma discussão
sobre o que está acontecendo e poderá decidir formular novas leis,
realizar mais pesquisas para entender a consciência dos animais ou
protegê-los de alguma forma. Nosso papel é reportar os dados.
As conclusões do manifesto tiveram algum impacto sobre o seu comportamento? Acho
que vou virar vegetariano. É impossível não se sensibilizar com essa
nova percepção sobre os animais, em especial sobre sua experiência do
sofrimento. Será difícil, adoro queijo.
O que pode mudar com o impacto dessa descoberta? Os dados são perturbadores, mas muito importantes.
No longo prazo, penso que a sociedade dependerá menos dos animais. Será
melhor para todos. Deixe-me dar um exemplo. O mundo gasta 20 bilhões de
dólares por ano matando 100 milhões de vertebrados em pesquisas
médicas. A probabilidade de um remédio advindo desses estudos ser
testado em humanos (apenas teste, pode ser que nem funcione) é de 6%. É
uma péssima contabilidade. Um
primeiro passo é desenvolver abordagens não invasivas. Não acho ser
necessário tirar vidas para estudar a vida. Penso que precisamos apelar
para nossa própria engenhosidade e desenvolver melhores tecnologias para
respeitar a vida dos animais. Temos que colocar a tecnologia em uma
posição em que ela serve nossos ideais, em vez de competir com eles.
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