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O percurso correto do caminho espiritual é um processo muito sutil e não alguma coisa a que possamos atirar-nos ingênuamente. Existem numerosos desvios que levam a uma distorção egocentrada da espiritualidade; podemos iludir-nos imaginando que estamos nos desenvolvendo espiritualmente quando, na verdade, não fazemos senão fortalecer nosso egocentrismo por meio de técnicas espirituais. A essa distorção básica pode dar-se o nome de materialismo espiritual. As palestras que iremos transcrever aqui nesta nova série discutem, em primeiro lugar, as várias maneiras pelas quais as pessoas se envolvem com o materialismo espiritual, as muitas formas de auto-ilusão em que os aspirantes podem cair. Depois desse passeio pelos desvios ao longo do trajeto, discutiremos o verdadeiro caminho espiritual em seus contornos mais amplos. O que se apresenta aqui é um enfoque budista clássico – não no sentido formal, mas no sentido de mostrar o cerne do enfoque budista da espiritualidade. Apesar de não ser teísta, o caminho budista não contradiz as disciplinas teístas. As diferenças entre os caminhos são mais uma questão de ênfase e de método. Os problemas básicos do materialismo espiritual são comuns a todas as disciplinas espirituais. O enfoque budista começa com a nossa confusão e o nosso, sofrimento, e atua no sentido de destrinchar sua origem. O enfoque teísta começa com a riqueza da Fonte e atua no sentido de elevar a consciência, de modo que ela experimente a presença Dela.
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Todavia, dado que os obstáculos ao relacionamento com a Fonte são as nossas confusões e negatividades, o enfoque teísta também precisa lidar com elas. O orgulho espiritual, por exemplo, causa tantos problemas nas disciplinas teístas quanto no Budismo. De acordo com a tradição budista, o caminho espiritual é o processo de atravessar e superar a nossa confusão, de descobrir o estado desperto da mente. Quando este estado se encontra entulhado pelo ego e pela paranóia que o acompanha, assume o caráter de um instinto subliminar. Dessa forma, não se trata de construir o estado desperto da mente, mas sim de queimar as confusões que o obstruem. No processo de consumir as confusões, descobrimos a iluminação. Se o processo fosse outro, o estado desperto da mente seria um produto dependente de causa e efeito e, assim, passível de.dissolução. Tudo o que é criado, mais cedo ou mais tarde, tem de se transformar/transcender. Se a iluminação fosse criada dessa maneira, haveria sempre a possibilidade de o ego reafirmar-se, provocando um retomo ao estado de confusão. A iluminação é permanente porque não a produzimos; apenas a descobrimos. Na tradição budista, a analogia do Sol que surge por trás das nuvens é freqüentemente empregada para explicar o descobrimento da iluminação. Na prática da meditação, removemos a confusão do ego a fim de vislumbrar o estado desperto. A ausência da ignorância, da sensação de opressão, da paranóia, descerra uma visão fantástica da vida. Descobrimos um modo diferente de ser.
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A METÁFORA BUDISTA
Uma interessante metáfora empregada no Budismo Tibetano para descrever o funcionamento do ego é a dos ‘Três Senhores do Materialismo”: o “Senhor da Forma”, o “Senhor da Fala”, e o “Senhor da Mente”. Na discussão que se segue sobre os Três Senhores, as palavras “materialismo” e “neurótico” dizem respeito à ação do ego. O Senhor da Forma refere-se à perseguição neurótica do conforto físico, da segurança e do prazer. Nossa sociedade altamente organizada e tecnológica reflete nossa preocupação em manipular o ambiente físico de modo a nos salvaguardar das irritações provenientes dos aspectos crus, rudes e imprevisíveis da vida. Elevadores acionados por botões de comando, carne empacotada, ar condicionado, velórios particulares, planos de aposentadoria, produção em massa, satélites meteorológicos, máquinas de terraplenagem, luzes fluorescentes, empregos das nove às cinco, televisão – tudo são tentativas de criar um mundo controlável, seguro, previsível e prazeroso. O Senhor da Forma não significa as situações de vida em si que criamos para serem fÍsicamente ricas e seguras. Refere-se, antes, à preocupação neurótica que nos impele a criá- las, a tentar controlar a Natureza. O ego ambiciona assegurar-se e entreter-se, buscando evitar toda e qualquer irritação. Desse modo, agarramo-nos aos nossos prazeres e propriedades, tememos mudanças ou forçamos mudanças, tentamos criar um ninho ou um playground. O Senhor da Fala tem a ver com o emprego do intelecto no relacionamento com o mundo. Adotamos grupos de categorias que servem como alavancas, como meios para manipular fenômenos.
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O PAPEL DA RELIGIÃO
Ou talvez a religião nos forneça uma racionalização para criarmos um ninho seguro, um lar singelo mas confortável, para conseguirmos um companheiro afável e um emprego estável e fácil. O Senhor da Fala também se envolve com a prática espiritual. Ao seguir um caminho espiritual, podemos substituir nossas crenças anteriores por uma nova ideologia religiosa, continuando, porém, a usá-la da antiga maneira neurótica. Por mais sublimes que sejam nossas idéias, se as tomamos com excessiva seriedade e as utilizamos para manter nosso ego, ainda assim estaremos sendo governados pelo Senhor da Fala. Se examinarmos nossos atos, quase todos concordaremos, provávelmente, em que somos governados por um ou mais dos Três Senhores. “Mas”, poderíamos perguntar, “e daí? Isto é simplesmente uma descrição da condição humana. Sim, sabemos que a tecnologia não consegue pôr-nos a salvo de guerras, crimes, doenças, insegurança econômica, trabalho laborioso, velhice e morte; tampouco nossas ideologias nos resguardam da dúvida, incerteza, confusão e desorientação; nem podem as nossas terapias proteger-nos da dissolução dos altos estados de consciência que viermos temporáriamente a alcançar ou da desilusão e angústia daí decorrentes. Mas que outra coisa podemos fazer? Os Três Senhores parecem poderosos demais para serem derrubados e não sabemos com que poderíamos substituí-los. Perturbado por essas indagações, o Buda examinou o processo pelo qual os Três Senhores governam. Investigou por que nossas mentes os seguem e se não havia um outro caminho. Descobriu que os Três Senhores nos seduzem criando um mito fundamental: o de que somos seres concretos.
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O FALSO MITO
Todavia, o mito, em última análise, é falso, uma imensa burla, uma fraude gigantesca, a raiz do nosso sofrimento. Para fazer essa descoberta, ele precisou romper as defesas muito complexas erguidas pelos Três Senhores, com o fim de impedir que seus súditos descobrissem o engano fundamental que é a origem do poder deles. Não poderemos, de maneira alguma, livrar-nos do domínio dos Três Senhores a menos que nós, também, cortemos e atravessemos, camada por camada, as suas complexas defesas. As defesas dos Senhores são criadas com material das nossas mentes, que eles utilizam para preservar o mito básico da solidez. A fim de enxergar por nós mesmos como este processo funciona, precisamos examinar nossa própria experiência. “Mas como,” podemos perguntar, “haveremos de conduzir este exame ? Que método ou instrumento vamos usar?” O método descoberto pelo Buda foi a meditação. Ele verificou que lutar para encontrar respostas não surtia efeito. Só quando havia brechas na sua luta é que lhe acudiam discernimentos. Começou a dar-se conta de que existia dentro de si uma qualidade sadia e desperta que só se manifestava na ausência de luta. Por isso, a prática da meditação implica “deixar ser”. Tem havido uma série de idéias errôneas acerca da meditação. Algumas pessoas a consideram um estado mental semelhante a um transe. Outras pensam nela em termos de treinamento, no sentido de ginástica mental. A meditação, contudo, não é nenhuma dessas coisas, embora lide com estados mentais neuróticos. Não é difícil nem impossível lidar com tais estados. Eles têm energia, pressa e um certo padrão. A prática da meditação implica deixar ser uma tentativa de acompanhar o padrão, uma tentativa de acompanhar a energia e a velocidade.
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CONTINUA….
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CONCLUSÃO E NOTA DO BLOG
As pessoas costumam começar um trabalho espiritual com idéias pré-concebidas sobre o que irão aprender. Embora as aspirações de cada um sejam sinceras, trazem consigo uma boa dose de confusão, incompreensão e de esperanças.A evolução correta, no caminho espiritual, é penosa e sutil. Podemos nos iludir acreditando que estamos evoluindo espiritualmente, quando, na realidade, estamos apenas utilizando técnicas espirituais para reforçar o ego. Chamamos a isso: “materialismo espiritual”, que só faz reforçar a nossa materialidade.O materialismo não é sómente crer na matéria. Se fosse apenas isso, não seria difícil desfazer o problema, porém, o materialismo esconde-se sob as mais diversas formas, prejudicando o desenvolvimento do Ser interior, impedindo-o de transcender. Produzimos auto-ilusões que ocultam o que somos, mas agradam ao ego, do tipo: “Eu sou bom” ou “- Oh! como eu sofro! e que são exemplos de máscaras que usamos em sociedade para sermos aceitos.A personalidade, desconhecendo-se, tem medo ,quer as garantias do já conhecido. Não quer surpresas, com as quais talvez não saiba lidar, preferindo o que lhe é familiar. É o engano no qual todos nós caímos: queremos nos assegurar, de antemão, do êxito, qualquer que seja o ensinamento que estamos buscando, e ao fazermos isso, caímos no reducionismo ideológico e transformamos a doutrina em utopia, mesmo a mais espiritual. Na literatura comum,encontramos pouquíssimos textos que falem em desapego e combate interior. O que oferecem são receitas supostamente mágicas, para o caminho da felicidade, caminho esse que o homem vem procurando desde tempos imemoriais, navegando sempre na superficialidade, pois é muito árdua a viagem ao seu Ser interior.
EQUIPE DA LUZ É INVENCÍVEL
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Expansão da Consciência-Instituto de pesquisas Projeciológicas e Bioenergéticas
Bibliografia para consulta
ALÉM DO MATERIALISMO ESPIRITUAL
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