Comentários Palestra (Parte III de V) - Mitologia Egípcia e Suméria, Nibiru, Capela e Sirius
Parte II: AQUI
Continuando:
Com 1 hora e 41 minutos de palestra, o palestrante apresenta um mosaico
tendo como título “Antigas Representações de Nibiru”.
No
canto inferior direito vemos uma esfera vermelha computadorizada, ou
seja, uma representação que de antiga não tem nada, mas tudo bem. Vou
primeiro explicar o símbolo do suposto Sol com 11 corpos celestes
próximos, totalizando assim uma figura com 12 corpos celestes.
Alguém ao
olhar essa figura disse que ali estava representado Nibiru
(supostamente o círculo no canto superior esquerdo ao suposto Sol). Mas
vejamos, se os sumérios conseguiram observar astronomicamente até
Plutão, porque colocariam os planetas fora de qualquer escala de
comparação e fora de qualquer órbita? Se aquilo fosse a órbita do
sistema solar, vários planetas já teriam se chocado faz tempo na
eclíptica.
O que
podemos ver na verdade é uma representação sim de 12 corpos celestes.
Foi exatamente na Mesopotâmia que a Astrologia foi desenvolvida, era uma
ciência, tanto que o mapa astrológico mais antigo que se tem
conhecimento é do rei babilônico Sargão I de 2.350 A.C.
Foram
os sumérios que criaram a divisão do ano em 12 meses lunares, bem como
do dia em 12 horas – duplas e na divisão dos 12 signos astrológicos.
Essa é a simples menção no desenho do Sol, dentro de uma estrela e com
11 corpos celestes orbitando a sua volta de forma desordenada. Tão
somente isso.
A partir
dessa representação, os egípcios desenvolveram uma representação própria
desse símbolo sumério, o adaptando aos seus conhecimentos de astrologia
e também as divindades as quais cultuavam. Os egípcios acreditavam na
vida após a morte e tinham símbolos muito fortes para o renascimento,
uma nova vida: a fênix e o escaravelho sagrado.
Da mesma
forma, na entrada dos seus templos, era comum se observar, talhada na
pedra, o símbolo de Horbehutet, um simples disco com duas grandes asas,
ou seja, o disco alado, a divindade solar que acompanha o Deus Rá na sua
travessia diária pelo Egito. É um guardião que simboliza a proteção
espiritual do templo. Da mesma forma o escaravelho sagrado (Khepra)
também simboliza essa divindade solar, pois simbolicamente é o
escaravelho com asas movendo um disco (Sol). Comparem os dois símbolos e
veja como são parecidos entre si:
Ambos
representam divindades egípcias ligadas ao Sol. Têm elas, no entanto,
uma origem mais antiga, exatamente na história da fênix, que na
mitologia ao sentir a morte se aproximar, voava para a pira do Deus Rá
em Heliópolis ( a cidade do Sol) e nessa pira deixava se consumir pelo
fogo para então renascer.
Segundo
os egípcios, em suas garras ela poderia levar cargas imensas. Ou seja,
ela é mais uma representação da busca pela divindade (Deus- Sol) através
do renascimento, reencarnação.
Mas a
origem comum de todas essas simbologias está em Hórus, o Falcão Celeste,
simbolizado também por uma ave, que no topo da sua cabeça tem o disco
solar e nas suas garras duas esferas de metal, que são o símbolo da
mineração do Egito, pois nas grandes construções necessitavam trazer de
longe as grandes pedras, simbolicamente pelas “asas” da fênix ou Hórus.
Isso se explica porque nas primeiras dinastias, Hórus foi a divindade
que representava o trabalho de forjar metais, tanto que nos primeiros
templos erguidos nas primeiras dinastias se encontrou um hieróglifo com
os seguintes dizeres: “Quando as fundações forem reveladas, o disco se
erguerá”. Ou seja, o símbolo inicial de proteção dos egípcios, muito
anterior ao escaravelho, Horbehutet ou até mesmo da fênix, foi Hórus.
Essas
duas pedras nas garras de Hórus foram metamorfoseadas no símbolo de
Horbehutet em duas serpentes, que segundo alguns egiptólogos representam
o “alto e baixo Egito” mas na verdade são apenas o alimento
simbolicamente caçado pelo falcão ou numa outra linguagem “elevado aos
céus” pelo falcão celeste ao Deus-Sol.
Interessante
notar que ao longo das dinastias, a figura de Hórus se funde com Rá,
surgindo então o wedjat ou simplesmente o olho de Hórus. Se compararmos
essa fusão com a descrição de Horbehutet que seria um disco alado
acompanhando constantemente Rá, fica fácil compreender como essas duas
divindades acabaram por ser fusionadas.
Hórus na
mitologia é filho de Isis que assumiu na mitologia egípcia muitos dos
papéis da deusa Hathor, sendo representada com dois chifres de vaca na
cabeça e sobre ela um disco solar. Era a deusa da fertilidade, das
mulheres na hora do parto e também dos homens que trabalhavam nas minas
com mineração. Uma de suas representações mais comuns é exatamente a
Isis alada, tal como seu filho mitológico, o falcão celeste Hórus:
Mas
afinal o que isso tudo tem haver com Nibiru? Toda essa explicação mostra
que o disco solar não tem nada haver com Nibiru ou qualquer outro
planeta que venha em “duas asas” sobre a Terra. Entretanto, é possível
que os sumérios tenham representando um segundo sol? Espantosamente a
resposta é sim.
Isso
se explica da seguinte forma: nas clássicas apresentações da fênix ela
sempre aparece ao lado de uma estrela denominada pelos egípcios de
spodet, nome dado por eles a Sírius, que eles representavam como uma
estrela vermelha.
Essa
estrela era a base do calendário egípcio, ou seja, um novo ano começava
no Egito quando Sirius tornava-se visível no horizonte imediatamente
antes do nascer do Sol , estando suficientemente afastado do Sol pra não
ser ofuscada pelo brilho solar, evento que ocorria após uma ausência de
70 dias no céu , prenunciando assim as cheias do Nilo. Sirius era
naquela época associada à Isis, a suprema Deusa do céu egípcio.
Portanto, se os egípcios quiseram representar algum corpo celeste, planeta ou Sol certamente não foi Nibiru, mas sim Sirius.
Mais
interessante ainda é pegarmos a figura suméria apresentada na palestra
que mostra uma grande estrela (supostamente o Sol) dentro de uma estrela
de 6 pontas ou seja, um hexágono.
“Coincidentemente”,
Sirius faz parte do chamado Hexágono do Inverno, visível no hemisfério
norte de dezembro até março e facilmente observada pela grande magnitude
de brilho das estrelas que compõe esse Hexágono e adivinhem só qual
estrela faz parte desse grupo: Sirius, Rigel, Aldebaran, Pollux, Procyon
e.....Capella.
Da mesma
forma as 6 estrelas do Hexágono de Inverno são partes de seis grandes
constelações do céu: Orion, Taurus, Auriga, Gemini, Canis Minor e Canis
Major. O interessante é que dentro desse Hexágono está Betelgeuse, uma
estrela vermelha supergigante com diâmetro 500 vezes maior que o Sol.
Se os
sumérios viram alguma coisa no céu e quiseram representar certamente não
foi Nibiru, mas sim o hexágono em forma de estrela, tendo Betelgeuse no
centro. Alguns astrônomos acreditam que nos próximos mil anos essa
gigante vermelha poderá sofrer uma explosão tipo supernova II, o que
aumentaria seu brilho de tamanha forma que seria visível por meses no
céu da Terra como uma pequena Lua cheia brilhante por meses e após esse
período desapareceria. Se isso acontecer nos próximos anos, então
teremos teoricamente dois sóis visíveis no céu, mas sem qualquer ameaça
apocalíptica de Nibiru ou 2012.
Mas
vamos continuar as análises: lá em 1hora e 50 minutos de vídeo, o
palestrante afirma ter encontrado, utilizando o Google Sky, o suposto
Nibiru atrás do Elenin, utilizando a ferramenta de infravermelho
disponível no site Google Sky, algo estranho, próximo a constelação de
leão.
Bom, pra
começar, o Google Sky não é um telescópio, mas tão somente um programa
que processa imagens vindas do telescópio Sloan Digital Sky Survey e
justamente por um erro de processamento apareceu a famosa mancha
retangular preta perto de Órion (que foi logo vista pelo teóricos da
conspiração como uma censura). Se a Google quisesse esconder algo,
certamente colocaria ali uma imagem qualquer do céu, apagaria a
verdadeira imagem e não simplesmente faria uma mega gambiarra que
chamasse a atenção de todo mundo. Outra prova de que a Google não esta
escondendo nada é que na mesma região onde existia o bug de
processamento do telescópio ótico SDSS, é possível ver claramente as
imagens processadas do infravermelho vindas do IRAS e as imagens
processadas advindas do telescópio de microondas WMAP como vemos na foto
abaixo.
Mas e aquela imagem que o palestrante mostrou como sendo Nibiru perto da órbita de Saturno?
A imagem em infravermelho é de um objeto conhecido pelos astrônomos, é o Quasar PGC 1427054,
que aparece com essa pitoresca aparência quando visto em infravermelho,
tão somente, nada de Nibiru , Marduk ou companhia. Quem quiser saber
mais entre no site desse astrônomo: AQUI
Mas temos
ainda mais um problema. Segundo o que o próprio palestrante mostra
sobre a órbita de Nibiru em 1hora e 42 minutos de vídeo, e também aceito
por praticamente todos os entusiastas da teoria da existência desse
orbe, Nibiru possuiria uma órbita elíptica que vem por debaixo da
eclíptica (plano rotacional onde orbitam os planetas ao redor do Sol)
para então descer num ângulo de aproximadamente 33 graus. A figura
mostrada pelo palestrante, que consta abaixo e no vídeo, deixa isso bem
claro:
Mas na
mesma palestra, com poucos minutos de diferença, ele expõe que o cometa
Elenin vem a apenas 1 grau de inclinação da eclíptica (1 hora, 29
minutos e 40 segundos de palestra), ou seja, Elenin está alinhado,
segundo ele, paralelamente na eclíptica com pequenas variações, enquanto
que o suposto Nibiru viria de forma perpendicular, “cortando” a
eclíptica como já mostrado na figura acima.
Então
como que Nibiru pode vir atrás de Elenin, seguindo o pequeno cometa???
Com 1hora e 47 minutos de palestra, é dito exatamente isso, que Nibiru
vem atrás de Elenin, o que seria impossível mesmo que Nibiru existisse,
pois ele vem , segundo a teoria conspiratória dos seus defensores, de
forma perpendicular, enquanto Elenin de forma paralela a eclíptica.
Outro
problema na explicação sobre Nibiru, é que após confundir o quasar PGC
com Nibiru, foi dito na palestra que ele estava nas imediações de
Saturno. Mas praticamente uma hora depois (2 horas e 37 minutos de
palestra), o palestrante cita uma reportagem da CNN, que afirma que o
tal planeta desconhecido (Nibiru) está além de Plutão, ou seja, numa
órbita muito distante de Saturno. São incongruências facilmente
percebidas que demonstram não existir qualquer indício ou prova factível
da existência desse suposto orbe intruso.
Pra
piorar a situação, a tal reportagem não cita qualquer fonte, apenas fala
de uma matéria que foi divulgada no jornal inglês “The Guardian”, que
não cita qualquer astrônomo, observatório de qualquer país, mas fala tão
somente em “cientistas independentes”. Imagens, indicações de onde
procurar no céu, nomes de astrônomos, nada disso foi veiculado na
reportagem do jornal, dando a entender que se tratava apenas de
sensacionalismo pra ir “na onda”, naquela época, do burburinho causado
pelo Elenin em meados de 2011, tão somente.
Noticiar
algo seja o meio de comunicação conhecido ou não, não quer dizer que a
notícia é verdadeira (novamente me lembro da falácia conclusiva), afinal
basta relembrar as notícias sobre os “atentados terroristas” de 11 de
setembro ou a morte de Bin Laden, não é porque isso foi divulgado numa
CNN que necessariamente vai ser verdade.
Segue na parte IV, que será publicada quarta feira, 21 de março, as 22:14
Comentário Parte IV: AQUI
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