A VIRTUDE DO DESAPEGO
Os Budistas, na sua imensa sabedoria, trabalham, ao longo das suas vidas, diversos principios e atitudes. Uma delas é o desapego. Mas, porque valorizam tanto os budistas a atitude do desapego? E porque avaliam esse desapego como sinal da sua necessária evolução espiritual?
No ocidente, em que se vive a cultura do apego, do laço, do vinculo, do contrato, do pacto de sangue, da união até que a morte os separe e por ai fora, a simples ideia de desapego parece provocar muito desconforto e confusão. Muitos de nós somos educados na filosofia do apego, no conceito de relação e compromisso, e sempre que tentamos que assim não seja, logo aparece alguém com cobranças e acusações. Mas, lá do outro lado do planeta, milhões de pessoas investem na aprendizagem da atitude oposta: DESAPEGO!
Ora, mas porquê tanto trabalho, tanto esforço investido no dito desapego? porque a verdade é que para evoluirmos humana e espiritualmente, temos que nos libertar progressivamente de tudo o que nos aprisiona e nos agarra, da forma errada, ao mundo físico, dos sentidos, das emoções.
Claro que existem formas certas e erradas de viver esse processo, claro que existe um desapego harmonico que não exclui o amor nem os laços, antes os vive sem dependências extremas e castradoras. Não vamos confundir desapego com desprezo pelos outros, isso é pura demagogia, todos o sabemos.
Desapego não significa incapacidade de amar, negação do amor, ou fuga dos outros. Mas significa amar em estado de liberdade interior e não centralizar o amor em nada nem ninguem em especial, mas sim elevar a capacidade de amar ao Todo, ao Uno.
Desapego significa a consciência de não querer deixar a nossa felicidade em mãos alheias. O ser que vive apegado, amarrado no outro e num amor exclusivo e exclusivista depende emocionalmente do outro, a sua alegria depende do bom clima da relação, o que quer dizer que ele na verdade está em aprisionamento e num lugar muito fragil, pois se a relação adoecer e se acabar, a sua alegria definha junto com a relação. Perigoso apego este, que nos deixa tão frageis nas mãos uns dos outros, não é?
É um facto que amar significa criar laços, e laços implicam responsabilidade, mas nada disso tem que significar contratos, prisões, preços e cobranças.
Vivemos de forma errada os nossos afectos e por isso tanto sofremos. O amor existe para libertar e não o contrário. Existe para inspirar sentido de partilha, compaixão, solidariedade, mas jamais dor, agressão, julgamento e outras atitudes tão venenosas em que ainda nos movemos, infelizmente!
Por isso a necessidade do desapego, por isso a sua tão grande importância do ponto de vista do nosso crescimento interior. Porque afinal é o desapego que nos ensina a amar mais o outro, e também a nós mesmos.
Dificil de praticar? Claro que sim! Dai a necessidade de ser arduamete praticado, aprendido, cultivado, ensinado. Dolorosa a sua aprendizagem? Claro que sim! Como todas as aprendizagens necessárias, não é? Impossivel de atingir? Para muitos de nós sim, para outros nem tanto. O ser desapegado deixa de sofrer perdas emocionais? Não, tal como qualquer outro ser humano, ele tem sentimentos profundos, que passam também pela dor. Mas existem aqui duas atitudes possiveis: uma é chorar! A outra, é sorrir, sorrir da propria vontade de chorar. E seguir em frente. Essa é a sabedoria do desapego, que todos deveriamos praticar, connosco e com aqueles que amamos, libertando os nossos corações e ajudando a libertar outros. E então o amor crescerá e será ainda mais amor, porque finalmente começa a ser uma energia em libertador movimento.
Teresa de Isiliz
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