Planeta Vénus em trânsito: e nós sem vê-lo passar
05 de Junho de 2012, 23:46
É uma oportunidade quase única na vida - mas em Portugal este fenómeno astronómico não vai ser visível. O trânsito de Vénus, que vai ter lugar a 5 e 6 de junho, poderá ser observado em toda a Europa, à exceção da zona ocidental da Península Ibérica. Mas pode acompanhar a transmissão em directo, online.
Trânsito de Vénus de 2004 Imagem: NASA/LMSAL
A passagem de Vénus em frente ao Sol, conhecida como trânsito de Vénus, é um fenómeno astronómico previsível e raro. Ocorre quando a Terra, Vénus e o Sol se encontram alinhados, e portanto, visto da Terra, Vénus passa diante do disco solar, cobrindo uma pequena parte deste. Isto ocorre a pares de oito anos, separados entre si por mais de cem anos. Por exemplo: houve um trânsito em 2004, e vamos ter este de 2012. Depois disso, só em 2117 e 2125. Quer dizer que dificilmente alguma pessoa que esteja agora viva vai ter ocasião de voltar a ver este fenómeno.
O evento de 2004 gerou grande atenção porque pela primeira vez havia tecnologia com capacidade para captar imagens de qualidade. Os trânsitos anteriores tinham sido em 1874 e 1882, havendo apenas desenhos e registos fotográficos de baixa qualidade. Assim, as imagens de 2004 mostraram, pela primeira vez, a visão espetacular da passagem dum simples ponto preto em frente ao disco solar.
Em Portugal, e de acordo com o site do Observatório Astronómico de Lisboa, "o trânsito de Vénus vai ter lugar na madrugada de dia 6 quando o Sol ainda se encontra abaixo do horizonte", o que significa que não vai poder ser observado diretamente. Mas vai ser possível acompanhar a transmissão em directo do evento, realizada por equipas de astrónomos em vários locais do mundo, nas páginas do OAL e do CAAUL (Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa ), ou no site da NASA. O OAL prepara ainda uma série de atividades para a semana do fenómeno (agenda nesta página). O site da NASA disponibiliza um mapa do mundo que permite saber onde é possíve observar o fenómeno. Pode vê-lo em maior detalhe aqui.
Mapa do mundo com o trânsito de Vénus de 2012 Fotografia: Dr. Tony Phillips / Science@NASA
Olhar Vénus para conhecer o sistema solar
O registo do trânsito de Vénus foi objetivo de muitas missões científicas europeias a partir do século XVIII, quando o astrónomo Edmund Halley sugeriu que observações feitas a partir de diferentes pontos da Terra poderiam ajudar a solucionar um dos enigmas da ciência de então: qual o tamanho do Sistema Solar? Qual a distância, em valores absolutos, entre um e outro planeta?
Cientistas e exploradores empenharam-se nesta tarefa, viajando até lugares longínquos, num grande esforço internacional de aproveitar as raras oportunidades para fazer medições. As observações simultâneas a partir destes vários pontos do globo permitiriam fazer os cálculos geométricos necessários para conhecer a distância. Nem sempre os resultados destas expedições foram os melhores, devido às condições meteorológicas e à tecnologia da época.
Um caso célebre de persistência e fiasco é o de Guillaume Le Gentil. Este astrónomo francês viajou até ao sul da Índia, mas falhou as observações em 1761 (os solavancos do navio não lhe permitiram fazer medições) e, depois de ter decidido esperar oito anos pela oportunidade seguinte (e última no seu tempo de vida), voltou a não ver o trânsito de Vénus, devido ao mau tempo.
Já no século XIX, com a ajuda da fotografia, os dados combinados das observações dos trânsitos anteriores permitiram um primeiro cálculo das distâncias entre os planetas, que com as tecnologias modernas foi muito aperfeiçoado.
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