Matéria escura, energia escura… Magnetismo escuro?
Já sabemos que os últimos dias do universo serão em solidão e
escuridão, à medida que as galáxias mais distantes forem desaparecendo
do nosso horizonte de visão, por causa da expansão acelerada do
universo. E chamamos de energia escura a força que está acelerando essa
expansãoMas qual a verdadeira identidade deste vilão, a energia escura?
Poderia ser a energia do ponto zero? Ou uma alteração da gravidade em
grandes escalas? O problema é que a energia escura deve ter uma
densidade de aproximadamente meio joule por quilômetro cúbico de espaço,
e a energia do ponto zero é calculada por uns como sendo zero (o que é
ruim) e por outros com 120 ordens de magnitude maior (o que é pior) que a
energia escura.
A ideia de uma gravidade alterada para escalas maiores também não
ajuda, por que implica em corrigir um modelo que dá resultados exatos
para escalas menores, como o cálculo de trajetórias de espaçonaves ou
planetas no sistema solar. Faça a teoria da gravidade responder pela
expansão do universo e ela não vai mais funcionar para escalas menores.
José Beltrán e Antonio Maroto estavam estudando em 2008, na
Universidade de Madri, Espanha, a gravidade mutante, com um modelo
chamado teoria vetor-tensor, e perceberam algo interessante: as equações
eram idênticas a outro modelo, o do eletromagnetismo.
Da mesma forma que a maioria das forças na natureza, o
eletromagnetismo é pensado em termos de uma partícula mediadora, o
fóton: uma partícula sem carga e sem massa que carrega campos magnéticos
e elétricos.
A eletrodinâmica quântica tem sido usada para explicar muitos
fenômenos, do comportamento da luz às forças que unem as moléculas, mas
ela tem uma face oculta: dois tipos de ondas que são canceladas pela
Condição de Lorenz. Uma das ondas de campo elétrico segue na direção do
movimento, e a segunda, chamada modo temporal, não tem campo magnético,
mas apenas potencial elétrico. As duas ondas têm seu próprio tipo de
fóton, na teoria.
O trabalho de Beltrán e Maroto é ver como fica o eletromagnetismo sem
a Condição de Lorenz. Nesta forma, as ondas aparecem e desaparecem como
flutuações quânticas, como ondas virtuais no vácuo. Entretanto, no
período do Big Bang chamado de inflação, todas as flutuações quânticas
receberam tremenda amplificação, e também poderiam ter amplificado as
novas ondas eletromagnéticas.
Este processo deixaria para trás modos temporais vastos, ondas de
potencial elétrico com comprimento de onda várias ordens de magnitude
maiores que o universo observável. Estas ondas contém energia, mas como
são tão grandes, não são percebidas como ondas, mas como energia escura,
talvez.
Beltrán e Maroto chamaram sua ideia de magnetismo escuro, e ela pode
ser usada para explicar a quantidade de energia escura no universo, se
as condições forem as corretas. Também pode explicar misteriosos campos
magnéticos em larga escala que têm sido detectados na observação de
galáxias distantes.
Só que a dupla têm alguns problemas, por que o que estão fazendo
também vai alterar uma teoria bem estabelecida na ciência, o que
preocupa não só eles mas outros cientistas. Mas mesmo assim há
cientistas, como Gonzalo Olmo, cosmólogo da Universidade de Valência,
Espanha, que estão entusiasmados com a nova teoria.
E como comprovar esta teoria? Ela afirma que a influência do
magnetismo escuro no período da inflação deixaria marcas na distribuição
estatística da radiação cósmica de fundo, e neste caso os dados obtidos
pela missão Planck poderia trazer à luz estas marcas.
Uma outra aposta é encontrar uma das ondas longitudinais menores, que
talvez tenham comprimento de onda na ordem da distância Terra-Sol. Só
que para captar uma onda, a antena não pode ser muito menor que o
comprimento de onda, o que significa que ainda não temos tecnologia para
detectar estas ondas. Mas teremos. Se houver uma onda não muito grande,
ela poderia ser detectada pelo rádio instrumento Square Kilometre Array, o maior radiotelescópio do mundo, que deverá entrar em funcionamento na próxima década.
Uma outra coisa que a teoria permite calcular é a tensão elétrica ou
voltagem do nosso universo. O número é 10^27 volts, ou um bilhão de
bilhão de gigavolts. Nossa sorte é que não há onde descarregar esta
tensão elétrica. Talvez um universo paralelo (e aí seria o fim do nosso
universo, com o raio mais poderoso já imaginado).[NewScientist]
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