Londres-2012, as Olimpíadas do Medo
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Porta-aviões
no rio Tâmisa: parte de pacote que inclui vigilância intensa sobre
cidadãos e armas sônicas para dispersar manifestações.
Aparato
de segurança nunca visto controlará cidadãos durante os Jogos. Eles
terão se tornado cavalo-de-tróia para medidas de controle social?
Por Dave Zirin | Tradução Daniela Frabasile
Até
48 mil policiais e 13,5 mil soldados. Baterias de mísseis aéreos
posicionadas no alto de prédios residenciais. Uma arma sônica que
dispersa multidões, criando “dor de rachar a cabeça”. Drones
não-tripulados vigiando tudo do céu. Uma zona de segurança, contornada
por uma cerca elétrica de mais de 17km, cercada por agentes treinados e
55 grupos de cães para ataque.
Você
poderia pensar que essas são as táticas usadas pelas bases
norte-americanas no Iraque e Afeganistão, ou talvez os métodos militares
ensinados a ditadores do terceiro mundo na Escola das Américas em Forte
Benning, Georgia. Mas elas fazem parte do aparato ostensivo de
segurança preparado em Londres, para as Olimpíadas de 2012.
Na
capital britânica, que já tem mais câmeras de segurança por pessoa que
qualquer outra cidade no mundo, há sete anos os governantes não
economizam para monitorar seus cidadãos. Mas a operação olímpica vai
além de tudo o que já se viu, quando uma democracia ocidental hospeda os
jogos. Nem mesmo a China em 2008 usou aviões não-tripulados (drones),
nem cercou as instalações olímpicas com uma imensa cerca de alta
voltagem. Mas aqui está Londres, preparando uma contra-insurgência, e
posicionando um porta-aviões no meio do rio Tâmisa. Aqui está Londres,
instalando scanners, cartões de identificação biométrica, sistemas de
vigilância que reconhecem placas de carros e rostos, sistemas de
rastreamento de doenças, novos centros de controle policial e pontos de
revista.
Stephen Graham refere-se a estas táticas, no jornal The Guardian,
como “Lockdown London” [algo como "Londres Cercada"]. É “a maior
mobilização de militares e forças de segurança do Reino Unido desde a
Segunda Guerra Mundial”. Ele não está exagerando. O número de soldados
irá superar as forças que o Reino Unido enviou ao Afeganistão.
Não
se trata apenas dos custos e de inacreditável invasão de privacidade. O
poder está sendo passado para a polícia. A “lei dos jogos olímpicos em
Londres”, de 2006 capacita, além do exército e da polícia, forças de
segurança privadas para lidar com “questões de segurança” usando força
física. Essas “questões de segurança” foram definidas de forma ampla.
Incluem tudo: de “terrorismo” até protestos pacíficos, ações sindicais,
camelôs vendendo produtos das Olimpíadas nas ruas, banimento de qualquer
presença corporativa que não tenha o selo de aprovação das Olimpíadas.
Para ajudar a cumprir a última parte, haverá “equipes de proteção de
marcas” na cidade. Também operarão nas instalações olímpicas, para
garantir que ninguém “vista roupas ou acessórios com mensagens
comerciais que não sejam dos patrocinadores oficiais”.
A operação de segurança também inclui assédio nas ruas. Como reportou o Guardian,
“policiais têm poder de deslocar qualquer pessoa que considerem
engajada em comportamento antissocial, como dar voltas em estações de
trem, pedir dinheiro, mendigar, caminhar indolentemente, cobrir-se com
capuz ou qualquer outra maneira de causar incômodo”.
Não
há razão alguma para que as Olimpíadas sejam assim. Uma celebração
internacional de esportes – particularmente mais diversos do aqueles com
que estamos acostumados – não precisa de drones
e porta-aviões. Não existe razão para que atletas do mundo inteiro
necessitam de tal aparato para se unir e mostrar seu potencial físico.
Mas
as Olimpíadas atuais estão para o esporte assim como a guerra do Iraque
estava para a democracia. As Olimpíadas não são têm a ver com atletas. E
definitivamente não estão relacionadas a “unir a comunidade das
nações”. São um cavalo de Tróia neoliberal destinado a ampliar negócios e
reverter as liberdades civis mais elementares.
Sem
querer chocar ninguém, sustento: não há sinais de que esse aparato de
segurança será desmontado depois do término das Olimpíadas. As forças
policiais ganharam um número excessivo de brinquedos, as caixas foram
abertas.
Num
certo sentido, as Olimpíadas sempre cumpriram este papel. Desde a
Berlim comandada por Hitler em 1936, até a chacina de estudantes na
Cidade do México, em 1968; o ataque às gangues em Los Angeles em 1984; o
desalojamento em massa de cidadãos em Beijing em 2008, a “repressão”
sempre foi parte dos jogos. Mas no mundo pós 11 de Setembro, as apostas
são muito mais altas. As
Olimpíadas tornaram-se a colher de açúcar que ajuda a tomar o remédio; o
remédio é que nossos governantes descobriram o inimigo; e o inimigo
somos todos nós.
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