A polêmica capa da revista satírica alemã Titanic mostra o papa Bento 16 na sua tradicional batina branca, com uma mancha amarela na região pélvica. A manchete: "Aleluia no Vaticano – encontrado o local do vazamento!". Na contracapa, o Papa é mostrado de costas. Desta vez, a mancha é marrom, e o texto que acompanha a imagem diz: "Mais um local de vazamento!".
Trata-se de uma alusão ao recente escândalo de vazamento de documentos secretos na imprensa, batizado com o nome de Vatileaks e que levou à detenção do camareiro do Papa.
A pedido do Vaticano, um tribunal de Hamburgo proibiu na terça-feira (10/07) a editora de vender a revista e também de publicar as imagens no seu site na internet. A multa em caso de desrespeito é de 250 mil euros. As imagens no site foram cobertas com uma tarja preta com a inscrição "proibido". As revistas já distribuídas não tiveram de ser recolhidas.
A decisão da Justiça alemã pode ter ido ao encontro do pedido do Vaticano, mas a censura à publicação humorística serviu para chamar ainda mais atenção para o caso. E deu início a um debate sobre os limites do humor e da sátira.
Ataque pessoal ou à burocracia do Vaticano?
Kremer, do Conselho de Imprensa, diz ter recebido queixas
Para Edda Kremer, porta-voz do Conselho Alemão de Imprensa (órgão de autorregulamentação que reúne empresas jornalísticas e sindicatos profissionais), sátiras fortes e polêmicas são aceitáveis caso não firam os padrões éticos da imprensa. Mas, ressalva, os direitos pessoais devem ser respeitados.
Justamente esse aspecto foi desrespeitado, na opinião de muitos católicos alemães. A Conferência dos Bispos da Alemanha, por exemplo, disse que se trata de um ataque pessoal ao Papa. "É repugnante. Na minha concepção, há limites para o bom gosto e para a sátira. Aqui não se trata de sátira, mas de ferir uma pessoa da maneira mais repugnante", afirmou o porta-voz Matthias Kopp.
Ele disse que a mídia deveria ter respeito pelas religiões. "Se um papa, que já completou 85 anos, é mostrado como uma pessoa com incontinência, isso é uma afronta à sua esfera privada. Isso é absolutamente inaceitável."
Para o porta-voz da Associação Alemã de Jornalistas (DJV, na sigla original), Hendrik Zörner, não se trata de um ataque pessoal ao Papa. "É claro que há limites, a esfera íntima das pessoas não deve ser ferida. Mas nesse caso não se trata da pessoa do papa Bento 16, mas dele como representante da burocracia do Vaticano. Essa é a mensagem, bem clara, dessa capa, e nesse caso esses recursos são adequados", opinou.
Segundo Kremer, cerca de 40 reclamações chegaram ao Conselho Alemão de Imprensa até a noite desta quarta-feira. "As pessoas se sentem ofendidas na sua sensibilidade religiosa e dizem que a honra do Papa foi ferida com a capa da revista."
Escândalo traz novos assinantes
Fischer, da "Titanic": as manchas são de refrigerante
A redação da revista Titanic encarou o imbróglio com bom humor. "Não é toda hora que um papa escreve para você, por isso resolvemos celebrar com espumante", comentou o editor da revista, Leo Fischer. Segundo ele, as manchas na batina do Papa são do refrigerante tomado para celebrar o fim do caso Vatileaks. "Sendo assim, é claro que podemos mostrar o Papa desse jeito", brincou.
Fischer disse considerar exagerada a decisão da Justiça. "Oferecemos uma conversa pessoal ao Papa. Nós o convidamos para vir até a redação conversar conosco sobre tudo isso", disse Fischer, acrescentando que ofereceria um café ao Papa. Ou um refrigerante.
Até agora não há um claro vencedor na polêmica, mas a redação da Titanic comemora um pequeno sucesso: o número de pessoas interessadas em assinar a revista subiu desde esta terça-feira, primeiro dia do escândalo. Em vez dos tradicionais 10 novos assinantes por dia, houve 60 pedidos na terça e 50 até o meio-dia desta quarta-feira.
Autora: Rayna Breuer (as)
Revisão: Roselaine Wandscheer