Pesquisadores brasileiros avançam no desenvolvimento de analgésico e anti-inflamatório de origem vegetal que pode ajudar no tratamento da dor crônica.
Cientistas
da área acadêmica e das principais indústrias farmacêuticas mundiais
têm dedicado grandes esforços para o entendimento dos mecanismos que
controlam a dor e principalmente visando o desenvolvimento de
medicamentos para o tratamento da dor crônica.
Apesar
dos progressos científicos importantes obtidos no entendimento dos
mecanismos celulares e moleculares envolvidos na etiologia da dor
crônica, poucos medicamentos foram lançados nessa área nas ultimas
décadas. Tal fato tem causado muito sofrimento para pacientes portadores
da dor crônica. Devido a dor os pacientes reclamam de alteração do
sono, no humor, do apetite efeitos esses que causam graves
consequência na qualidade de vida dos portadores de dor cronica. Além
disso, a dor pode fazer doer também o bolso, com custos diretos (com
médicos e tratamentos) e indiretos (faltas no trabalho e queda de
produtividade).
Segundo
a Sociedade Brasileira para O Estudo da Dor, estima-se que os
brasileiros convivem com a dor como poucos no mundo. Hoje a dor é um dos
principais motivos das consultas médicas no país, atingindo cerca de
85% dos pacientes atendidos – ao mesmo tempo em que muitos
profissionais do setor continuam poucos informados sobre o tema, muitas
vezes negligenciando sua importância.
A
evolução no cenário mostra-se positiva - entre os principais destaques
nesse caminho está a equipe de pesquisadores brasileiros Luiz Pianowski,
do laboratório Kyolab e com participação decisiva do farmacólogo João
Batista Calixto da UFSC. O grupo vem estudando, já há vários anos, e com
resultados bastante promissores, o látex extraído da planta
Europhorbia tirucalli, planta conhecido no Brasil como aveloz, para o
tratamento de dor aguda ; crônica inflamatória; crônica neuropática; do
câncer; dor associada à terapia anti-câncer; dor da artrite reumatóide e
de pós-operatório. Esse fitomedicamento está sendo financiado pela
Amazonia Fitomedicamentos, e atualmente em estudos de fase clinica II.
Estudos
adicionais realizados com essa planta, permitiu a identificação de uma
nova substancia com ação analgésica, cujos os resultados obtidos nos
estudos pre-clínicos indicam grande potencial para o tratamento para dor
cônica. Esse novo composto, denominado de AM11 está sendo
desenvolvido com base em molécula isolada da planta medicinal Avelós
(Euphorbia tirucalli L). Os estudos pre-clinicos necessários para
iniciar os testes em humanos (estudos de eficácia e segurança) foram
realizados no Brasil. O estudo clinico de fase I será realizado na
Alemanha, ainda em 2012.
Pianowski
explica que entre as principais vantagens do novo analgésico estão:
trata-se de uma pequena molécula oralmente ativa, que possui ação
analgésica de longa duração e com boa tolerabilidade em estudos
pré-clínicos (toxicologia aguda e crônica em roedores e não roedores).
Além disso, sua ação analgesica não está associada com o sistema
opióide, sendo também diferente dos antiinflamatórios não esteroidais
clássicos, portanto livre dos efeitos adversos centrais, e sobre os
sistemas gastrointestinal e renal. “O AM11 mostrou-se em animais, , ação
analgésica semelhante ou superior a varias drogas analgésicas
disponíveis no mercado para o tratamento da dor.
Sobre a pesquisa
Os
pesquisadores envolvidos no estudo são Luiz Francisco Pianowski
(Kyolab), João Batista Calixto (UFSC), Jan Glinski (Plantanalitica USA) e
o Grupo CRO Harrison, de Munique, na Alemanha.
Já
no estudo de Fase I realizado com o fitomedicamento a base de aveloz, a
ação analgésica pôde ser constatada através do relato de pacientes com
câncer que relataram alívio da dor. A partir desse fitomedicamento,
varias substâncias foram isoladas e o AM 11 se mostrou o principio ativo
responsável pelos efeitos analgésicos.
Com
o AM11 purificado (com 95% de pureza) e produzido no Kyolab (mais de
1kg) foram realizados dezenas de testes para comprovar sua ação
analgésica e também os prováveis mecanismos de ação, além da segurança
do produto (toxicidade). A substância pesquisada mostrou-se inovadora no
que diz respeito ao mecanismo de ação, pois ela atua por interagir com o
sistema canabinóides, inibindo a as enzimas que degradam os
endocanabinoides, como também estimula os receptores CB1 e CB2
existentes no organismo. Importante, os estudos mostraram que o AM11 não
causa os efeitos indesejáveis dos derivados canabinoides,
principalmente aqueles relacionados com a estimulação do sistema nervoso
central. Os receptores canabinóides são assim chamados porque há muito
tempo foi descoberto que são neles que as substâncias ativas da Maconha
agem (Cannabis sativum).
Diferente
de muitos analgésicos clinicamente disponíveis no mercado, o AM11 foi
bastante eficaz quando avaliado de forma aguda, mas, principalmente,
quando administrado cronicamente atuando em diversas fases da cascata
inflamatória, e também contra o agente de hipersensibilidade induzida
por quimioterapia, ou pela dor neuropática induzida pela parcial
constrição do nervo ciático e inoculação de células de melanoma (in
vivo).
Os
dados do estudo mostram também que os mecanismos responsáveis pela ação
analgesica/antinflamatoria do AM11 estao associados com sua capacidade
de interferir com a liberação e / ou expressão de vários mediadores
inflamatórios relevantes na etiologia da dor, ou seja, citocinas,
prostaglandina E2 e tambem por inibir a experessão de algumas enzimas
importantes como a COX-2 e a proteina kinase C epsilum (PKCε). Essas
ações ocorrem através de modulação de fatores de transcrição tanto em
nivel do glangio da raiz dorsal como na medula espinhal.
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