Qual o segredo para uma vida longa e saudável em nossa sociedade? De
acordo com pesquisadores da longevidade, o caminho talvez seja agir como
se morasse em outro lugar.
A todo momento vemos novos “segredos” para viver bem e por muito
tempo surgirem. Azeite para o coração, vinho para a saúde, tofu para
viver até os 100 anos, felicidade com a alimentação da Noruega…
Os locais do mundo em que geralmente somos estimulados a copiar são
chamados de “Zonas Azuis”. Elas foram apontadas pelo explorador Dan
Buettner e uma equipe de pesquisadores da longevidade, e descritas em
seu livro “The Blue Zones: Lessons for Living Longer from the People
Who’ve Lived the Longest” (As Zonas Azuis: Lições para ter uma vida
longa, das pessoas que viveram o máximo”). Eles estiveram em regiões da
Itália, Grécia, Califórnia e Costa Rica, onde as pessoas
tradicionalmente se mantém saudáveis e alguns vivem até 100 anos ou
mais.
Similarmente, existem os “Pontos Frios”, identificados pela médica
Daphne Miller, autora do livro “The Jungle Effect”. Os pontos são cinco
áreas no México, Islândia, Grécia, Japão e Camarões, com baixos níveis
de doenças “ocidentais”, como infarto, depressão e alguns cânceres.
Todos querem viver uma vida boa e longa, mas não necessariamente ir
até a floresta buscar plantas. É difícil para várias pessoas substituir
completamente a manteiga por azeite de oliva e petiscos por castanhas.
Mas David L. Katz, diretor do Centro de Pesquisa para Prevenção de
Yale, afirma que é crucial tentar isso. “Existem projeções de que um em
cada três americanos terão diabetes em 2050”. Mensagem desesperançosa.
Então vamos olhar em alguns locais chave para entender como podemos
viver melhor.
Mulheres francesas se mantém magras comendo pequenas porções
De acordo com o best-seller “Mulheres Francesas não Engordam”, de
Mireille Guiliano, o paradoxo de como as mulheres da França conseguem
comer manteiga e gordura sem ganhar peso pode ser explicado em duas
palavras: porções menores. Elas comem porções menores de comida fresca e
de qualidade, em conjunto com um pouco de vinho rico em antioxidantes,
distribuídos por várias refeições.
Elas também têm tendência a andar ao invés de ficar tentando ir para a
academia. “Na França, elas sobem escadas. Muitos prédios são antigos e
não têm elevadores”, afirma Steven Jonas, coautor do livro “30 Secrets
of the World’s Healthiest Cuisines” (30 Segredos das Cozinhas mais
Saudáveis do Mundo).
E ainda, o preço do combustível é muito caro, o que motiva as pessoas
a caminharem. Tudo isso gera um índice feminino de doenças cardíacas e
obesidade baixo (12%, comparado a 36% dos EUA).
Se você não tem tempo para comer várias vezes ao longo do dia, Jonas
dá a solução: “Mesmo que rápida, uma refeição em casa com ingredientes
integrais é melhor do que ir a um restaurante com porções grandes e
calorias vazias”.
Escandinávia: da fazenda para a mesa
A tradição culinária do norte europeu é comer o que você – ou alguém
próximo – plantou ou produziu. As palavras chave são local e frescor. Os
nórdicos comem peixe rico em Omega-3, assim como alces e aves
selvagens, que tendem a ser mais magras do que as de criação.
O estilo de vida dessas pessoas produz um nível de obesidade baixo, menor do que 8% em alguns países.
Apesar da falta de luminosidade, as pessoas da Islândia e a Escandinávia
sofrem menos depressão do que os americanos, provavelmente por causa do
estilo de vida.
Na Escandinávia, existe também exercício físico na produção de
comida. “Eles gastam energia produzindo e colhendo”, explica o cientista
nutricional Amy Lanou. “Mas isso não é viável em muitas regiões da
América”.
Se ter uma plantação própria no quintal não é possível para você, uma
simples viagem para uma fazenda ou campo pode conectá-lo com a comida e
o exercício.
As conexões japonesas de valor familiar
A região japonesa de Okinawa é conhecida por ter a maior concentração
de pessoas centenárias do mundo. Comparada com os EUA, eles têm 80% a
menos de casos de morte por câncer de mama e menos da metade por câncer
de ovário e cólon. As taxas de demência e doença cardíaca também são
menores.
Como eles fazem isso? Em Okinawa, as pessoas praticam hara hachi bu –
comer até estar 80% cheio. Um estilo de vida espiritual, que inclui
meditação e orações, parece reduzir o stress – o que também parece
reduzir as doenças relacionadas. Os baixos índices de câncer são
creditados a uma dieta rica em fibras, arroz, soja, vegetais, frutas,
peixe rico em Omega-3, e uma pequena porção de laticínios e carne.
Também fundamental é o senso de conexão e comunidade. “Nas Zonas
Azuis como Okinawa, há um forte apoio social, laços familiares, e um
valor agregado em continuar a estar ativo na sociedade com 80, 90 e 100
anos”, explica Buettner. “A ideia de comunhão é importante para reduzir o
stress, o risco de doenças e para a longevidade”.
Gorduras boas levam a vidas longas no Mediterrâneo
A tão falada dieta mediterrânea já foi relacionada a uma vida mais
longa e menor risco de doença cardíaca, diabetes, obesidade, câncer,
Parkinson e Alzheimer. A dieta inclui gorduras boas (azeite de oliva,
castanhas, peixe), proteínas magras, frutas ricas em antioxidantes e
vegetais, e uma pequena quantidade de vinho.
Claro, tudo funciona quando se diz “basta”. “Comer como um italiano
não significa mergulhar em um prato infinito de massa”, adiciona
Buettner. “Em Zonas Azuis como a ilha de Ikaria, na Grécia, você vai
encontrar famílias grandes que cozinham sua própria comida. E tem mais,
exercício é parte da vida diária – não algo a ser sofrido durante a
academia”.
7 coisas para começar a fazer hoje
Buettner está viajando de ônibus, na esperança de transformar as
cidades americanas em Zonas Azuis. “Mais de 40% dos americanos fumavam
nos anos 60, e apenas 20% fumam hoje”, aponta. “Nós podemos modificar
nossa dieta e estilo de vida, também”.
“Em todas as Zonas Azuis eles comem menos do que nós, pelo menos 20%”, afirma Buettner.
1. Uma dica para diminuir as porções: “Ao invés de colocar travessas
grandes de comida no centro da mesa, preencha travessas secundárias”.
2. E sempre se lembre das plantas. As dietas ricas em vegetais não
são apenas ricas em antioxidantes e outros nutrientes importantes, mas
também interessantes para a sua aparência. “Um prato de comida em
Okinawa tem um quinto da densidade calórica de uma refeição tipicamente
americana. Você pode cortar para uma fração das calorias”, afirma
Buettner. Ele também sugere que se veja a carne como um extra, ao invés
de principal, e adicionar grãos, legumes e castanhas.
3. Aprenda a amar a comida que te ama. Uma dieta de comida crua,
vegetais e tofu parece bem estranha para nós, mas o gosto pode ser
treinado. “Os americanos adoram gordura, sal e açúcar porque estamos
acostumados com isso”, comenta Katz. “Mas estudos mostram que se você
come mais alimentos integrais você aprende a preferir eles”.
Uma boa maneira de começar: procure pelos açúcares dissimulados,
encontrados em muita comida pré-pronta. “Uma vez que você se livra
disso, você vai preferir comidas menos açucaradas”, afirma Katz.
4. Sente-se e relaxe. Talvez seja pedir demais que você cozinhe todas
as refeições. Mas você ainda pode comer como os franceses: alongue suas
refeições em pelo menos 20 minutos. Você vai acabar comendo menos e
aproveitando mais.
5. Levante-se. “As pessoas que vivem bastante não encaram o exercício
físico como um sofrimento”, comenta Buettner. Pelo contrário, um pouco
de movimento é uma parte constante na vida diária. Faça uma caminhada
após a janta. Use menos o carro e o elevador.
6. Saia e divirta-se. Toda Zona Azul é conhecida pela vida social e
familiar forte. Passe tempo com a família e se cerce de amigos com
estilo de vida saudável – hábitos bons são contagiosos. Buettner também
sugere que você se envolva com a comunidade, seja uma igreja, um grupo
de arte ou organização voluntária; essas conexões podem adicionar anos
para sua vida.
7. Fique tranquilo. Mesmo as pessoas mais saudáveis ficam estressadas
algumas vezes. Mas o que elas têm, comenta Buettner, são estratégias
diárias pare reduzir o stress. Medite, vá correr, jante com seu melhor
amigo.
Não tem problema aproveitar um hambúrguer ocasional. O que importa é
um padrão de vida cumulativo de aproveitar comida saudável, conexão com
outros e se manter em movimento. E assim você pode planejar chegar aos
100 anos na Zona Azul brasileira. [CNN, Foto]
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