Criei este Blog para minha Mãe Cigana Rainha do Oriente, sendo uma forma de homenageá-la, bem como postar assuntos atuais e de caráter edificante, lindas mensagens, poesias de luz, também aqui brindemos á amizade verdadeira e elevemos o principal em nós ou seja a essência Divina, Deus e a Espiritualidade em geral.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

OS CIENTISTAS DA NOVA ERA-Fritjof Capra e o Tao da Física-A Teia da vida e a sabedoria incomun-Trigésima quarta parte



fritjof capra
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“Uma verdadeira ciência da consciência ocupar-se-á mais com qualidades do que com quantidades, e basear-se-á mais na experiência compartilhada do que nas medições verificáveis. Os tipos de experiência que constituem os dados de tal ciência não podem ser quantificados ou analisados em seus elementos fundamentais, sendo sempre subjetivos, em graus variáveis”~A TEIA DA VIDA-Fritjof Capra
UMA BREVE BIOGRAFIA
Doutor em Física, cientista, ambientalista, educador e ativista: este é Fritjof Capra, austríaco que escreveuO Tao da Física, O Ponto de Mutação, A Teia da Vida, As Conexões Ocultas, dentre outros livros que abordam temas relacionados à ecologia e sustentabilidade, reconhecendo esta última como sendo a conseqüência de um padrão complexo que envolve a interdependência, reciclagem, parceria, flexibilidade e diversidade.Capra defende que as sociedades urbanas, assim como os ecossistemas – ambos sistemas vivos que contém os mesmos princípios de organização – podem alcançar a sustentabilidade. Ele pontua que em qualquer sistema vivo há relações de interdependência entre seus componentes, de cooperação generalizada, de reciclagem da matéria, tendendo sempre ao equilíbrio, mas que, no entanto, nossa economia e nosso sistema industrial são lineares. Assim, para reverter este quadro, ele acredita que deve haver uma mudança de paradigmas, concebendo o mundo como um todo integrado, um conjunto de sistemas interconectados, e não como uma coleção de partes dissociadas.Capra defende a agricultura orgânica; o uso de partículas de hidrogênio como combustível, em detrimento dos de origem fóssil; o eco-design; a mudança do nosso sistema de impostos, fazendo com que estes sejam proporcionais ao gasto de energia e matéria prima; a educação de qualidade; e o uso da internet como ponte para mobilização e informação.Sobre nosso país, Capra diz que precisamos investir na energia solar e desenvolver técnicas agrícolas que respeitem a saúde do solo, como as rotações de cultura e agroecologia. Para ele, estas últimas medidas, empregando muitas pessoas em pequenas propriedades, resolveriam problemas relacionados ao êxodo rural.

O desenvolvimento sustentável seria insustentável?

 No próximo Milênio, a importância da consciência ecológica para transformar a forma como entendemos o crescimento econômico; entrevista  com o físico e ativista ambiental Fritjof Capra,para a  Globo News.
No último século, ocorreu uma aproximação gradual do capitalismo com a profunda dependência de combustíveis fósseis, com uma noção de crescimento linear e com mercados financeiros desregulados e afastados de qualquer noção de ética. A resposta a isso veio em várias frentes. Nos últimos 40 anos, o Relatório Bruntland da ONU lançou as bases do conceito de desenvolvimento sustentável e a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, em 1992, aprofundou a busca por uma relação mais saudável com o planeta que habitamos. Outras iniciativas aconteceram, mas Fritjof Capra ressalta que “a corrupção é tão sistêmica que, por meio de contribuições financeiras, a indústria dos combustíveis fósseis corta toda a discussão sobre uma política climática.”Capra lançou o livro o Tao da Física em 1975 e, desde então, virou um dos gurus do ativismo ambiental. Criou, em 1994, uma organização para educação ambiental das crianças. Ensina a importância da consciência ecológica e promove o contato dos jovens com a natureza. Voz ativa na busca por uma mudança em nossa relação com o planeta, critica o desenvolvimento sustentável por ser uma contradição. Não podemos pensar em crescimento no sentido econômico – infinito e linear – em um mundo de recursos finitos. A solução seria um desenvolvimento qualitativo que respeitasse a vida e a não-linearidade dos processos na natureza. Segundo ele, “o que é sustentável em uma sociedade sustentável não é o crescimento econômico ou fatias de mercado, mas é a rede da vida, da qual a nossa vida depende.”
O TAO DA FÍSICA -Uma exploração dos paralelos entre a física moderna e o misticismo oriental~Por Fritjof Capra
A física moderna nos conduz a uma visão do mundo similar às sustentadas pelos místicos de todos os tempos e tradições. As tradições místicas estão presentes em todas as religiões, tal como os elementos místicos se podem encontrar em muitas escolas da filosofia ocidental.Os paralelos com a física moderna aparecem não só nos Vedas do hinduísmo,nos I Ching ou nos Sutras budistas, mas também nos fragmentos de Heráclito, no Sofismo de Ibn Arabi, ou nas lições do mágico de Yaqui, Don Juan. A diferença entre o misticismo oriental e ocidental é que as escolas místicas sempre tiveram um papel marginal no Ocidente, considerando que constituem o veículo principal do pensamento filosófico e religioso oriental. Se a física nos conduz actualmente a uma visão do mundo essencialmente mística, retrocede, de certo modo, aos seus primórdios de há 2500 anos.É interessante seguir a evolução da ciência ocidental ao longo do seu caminho em espiral, desde as filosofias místicas do dealbar grego, progredindo e cimentando um impressivo desenvolvimento do pensamento intelectual, sucessivamente desligado das suas origens místicas para desenvolver uma visão do mundo em nítido contraste com a do Extremo Oriente. Nos seus mais recentes desenvolvimentos a ciência ocidental ultrapassou finalmente esta visão, e retomou os antigos gregos e a filosofia oriental. Este retomo não é, no entanto, intuitivo, mas baseado em experiências sofisticadas e de grande precisão, e num rigoroso e consistente formalismo matemático.
A GRÉCIA ANTIGA E A FÍSICA
O termo «físico» provém deste mundo grego e significava, portanto, originariamente, a tentativa de ver a essência das coisas.Este é, óbviamente, o objetivo central de todos os místicos, e a filosofia da escola deTales de Mileto teve, de fato, um acentuado “perfume místico”. Os milésios eram apelidos pelos gregos posteriore de hilozoístas,(ou aqueles que concebem na matéria dotada de vida), porque não distínguiam entre animado e inanimado/espírito.Com efeito, nem sequer concebiam um mundo de matéria,já que encaravam todas as formas de existência como manifestações da «física», dotada de vida e espiritualidade. Deste modo, declarou Tales estarem todas as coisas animadas por deuses, e Anaximandro viu o universo como uma espécie de organismo sustentado pela respiração cósmica, do mesmo modo que o corpo humano é sustentado pelo ar.A visão monística e orgânica dos milésios era muito aproximada à da antiga filosofia indiana e chinesa, e os paralelos com o pensamento oriental são
ainda mais fortes na filosofia de Heráclito de Éfeso. Heráclito acreditava num mundo de contínua mudança, de eterno devir. Para ele, todo o ser estático se fundava na decepção, e o seu princípio fundamental era o fogo, um símbolo do contínuo fluir e mudança de todas as coisas. Heraclito ensinou que todas as mudanças no mundo provêm da conjugação dinâmica e cíclica dos opostos, e concebia qualquer par de opostos como uma unidade, (á esta unidade, que contém e transcende todas
as forças opostas, chamava o Cogos. )A ruptura desta unidade começou com a escola de Eleia, que sustentou um Princípio Divino estável acima dos deuses e dos homens. Este princípio foi inicialmente identificado com a unidade do universo, mas foi encarado como”um Deus inteligente e personalizado, que permanece acima do mundo  e que comanda”.Assim começou uma tendência de pensamento de que resultou na separação entre espírito e matéria, e o dualismo que se tomou característica da filosofia ocidental.
Consolidada a idéia da visão entre espírito e matéria, os filósofos concentraram a sua atenção no mundo espiritual, mais que no material, na alma humana e nos problemas éticos. Estas questões ocupariam o pensamento ocidental durante mais de dois mil anos depois do apogeu da ciência e cultura grega nos
séculos V e IV a.C. O conhecimento científico da antiguidade foi sistematizado e organizado por Aristóteles, criador do esquema que se tomou a base da visão ocidental do universo por dois mil anos. Mas mesmo Aristóteles acreditava que as questões concernentes à alma humana e à contemplação da perfeição divina eram sinais importantes que as investigações do mundo material. A razão pela qual o
modelo aristotélico do universo permaneceu inalterado durante tanto tempo foi precisamente esta falta de interesse no mundo material, bem como o forte apoio da Igreja Cristã que sustentou, na Idade Média, as teses de Aristóteles. Novos desenvolvimentos da ciência ocidental teriam de esperar até o
Renascimento, quando os homens se começaram a libertar da influência de Aristóteles e da Igreja, bem como a mostrar um renovado interesse na natureza. No  fim do século XV, o estudo da natureza foi, pela primeira vez, procurado num verdadeiro espírito científico, e foram efetuadas experiências para testar as idéias teóricas. Por ser este desenvolvimento paralelo a um interesse crescente na matemática, conduziu por fim à formulação de teorias científicas corretas,baseadas na experiência e expressas em linguagem matemática. Galileu foi o primeiro a combinar conhecimento empírico com matemática, e é portanto considerado o pai da ciência moderna.
1O nascimento da ciência moderna foi precedido e acompanhado por um desenvolvimento do pensamento filosófico que conduziu a uma formulação extrema do dualismo espírito-matéria. Esta formulação apareceu no século XVI na filosofia de René Descartes, que fundava a sua visão da natureza numa divisão fundamental em dois domínios separados e independentes: o da mente (res cogitans)
e o da matéria (ires extensa).A divisão «cartesiana» permitiu aos cientistas tratar a matéria como morta, e completamente separada de si próprios, e ver o mundo material como uma multiplicidade de objetos diferentes, reunidos numa máquina imensa. Esta visão mecanicista do mundo foi sustentada por Isaac Newton que construiu a sua mecânica naquela base e a tomou o alicerce da física clássica. Da segunda metade do século XVII ao final do século XIX, o modelo mecanicista newtoniano do universo dominou todo o pensamento científico. Foi comparado à imagem de um deus monárquico que regulava o mundo de cima,impondo nele as suas regras divinas. As leis fundamentais da natureza procuradas pelos cientistas eram então como leis de Deus, invariáveis e eternas, às quais o mundo estava submetido.A filosofia de Descartes foi não só importante para o desenvolvimento da física clássica como teve, também, uma tremenda influência na maneira ocidental, em geral, de pensar, até aos nossos dias. A famosa afirmação cartesiana;«Cagito ergo sum» — «Penso, logo existo» — levou os ocidentais a equivaler sua identidade com a sua mente, em lugar de com todo o seu organismo.Comoconsequência da divisão cartesiana, muitos indivíduos concebem-se como«egos» isolados existindo «dentro» dos seus corpos. A mente tem sido separada do corpo e caracterizada pela fútil tarefa de o controlar, assim se causando um conflito aparente entre a vontade consciente e os instintos involuntários.Cada indivíduo tem sido cada vez mais considerados como um grande número de compartimentos separados,de acordo com as suas atividades, talentos, sentimentos,crenças, etc.,gerando intermináveis e contínuas confusões e frustrações.
O PADRÃO QUE UNE~Por Fritjof Capra
O tao da física foi publicado no final de 1975, sendo recebido com grande entusiasmo na Inglaterra e nos Estados Unidos e gerando um enorme interesse pela “nova física” entre as mais variadas pessoas. Uma decorrência desse enorme interesse foi o fato de que passei a viajar constantemente, proferindo palestras para platéias leigas e especializadas, e discutindo com homens e mulheres de todos os ramos e profissões os conceitos da física moderna e suas implicações. Nessas palestras, pessoas das mais variadas disciplinas com freqüência me diziam que uma mudança na visão de mundo, à semelhança do que ocorria na física, também vinha se processando em seus campos e que muitos dos problemas que deparavam em suas disciplinas estavam, de alguma forma, ligados às limitações da visão de mundo mecanicista. Essas discussões me levaram a examinar mais de perto a influência do paradigma newtoniano sobre vários campos do conhecimento, e no início de 1977 eu pretendia escrever um livro sobre o assunto com o título provisório de Beyond the mechanistic world view (“Além da visão mecanicista de mundo”). Só mais tarde vim a compreender o papel primordial de Descartes no desenvolvimento da visão mecanicista de mundo, adotando então o termo “paradigma cartesiano”. A idéia básica desse livro seria a de que todas as nossas ciências — as ciências naturais e também as humanas e sociais — estariam fundamentadas na visão de mundo mecanicista da física newtoniana; que as graves limitações dessa visão de mundo estavam agora tornando-se evidentes; e que cientistas de diversas disciplinas seriam, portanto, forçados a ir além da visão mecanicista, como ocorrera conosco na física. Na realidade, eu concebia a nova física — a estrutura conceitual abrangendo a teoria quântica, a teoria da relatividade e especialmente a física bootstrap — como o modelo ideal para os novos conceitos e as novas abordagens das outras disciplinas. Esse raciocínio continha uma grave falha, que só fui percebendo aos poucos e que levei muito tempo para superar. Ao apresentar a nova física como modelo para uma nova medicina, uma nova psicologia ou uma nova ciência social, caíra na mesma armadilha cartesiana que gostaria que os cientistas evitassem. Descartes, como eu viria a aprender mais tarde, usou a metáfora de uma árvore para representar o conhecimento humano; suas raízes eram a metafísica, o tronco, a física, e os ramos e galhos, todas as outras ciências. Sem saber, eu adotara essa metáfora cartesiana como o princípio norteador de minha investigação. O tronco de minha árvore não era mais a física newtoniana, porém eu ainda via a física como o modelo para as outras ciências e, portanto, supunha que os fenômenos físicos fossem de alguma forma a realidade primordial e a base para todo o resto. Não que eu acreditasse nisso explicitamente, mas essas idéias estavam implícitas quando propus a nova física como modelo para as outras ciências. Com o passar dos anos, meus pensamentos e percepções sobre esse assunto sofreram uma profunda transformação, e no livro que por fim escrevi, O ponto de mutação, não mais apresentei a nova física como modelo para as outras ciências, e sim como um importante caso especial de uma estrutura muito mais geral, a estrutura da teoria dos sistemas. A importante passagem de meu pensamento do “raciocínio físico” para o “raciocínio sistêmico” ocorreu gradualmente, e resultou de muitas influências. Mais que tudo, porém, foi a influência de uma só pessoa, Gregory Bateson, que modificou minhas perspectivas. Pouco depois de nos conhecermos, Bateson comentou brincando com um amigo comum: “Capra? Esse cara é maluco! Pensa que somos todos elétrons”. Esse comentário foi a sacudidela inicial, e meus encontros subseqüentes com Bateson nos dois anos seguintes modificaram profundamente meu pensamento, fornecendo-me os elementos-chave para uma visão radicalmente nova da natureza, que vim a chamar de “visão sistêmica da vida”. Gregory Bateson será considerado um dos pensadores mais influentes de nossa época por historiadores futuros. A singularidade de seu pensamento decorre de sua amplitude e generalidade. Numa época caracterizada pela fragmentação e pela sua especialização, Bateson desafiou os pressupostos básicos e os métodos das várias ciências ao buscar os padrões que se articulam por trás dos padrões e os processos subjacentes às estruturas. Ele declarou que a relação deveria ser a base para toda definição, e sua meta principal seria a de descobrir os princípios de organização em todos os fenômenos que observava, “o padrão que une”, como ele diria.
PARALELOS ENTRE A FÍSICA E O MISTICISMO~Por Fritjof Capra
Ao travar meu primeiro contato com as tradições do Oriente, descobri paralelos entre a física moderna e o misticismo oriental quase que imediatamente. Lembro-me de haver lido em Paris um livro francês sobre o zen-budismo, por meio do qual fiquei conhecendo pela primeira vez o importante papel do paradoxo nas tradições místicas. Aprendi que os mestres espirituais do Oriente não raro recorrem, com grande habilidade, a enigmas paradoxais para fazer seus estudantes perceberem as limitações da lógica e do uso da razão. A tradição zen, em particular, desenvolveu um sistema de instruções não-verbais que utiliza enigmas à primeira vista sem sentido, chamados “koans”, que não podem ser resolvidos pelo raciocínio. Eles visam precisamente interromper o processo de pensamento, preparando assim o estudante para uma experiência não-verbal da realidade. Li que todos os koans têm soluções mais ou menos peculiares que um mestre competente logo reconhece. Uma vez encontrada a solução, o koan deixa de ser paradoxal e torna-se uma asserção muito significativa, feita a partir do estado de consciência que ele próprio ajudou a despertar. Quando li pela primeira vez a respeito do método dos koans no treinamento zen, senti algo estranhamente familiar. Eu passara muitos anos estudando outro tipo de paradoxo que parecia desempenhar papel semelhante no treinamento dos físicos. Havia diferenças, é claro. A minha própria formação como físico com certeza não tinha a mesma intensidade de um treinamento zen. Lembrei-me do relato de Heisenberg sobre o modo como os físicos dos anos 20 vivenciaram os paradoxos quânticos, esforçando-se para compreender uma situação onde o único mestre era a natureza. O paralelo mostrou-se óbvio e fascinante, e posteriormente, quando já havia aprendido mais sobre o zen-budismo, verifiquei que era de fato muito significativo. Como no zen, as soluções dos problemas dos físicos permaneciam ocultas em paradoxos que não podiam ser resolvidos pelo raciocínio lógico, mas apenas entendidos em termos de uma nova capacidade perceptiva que incorporasse a realidade atômica. Os físicos só tinham a natureza para lhes ensinar. E ela, como os mestres do zen-budismo, não afirmava nada; apenas apresentava os enigmas.
A similaridade entre as experiência dos físicos quânticos e dos zen-budistas marcou-me profundamente. Todas as descrições do método koan enfatizam que a resolução de tal enigma exige um esforço supremo de concentração e de envolvimento da parte do estudante. O koan, diz-se, toma conta do coração e da mente do aluno, criando um verdadeiro impasse mental, um estado de tensão constante em que o universo inteiro se torna uma enorme massa de dúvidas e indagações. Quando comparei essa descrição com aquela passagem do livro de Heisenberg, de que eu me lembrava tão bem, tive a nítida sensação de que os fundadores da teoria quântica vivenciaram exatamente a mesma situação: “Lembro-me de discussões com Bohr que se prolongavam por muitas horas, até alta madrugada, e terminavam num estado que beirava o desespero. E quando, ao final de uma discussão, eu saía sozinho para passear num parque das redondezas, ficava me perguntando sem parar: ‘Pode a natureza ser assim tão absurda quanto nos parece em nossos experimentos atômicos?’“ Tempos depois, eu também vim a compreender por que os físicos quânticos e os místicos orientais depararam com problemas semelhantes e passaram por experiências semelhantes. Sempre que a natureza essencial das coisas é analisada pelo intelecto, ela parecerá absurda ou paradoxal. Isso foi sempre reconhecido pelos místicos, mas só muito recentemente tornou-se um problema para a ciência. Durante séculos, os fenômenos estudados pela ciência faziam parte do mundo cotidiano dos cientistas e, portanto, pertenciam ao domínio da sua experiência sensorial. Como as imagens e conceitos da linguagem que usavam provinham exatamente dessa experiência dos sentidos, eles eram suficientes e adequados para descrever os fenômenos naturais. No século XX, contudo, os físicos penetraram a fundo no mundo submicroscópico, em regiões da natureza muito afastadas do mundo macroscópico em que vivemos. O nosso conhecimento da matéria nesse nível já não provém da experiência sensorial direta; em conseqüência, a linguagem comum já não é mais adequada para descrever os fenômenos observados. Os físicos nucleares proporcionaram aos cientistas os primeiros vislumbres da natureza essencial das coisas.Como os místicos, os físicos passaram a lidar com experiências não-sensoriais da realidade e, também como eles, tiveram de enfrentar os aspectos paradoxais dessas experiências. A partir desse momento, os modelos e as imagens da física moderna tornaram-se vinculados aos da filosofia oriental. A descoberta do paralelismo entre os koans do zen e os paradoxos da física quântica, que eu mais tarde chamaria de “koans quânticos”, estimularam muito meu interesse pelo misticismo oriental, aguçando minha atenção.

Entrevista exclusiva com o físico e ambientalista Fritjof Capra, considerado um dos mais renomados-legendado em português

Autor de “O Tao da Física” e” A Teia da Vida”, Capra é também um dos fundadores do Centro de Eco-Alfabetização, na Califórnia, Estados Unidos, onde promove a divulgação do pensamento ecológico nas redes de ensino.TV Cultura
Nos anos seguintes, à medida que me envolvia mais na espiritualidade oriental, deparava repetidas vezes com conceitos que me eram relativamente familiares em virtude de minha formação em física atômica e subatômica. A princípio, a descoberta dessas similaridades não foi muito mais que um exercício intelectual, ainda que muito emocionante. Mas ao entardecer de um dia de verão de 1969, vivi uma poderosa experiência que me fez levar os paralelos entre a física e o misticismo muito mais a sério. A melhor descrição dessa experiência é a que está na página inicial de O tao da física: “Eu estava sentado na praia, ao cair de uma tarde de verão, e observava o movimento das ondas, sentindo ao mesmo tempo o ritmo da respiração. Nesse momento, de súbito, me apercebi intensamente do ambiente que me cercava: este se me afigurava como se participasse de uma gigantesca dança cósmica. Como físico, eu sabia que a areia, as rochas, a água e o ar a meu redor eram feitos de moléculas e átomos em vibração, e que tais moléculas e átomos, por seu turno, consistiam em partículas que interagiam entre si por meio da criação e da destruição de outras partículas. Sabia do mesmo modo que a atmosfera da Terra era permanentemente bombardeada por chuvas de ‘raios cósmicos’, partículas de alta energia que sofriam múltiplas colisões à medida que penetravam na atmosfera. Tudo isso me era familiar em razão de minha pesquisa em física de alta energia; até aquele momento, porém, tudo isso me chegara apenas por intermédio de gráficos, diagramas e teorias matemáticas. Sentado na praia, senti que minhas experiências anteriores adquiriam vida. Assim, ‘vi’ cascatas de energia cósmica, provenientes do espaço exterior, cascatas em que, com pulsações rítmicas, partículas eram criadas e destruídas. ‘Vi’ os átomos dos elementos — bem como aqueles pertencentes a meu próprio corpo — participarem dessa dança cósmica de energia. Senti o seu ritmo e ‘ouvi’ o seu som. Nesse momento compreendi que se tratava da Dança de Xiva, o deus dos dançarinos, adorado pelos hindus”.
O ENCONTRO COM O TAO
Nos anos 60, eu experimentara diversas técnicas de meditação e lera vários livros sobre o misticismo oriental sem de fato me dispor a seguir qualquer um de seus caminhos. Mas agora, estudando as tradições do Oriente com mais cuidado, senti-me particularmente atraído pelo taoísmo. Dentre as grandes tradições espirituais, o taoísmo oferece, a meu ver, as mais belas e profundas expressões de uma sabedoria ecológica, enfatizando a unicidade fundamental de todos os fenômenos e a imersão de todas as pessoas e sociedades nos processos cíclicos da natureza. Diz Chuang-Tzu: “Na transformação e crescimento de todas as coisas, cada broto e cada atributo têm sua forma própria. Nisso temos a sua maturação e corrupção graduais, o constante fluir da transformação e da mudança”. E Huai-Nan-Tzu: “Aqueles que seguem a ordem natural fluem na corrente do tao”. Os sábios taoístas concentravam toda a atenção na observação da natureza, a fim de discernir os “atributos do tao”. Assim, desenvolveram uma atitude que é em essência científica apenas sua profunda desconfiança acerca do método analítico de raciocionar,o que impediu-os de formular teorias científicas propriamente ditas. Não obstante, sua meticulosa observação da natureza, associada a uma forte intuição mística, levou-os a percepções profundas que são hoje confirmadas pelas teorias científicas modernas. A profunda sabedoria ecológica, a abordagem empírica e o tom especial do taoísmo — que eu talvez pudesse descrever melhor como “êxtase sereno” — eram-me tremendamente atraentes, de modo que o taoísmo, de forma bastante natural, tornou-se para mim o caminho a ser seguido.
Castañeda também exerceu forte influência sobre mim naqueles anos, e seus livros mostraram-me mais uma maneira de abordar os ensinamentos espirituais do Oriente. Constatei que os ensinamentos das tradições Índias americanas, expressos pelo lendário brujo yaqui Don Juan, estão muito próximos aos da tradição taoísta transmitidos pelos lendários sábios Lao-Tse e Chuang-Tzu. O saber-se imerso no fluir natural das coisas e a habilidade de agir em harmonia com isso são fundamentais em ambas as tradições.Enquanto o sábio taoísta flui na corrente do Tao, o “homem de sabedoria” yaqui tem de ser leve e fluido para “enxergar” a natureza essencial das coisas. O taoísmo e o budismo sao tradições que lidam com a própria essência da espiritualidade, que não é restrita a nenhuma cultura em particular. O budismo, em especial, tem mostrado em toda a sua história ser adaptável a diversas situações culturais; Ele se originou com o Buda na Índia, espalhou-se pela China e sudoeste da Ásia, chegou ao Japão e, muitos séculos depois, atravessou o Pacífico, desembarcando na Califórnia. A influência mais forte da tradição budista sobre o meu pensamento foi sua ênfase no papel vital da compaixão para se obter sabedoria. De acordo com o pensamento budista, não pode haver sabedoria sem compaixão, o que para mim significa que a ciência não tem valor se não for acompanhada de preocupação social. O PONTO DE MUTAÇÃO~Fritjof Capra
Como o nosso atual estado de desequilíbrio é, em grande parte, uma conseqüência do crescimento indiferenciado, a questão de escala desempenhará um papel central na reorganização de nossas estruturas econômicas e sociais. O critério de escala tem que ser a comparação com as dimensões humanas. O que é vasto, rápido ou congestionado demais, em comparação com as dimensões humanas, é grande demais. As pessoas que têm de lidar com estruturas, organizações ou empresas de dimensões tão inumanas sentir-se-ão invariavelmente ameaçadas, alienadas, oprimidas, despojadas de sua individualidade, e isso afetará de modo muito significativo a qualidade de sua vida. A importância da escala está ficando cada vez mais evidente, até de um ponto de vista estritamente econômico, na medida em que um número cada vez maior de grandes empresas é prejudicado por uma excessiva centralização e por vulnerabilidade de tecnologias complexas, interligadas. No processo de descentralização, muitas das grandes companhias norteamericanas, obsoletas, consumidoras vorazes de recursos, terão forçosamente que passar por transformações profundas e, em alguns casos, fechar as portas. Em todas essas considerações, a tarefa mais importante será atingir o equilíbrio. Nem tudo precisa ser descentralizado. Alguns grandes sistemas, como a telefonia e outros sistemas de comunicação, devem ser mantidos; outros, como o transporte de massa, precisam crescer. Mas todo esse crescimento deve ser limitado, mantendo-se um equilíbrio dinâmico entre crescimento e declínio, para que o sistema como um todo permaneça flexível e aberto a mudanças.
Entre os muitos exemplos de crescimento excessivo, a expansão das cidades é  uma das maiores ameaças ao equilíbrio social e ecológico; a desurbanização será, portanto, um aspecto crucial do retorno a uma escala mais humana. Numerosas pesquisas de opinião mostraram que apenas uma pequena minoria de habitantes citadinos vive na metrópole porque gosta. A maioria esmagadora prefere as pequenas cidades do interior, as áreas residenciais suburbanas ou as fazendas, mas não dispõe de meios para isso. O que precisamos fazer, portanto, é refrear o crescimento das cidades, criar incentivos econômicos adequados, tecnologias e programas de assistência que permitam às pessoas que assim o desejem passar da vida urbana para a rural.
Considerações análogas são aplicáveis à descentralização do poder político.
Durante a segunda metade do século passado, tornou-se cada vez mais evidente que a nação-Estado já não é viável como unidade eficaz de governo. É grande demais para os problemas de suas populações locais e, ao mesmo tempo, confinada por conceitos excessivamente estreitos para os problemas de interdependência global. Os governos nacionais altamente centralizados de hoje não são capazes de atuar localmente nem de pensar globalmente. Assim, a descentralização política e o desenvolvimento regional tornaram-se necessidades urgentes de todos os grandes países. Essa descentralização do poder econômico e político terá de incluir a redistribuição da produção e da riqueza, para que haja um equilíbrio entre alimentos e populações dentro dos países e entre as nações industriais e o Terceiro Mundo. Finalmente, no nível planetário, o reconhecimento de que não podemos “gerir” o planeta, mas temos que nos integrar harmoniosamente em seus múltiplos sistemas auto-organizadores, exige uma nova ética planetária e novas formas de organização política.
UM RETORNO AO PASSADO?
Regressar a uma escala mais humana não significará um retorno ao passado, mas exigirá, pelo contrário, o desenvolvimento de novas e engenhosas formas de tecnologia e organização social. Grande parte de nossa tecnologia convencional, consumidora intensiva de recursos e altamente centralizada, é hoje obsoleta. Energia nuclear, carros de alto consumo de gasolina, agricultura subsidiada pelo petróleo, instrumentos computadorizados de diagnóstico e muitos outros empreendimentos de alta tecnologia são antiecológicos, inflacionários e perniciosos para a saúde.Embora essas tecnologias envolvam freqüentemente as mais recentes descobertas na eletrônica, na química e outros campos da ciência moderna, o contexto em que são desenvolvidas e aplicadas é o da concepção cartesiana da realidade. Elas devem ser substituídas por  novas formas de tecnologia, que incorporem princípios ecológicos e sejam compatíveis com o novo sistema de valores. Muitas dessas tecnologias alternativas já estão sendo desenvolvidas. Tendem a ser descentralizadas e a operar em pequena escala, a ser sensíveis às condições locais e planejadas para aumentar a auto-suficiência, propiciando, assim, um grau máximo de flexibilidade. São freqüentemente qualificadas de tecnologias brandas, porque seu impacto sobre o meio ambiente é substancialmente reduzido pelo uso de recursos renováveis e por uma constante reciclagem de materiais. Coletores de energia solar, geradores eólicos, lavoura orgânica, produção e processamento regional e local de alimentos, e reciclagem de produtos residuais, são exemplos de tais tecnologias brandas. Em vez de se basearem nos princípios e valores da ciência cartesiana, elas incorporam os princípios observados nos ecossistemas naturais; refletem, pois, a sabedoria sistêmica.
TECNOLOGIA X HUMANIDADE
Tal redirecionamento da tecnologia oferece enormes oportunidades para a criatividade, o espírito empreendedor e a iniciativa da humanidade. As novas tecnologias não são, em absoluto, menos sofisticadas do que as antigas, mas seu refinamento é de uma espécie diferente. Aumentar a complexidade deixando simplesmente que tudo cresça não é difícil, mas recuperar elegância e flexibilidade requer sabedoria e visão criativa. À medida que os nossos recursos físicos se tornam mais escassos, também se evidencia que devemos investir mais nas pessoas — o único recurso que possuímos em abundância. Com efeito, a consciência ecológica torna óbvio que temos de conservar nossos recursos físicos e desenvolver nossos recursos humanos. Em outras palavras, o equilíbrio ecológico requer o pleno emprego. É isso, precisamente, o que novas tecnologias facilitam. Operando em pequena escala e sendo descentralizadas, elas tendem a se tornar consumidoras intensivas de mão-de-obra, ajudando, portanto, a estabelecer um sistema econômico não-inflacionário e ambientalmente benigno. A mudança de tecnologias pesadas para brandas é mais urgentemente necessária nas áreas relacionadas com a produção de energia. Como foi enfatizado num capítulo anterior22, as raízes mais profundas de nossa atual crise energética situam-se nos modelos de produção e consumo perdulário que se tornaram característicos de nossa sociedade. Para resolver a crise não necessitamos de mais energia, o que apenas agravaria nossos problemas, mas de profundas mudanças em nossos valores, atitudes e estilos de vida. Entretanto, ao mesmo tempo em que perseguimos essa meta a longo prazo, também precisamos mudar nossa produção de energia dos recursos não-renováveis para os renováveis, e das tecnologias pesadas para as brandas, a fim de alcançarmos o equilíbrio ecológico. A política energética da maioria dos países industrializados reflete o que Amory Lovins, físico e consultor energético de numerosas organizações, chamou o “caminho da energia pesada” (hard energy path), em que a energia é produzida a partir de recursos não-renováveis — petróleo, gás natural, carvão e urânio — por meio de tecnologias altamente centralizadas, que são rigidamente programadas, antieconômicas e nocivas à saúde. A energia nuclear é, de longe, o componente mais perigoso do caminho da energia pesada . Ao mesmo tempo, está se convertendo rapidamente na mais ineficaz e antieconômica fonte energética. Um eminente técnico em investimentos em empresas de serviços públicos concluiu uma investigação minuciosa da indústria nuclear com a seguinte e arrasadora declaração: “A conclusão a que podemos chegar é que, de um ponto de vista estritamente econômico, confiar na fissão nuclear como fonte primária de nossos suprimentos de energia estável constituirá uma loucura econômica em escala sem paralelo em toda a história” .À medida que a opção nuclear está ficando cada vez mais irrealista e a maciça dependência dos países industrializados em relação ao petróleo aumenta o risco de confrontações militares, governos e representantes da indústria energética estão procurando ansiosamente numerosas alternativas. Assim fazendo, entretanto, eles ainda se apegam cegamente aos princípios obsoletos do caminho da energia pesada. A produção de combustíveis sintéticos a partir do carvão e do xisto betuminoso, que tem sido vigorosamente incentivada nestes últimos tempos, envolve ainda uma outra tecnologia que consome um excesso de recursos, é extremamente antieconômica e causa perturbações ambientais em grande escala. Fala-se com freqüência na fusão nuclear, mas ela é por demais incerta para ser uma solução aceitável. Além disso, parece estar na mira da indústria nuclear principalmente com o propósito de produzir plutônio, que seria depois usado em reatores de fissão . Todas essas formas de produção energética requerem maciços investimentos de capital e usinas centralizadas com tecnologias complexas. São ineficientes e altamente inflacionárias e não criam um número significativo de empregos. As medidas de conservação e a energia solar poderiam gerar um número de empregos muitas vezes superior àquele oferecido pela indústria nuclear, enquanto cada nova usina de eletricidade elimina cerca de 4 000 empregos líquidos’. A única saída para a crise energética é adotar um “caminho de energia branda”  (soft energy path), o que tem três componentes principais: conservação de energia através de um consumo mais racional, utilização inteligente das atuais fontes de energia não-renovável como “combustíveis de ponte” durante o período de transição, e rápido desenvolvimento de tecnologias brandas para a produção energética a partir de fontes renováveis. Essa tríplice abordagem, além de ambientalmente benigna e ecológicamente equilibrada, seria também a política energética mais eficiente e mais barata.
Um estudo recente da Harvard Business School afirmou categóricamente que uma melhoria na eficiência de consumo e tecnologias brandas são as mais econômicas de todas as fontes de energia disponíveis, além de fornecerem mais e melhores empregos do que qualquer uma das outras opções . O caminho da energia branda deve ser adotado sem mais demora. Como o papel dos combustíveis fósseis como ponte para as novas fontes energéticas renováveis é um elemento vital da transição necessária, será crucial iniciar o processo de transição enquanto ainda dispomos de suficientes combustíveis fósseis para assegurar uma passagem sem tropeços. A longo prazo, a maior conservação de energia será conseguida com o abandono de nossos atuais modelos nocivos e antieconômicos de produção e consumo, em favor de um modo de vida ecologicamente harmonioso. Mas enquanto tem lugar essa profunda mudança, enormes poupanças energéticas podem ser obtidas melhorando-se a eficiência do consumo de energia em toda a economia. Isso pode ser feito desde já, por meio das tecnologias existentes, ao mesmo tempo em que se mantêm os níveis atuais de atividade econômica. De fato, a conservação é nossa melhor fonte de energia a curto prazo, superando todos os combustíveis convencionais combinados. Isso foi espetacularmente confirmado pela observação de que, no período de 1973-1978, 95 % de todos os novos suprimentos de energia na Europa provieram de um consumo mais eficiente. Assim, milhões de medidas de conservação individual adicionaram ao suprimento quase vinte vezes mais energia do que todas as outras novas fontes combinadas, incluindo todo o programa nuclear europeu.
Uma importante parte do consumo mais eficiente de energia consiste em utilizar o tipo apropriado para cada tarefa, o que significa aplicar o tipo de energia que permite a execução dessa tarefa do modo mais barato e eficaz. Não é de mais eletricidade que precisamos, mas de uma maior variedade de fontes energéticas que possam harmonizar-se mais adequadamente com nossas necessidades. Uma vez que usamos mais da metade de nosso suprimento energético para aquecimento ou resfriamento, as maiores economias podem ser conseguidas mediante o isolamento térmico mais eficiente de nossos edifícios. É hoje técnicamente possível e altamente efetivo, no tocante aos custos, construir edifícios tão bem calafetados por exemplo, que virtualmente dispensem o aquecimento de seu interior, mesmo em climas frios; e pode-se dizer que muitos edifícios existentes estão bem perto desse padrão. Um outro importante meio de aumentar a eficiência do consumo energético é a chamada co-geração de calor e eletricidade úteis. Um co-gerador é um dispositivo que aproveita o calor produzido na geração de eletricidade, em vez de o lançar perdulariamente no meio ambiente. Qualquer máquina que produza movimento queimando um combustível também pode ser usada como um co-gerador. Instalado num edifício, pode operar eficientemente os sistemas de aquecimento e refrigeração e, ao mesmo tempo, fazer funcionar seus aparelhos elétricos. Desse modo, a energia contida no combustível pode se tornar útil com até 90 por cento de eficiência, ao passo que a geração convencional de eletricidade usaria, no máximo, apenas 30 ou 40 por cento da energia do combustível.
Numerosos estudos recentes apuraram que o efeito combinado da co-geração e do isolamento aperfeiçoado, a par de uma maior eficiência em carros e máquinas, resultaria numa economia de energia de 30 ou 40 por cento sem quaisquer mudanças em nossos padrões de vida e atividades econômicas . A longo prazo, necessitamos de uma fonte energética que seja renovável, econômicamente eficiente e ambientalmente benigna. A energia solar é a única espécie de energia que satisfaz a todos esses requisitos. O Sol tem sido a principal fonte de energia do planeta há bilhões de anos, e a vida, em sua miríade de formas, tornou-se primorosamente adaptada à energia solar durante o longo curso da evolução planetária. Toda a energia que usamos, exceto a nuclear, representa alguma forma de energia solar armazenada. Quer queimemos madeira, carvão, petróleo ou gás, usamos energia originalmente irradiada para a Terra a partir do Sol e convertida químicamente através da fotossíntese. O vento que impele os barcos a vela e impulsiona os moinhos de vento é um fluxo de ar causado pelo movimento ascendente de outras massas de ar aquecidas pelo Sol. A queda-d’água que aciona nossas turbinas é parte do ciclo contínuo de água sustentado por radiação solar. Assim, virtualmente todas as nossas fontes energéticas fornecem-nos energia solar sob uma ou outra forma. Entretanto, nem todas essas formas de energia são renováveis.
No atual debate energético, a expressão “energia solar” é usada mais especificamente em referência às formas de energia que provém de fontes inexauríveis ou renováveis. A energia solar, nesse sentido, está acessível em formas tão variadas quanto o próprio planeta ³³. Em áreas florestais está presente como combustível sólido (madeira); em áreas agrícolas, como combustível líquido ou gasoso (álcool ou metano derivados de plantas); em regiões montanhosas, como energia hidrelétrica, e em lugares onde venta muito, como energia gerada pelo vento; em áreas ensolaradas, pode ser transformada em eletricidade por células fotovoltaicas. e em quase toda parte pode ser captada como calor direto. A maioria dessas formas de energia solar foram exploradas por sociedades humanas ao longo dos tempos por meio de tecnologias que o próprio tempo consagrou. O Departamento de Energia dos Estados Unidos adora chamar a energia solar de uma “exótica” nova fonte energética, mas, de fato, a transição solar não requer quaisquer inovações tecnológicas de vulto. Ela envolve simplesmente a integração judiciosa de processos agrícolas e tecnológicos usados já há muito tempo em muitos setores de atividade de uma sociedade moderna. Contrariamente a uma concepção errônea muito divulgada, o problema do armazenamento de energia dessas fontes renováveis já foi resolvido, e numerosos estudos mostraram que as tecnologias brandas existentes são suficientes para satisfazer todas as nossas necessidades energéticas a longo prazo. De fato, muitas delas já estão sendo usadas com êxito por comunidades conscientes do poder solar. A característica mais evidente dessas tecnologias é sua natureza descentralizada. Como a energia irradiada do Sol se difunde por todo o planeta, usinas centralizadas de energia solar não teriam sentido algum, por serem inerentemente antieconômicas . As mais eficientes tecnologias de aproveitamento da energia solar envolvem dispositivos em pequena escala, a serem usados por comunidades locais, o que gera uma grande variedade de empregos e só apresenta efeitos benignos. Certas formas de energia solar já são competitivas; outras podem sê-lo em poucos anos. Isso pode ser comprovado até mesmo sem que se questione a estreita noção de competitividade econômica, que despreza a maioria dos custos sociais gerados pela produção de energia convencional. Uma forma de energia solar que já pode ser utilizada com grande vantagem é o aquecimento solar. Tanto pode ser “passiva”, quando o próprio edifício capta e armazena o calor, quanto “ativa”, quando são usados coletores solares especiais.
A energia proveniente do Sol também pode ser empregada para refrigerar edifícios durante o verão. Os sistemas de aquecimento e refrigeração solar foram desenvolvidos intensamente nos últimos anos, e representam hoje uma indústria vibrante e em rápida expansão, conforme documentado no relatório da Harvard Business School: “Muitas pessoas ainda supõem que a energia solar seja algo para o futuro, à espera de um decisivo avanço tecnológico. Essa suposição representa um grande equívoco, pois o aquecimento solar ativo e passivo é uma alternativa aqui-e-agora para fontes energéticas convencionais” . Uma outra tecnologia solar com grande potencial é a produção local de eletricidade por meio de células fotovoltaicas Uma célula fotovoltaica  é um dispositivo silencioso e imóvel que converte a luz solar em eletricidade. A principal matéria-prima usada na sua construção é o silício, que está presente em abundância na areia comum, sendo os processos de manufatura semelhantes aos usados pela indústria de semicondutores para construir transistores e circuitos integrados (“chips”). No momento, as células fotovoltaicas ainda são demasiado caras para uso residencial, mas o mesmo ocorria com os transistores, no início. De fato, a indústria fotovoltaica está passando agora pelos mesmos estágios da indústria de semicondutores duas décadas atrás. Quando os programas espaciais e militares americanos precisaram de equipamento eletrônico leve, investimentos federais maciços acarretaram uma grande redução dos custos de produção. Foi esse o começo da indústria que está agora produzindo milhões de rádios transistorizados, calculadoras de bolso e relógios digitais de baixo custo.
O termo “fotovoltaico” refere-se à geração de uma voltagem elétrica, o que ocorre quando a luz incide sobre a célula.  Do mesmo modo, as células fotovoltaicas foram usadas primeiramente para fornecer eletricidade aos satélites espaciais em órbita, e eram muito caras nessa época. Outras estimativas semelhantes mostraram que a geração de eletricidade pelo vento poderia ser iniciada quase imediatamente, a custos economicamente competitivos, se fossem investidas verbas suficientes na tecnologia eólica. Essas conquistas ocasionariam mudanças estruturais fundamentais na indústria de serviços de utilidade pública, uma vez que os geradores fotovoltaicos e eólicos, tal como o aquecimento solar, são usados com a máxima eficiência in loco, sem a necessidade de usinas centralizadas. O poder político das companhias de serviços públicos, relutantes em renunciar ao monopólio na produção de eletricidade, é hoje o principal obstáculo ao rápido desenvolvimento das novas tecnologias solares. Qualquer programa realista de energia solar terá de produzir combustível líquido suficiente para abastecer aviões e, pelo menos, parte de nosso transporte terrestre, e combustível líquido ou gasoso para ser usado em co-geradores onde o suprimento local de energia solar for inadequado. A tecnologia solar de mais fácil acesso para a obtenção  desses combustíveis é também a mais antiga — a produção de energia a partir da biomassa. O termo “biomassa” refere-se à matéria orgânica produzida por plantas verdes, que representam energia solar armazenada. Essa energia não só pode ser recuperada sob a forma de calor, queimando-se o material, como pode também ser convertida em combustíveis líquidos ou gasosos, destilando-se álcool de cereais ou frutos fermentados, ou captando-se o metano que as bactérias geram a partir de estéreo, lixo ou esgotos. Esses dois combustíveis podem ser usados para acionar motores de combustão interna sem provocar qualquer poluição, e por métodos bem conhecidos e relativamente simples.
O BRASIL E A BIOMASSA
O maior centro de produção de álcool a partir da biomassa é o Brasil, onde toda a gasolina contém até 20 por cento de álcool; e geradores simples de metano, produzindo combustível a partir de estéreo e esgotos, têm sido construídos aos milhões na Índia e na China. De todas as tecnologias solares, a produção de metano — um componente importante do gás natural — com a ajuda da atividade bacteriana parece ser a que mais se aproxima dos princípios observados em ecossistemas naturais. Envolve a cooperação de outros organismos — um aspecto característico de toda a vida — e pode ser usada com muita eficácia para reciclar lixos, esgotos e lodo subaquático, que constituem alguns dos nossos maiores poluentes. O resíduo orgânico da produção de metano é um excelente fertilizante, perfeitamente adequado para substituir pelo menos parte de nossos fertilizantes sintéticos, consumidores de recursos e poluidores. Tal como outras formas de energia solar, a biomassa está largamente dispersa, sendo portanto apropriada para a produção local, em pequena escala, de combustível. Neste ponto, cumpre ter em mente que a produção de combustíveis líquidos a partir de produtos agrícolas não alimentará nosso sistema de transportes em seu nível atual. Para tanto, seria imprescindível uma produção maciça de álcool a partir da agricultura, o que significaria o uso irresponsável do solo, pois isso causaria sua rápida erosão, como argumentou Wes Jackson de forma convincente 43. Embora a biomassa seja um recurso renovável, o solo. onde ela cresce não o é. Certamente podemos esperar uma significativa produção de álcool a partir da biomassa, incluindo o cultivo de plantas para esse fim, mas um programa maciço de álcool para alimentar as necessidades atuais de combustível líquido esgotaria nossos solos no mesmo ritmo em que estamos hoje exaurindo o carvão, o petróleo e outros recursos naturais. A saída para esse dilema será um completo replanejamento de nosso sistema de transportes, especialmente nos Estados Unidos, em conjunto com muitos outros aspectos de nosso estilo de vida 384 perdulário e dilapidador de recursos. Isso não significará reduzir nossos padrões de vida. Pelo contrário, melhorará a qualidade de nossas vidas. Os competentes estudos de nossas opções energéticas acima citadas mostram que está aberto o caminho para um futuro solar. Embora significativos avanços tecnológicos sejam esperados em muitas áreas, não temos que esperar por quaisquer progressos tecnológicos decisivos para dar início a essa transição histórica. O que mais necessitamos é de uma acurada informação pública acerca do potencial da energia solar, a par de uma correspondente política social e econômica que facilite a passagem para a era solar.  Qualquer um desses dois caminhos, que terão quase certamente que ser trilhados, encurtaria e facilitaria de maneira significativa o período de transição.
SABEDORIA INCOMUN-DIÁLOGOS NOTÁVEIS-Meu encontro com J. Krishnamurti-~por Fritjof Capra
Um dos primeiros contatos diretos que tive com a espiritualidade do Oriente foi meu encontro com J. Krishnamurti no final de 1968. Quando ele proferiu uma série de palestras na UC de Santa Cruz, estava com setenta e três anos e a sua aparência era absolutamente estonteante. Seus traços indianos bem marcados, o contraste entre a pele escura e os cabelos brancos impecávelmente penteados, a elegância dos trajes europeus, a dignidade do semblante, o inglês medido e perfeito, e — acima de tudo — a intensidade da concentração e da presença dele deixaram-me encantado e perplexo. Os ensinamentos de Don Juan, de Carlos Castañeda, acabara de ser publicado, e ao ver Krishnamurti não pude deixar de comparar sua aparência com a da figura mítica do sábio yaqui. O impacto do carisma e da aparência física de Krishnamurti foi intensificado e aprofundado pelas coisas que disse. Pensador muito original, rejeitava toda autoridade espiritual e todas as tradições espirituais. Seus ensinamentos eram muito semelhantes aos do budismo, mas ele jamais empregava algum termo budista ou de qualquer outro ramo de pensamento tradicional do Oriente. A tarefa a que se propusera (usar a língua e o raciocínio racional para levar seus ouvintes além da linguagem e do uso da razão) era extremamente difícil, mas o modo como ele se desincumbia dela era impressionante. Krishnamurti escolhia algum problema existencial bem conhecido — medo, desejo, morte, tempo — como tópico de uma palestra, e principiava a falar usando palavras parecidas com estas: “Entremos nisso juntos. Não vou lhes dizer nada; não possuo autoridade alguma; vamos explorar essa questão juntos”. Em seguida, mostrava a futilidade de todos os modos convencionais para se eliminar, por exemplo, o medo, e perguntava, lenta e intensamente, com um senso acurado do impacto dramático de suas palavras: “É possível que vocês, neste exato momento, aqui neste lugar, possam se livrar do medo? Não suprimi-lo, não negá-lo, nem opor resistência a ele, mas sim eliminá-lo de uma vez por todas? Esta será a nossa tarefa hoje à noite: eliminarmos o medo por completo, de uma vez por todas. Se não conseguirmos isso, minha palestra terá sido em vão”.
1A cena já estava armada; a platéia, arrebatada, dominada pelo enlevo, e absolutamente atenta. “Examinemos então a questão”, prosseguia Knshnamurti, “sem julgarmos, sem condenarmos, sem justificarmos. O que é o medo? Examinemos isso juntos, vocês e eu. Vejamos se conseguimos realmente nos comunicar, estar no mesmo plano, na mesma intensidade, no mesmo momento. Usando-me como espelho, será que vocês conseguirão encontrar a resposta a esta pergunta extraordinariamente importante: o que é o medo?” E Krishnamurti passava então a tecer uma teia imaculada de conceitos. Mostrava que, para compreendermos o medo, temos de compreender o desejo; que para compreendermos o desejo, temos de compreender o pensamento; e, consecutivamente com o tempo, o conhecimento, o ser, e assim por diante. Apresentava uma análise brilhante de como tais problemas existenciais básicos estão interrelacionados — não na teoria, mas na prática. Krishnamurti não só confrontava cada membro da platéia com os resultados da sua análise, como também instava e convencia cada um a se envolver no processo de análise. No final, ficava uma sensação nítida e forte de que o único meio para se resolver qualquer um de nossos problemas existenciais é ir além do pensamento, além da linguagem, além do tempo — é “libertar-se do conhecido”, como diz no título de um de seus melhores livros, Freedom from the known. Lembro-me de que fiquei fascinado, mas também profundamente perturbado, com as palestras de Krishnamurti. Após cada uma delas, Jacqueline e eu permanecíamos acordados durante várias horas, sentados junto à nossa lareira, discutindo o que Krishnamurti dissera.
Esse foi meu primeiro encontro direto com um mestre espiritual radical, e logo me vi em face de um grave problema. Eu mal iniciara uma promissora carreira científica, com que estava bastante envolvido emocionalmente, e então vinha Krishnamurti, com todo o seu carisma e persuasão, dizendo para eu parar de pensar, para eu me libertar de todo o conhecimento, para eu deixar o raciocínio lógico para trás. O que isso significava no meu caso? Deveria desistir da carreira científica nesse estágio inicial, ou deveria continuá-la, abandonando toda esperança de alcançar a auto-realização espiritual? Eu ansiava por me aconselhar com Krishnamurti, porém ele não permitia nenhuma pergunta em suas palestras e recusava-se a receber quem quer que fosse depois delas. Fizemos diversas tentativas para vê-lo, mas foi-nos dito, com firmeza, que Krishnamurti não queria ser perturbado. Foi uma feliz coincidência — ou não? — que finalmente nos propiciou um encontro com ele. Krishnamurti tinha um secretário francês e, após a última palestra, Jacqueline, que nasceu em Paris, conseguiu estabelecer um diálogo com esse homem. Eles se entenderam bem e, como resultado, terminamos por nos encontrar com Krishnamurti em seu apartamento na manhã seguinte. Senti-me um tanto intimidado quando finalmente vi o mestre cara a cara, mas não quis perder tempo. Eu sabia por que estava ali. “Como posso ser um cientista”, perguntei-lhe, “e ainda assim seguir seu conselho para interromper o pensamento e libertar-me do conhecido?” Krishnamurti não hesitou sequer um instante. Ele respondeu a minha pergunta em dez segundos, e de um modo que resolveu completamente o meu problema. “Primeiro você é um ser humano”, disse ele, “e depois um cientista. Antes você tem de se tornar livre, e essa liberdade não pode ser atingida por meio do pensamento. Ela é atingida pela meditação — a compreensão da totalidade da vida, em que cessam todas as formas de fragmentação.” Uma vez que eu alcançar tal compreensão da vida como um todo, explicou, poderia me especializar e trabalhar como cientista sem problema algum. E evidentemente nem se cogitava na abolição da ciência. Passando para o francês, Krishnamurti acrescentou: “J’adore la science. C’est merveilleux!” Após esse rápido mas decisivo encontro, só vi Krishnamurti de novo seis anos depois, ao ser convidado, juntamente com vários outros cientistas, a participar de uma semana de discussões com ele em seu centro educacional no Brockwood Park, ao sul de Londres. Sua aparência ainda era extremamente marcante, embora houvesse perdido um pouco da intensidade. No decorrer daquela semana fiquei conhecendo Krishnamurti muito melhor, inclusive alguns de seus defeitos. Quando falava, ele ainda era muito poderoso e carismático, mas fiquei desapontado pelo fato de jamais podermos realmente incluí-lo numa discussão. Ele falaria, mas não se disporia a ouvir. Por outro lado, mantive muitas discussões excitantes com meus colegas cientistas — David Böhm, Karl Pribram e George Sudarshan, entre outros. Depois disso praticamente perdi contato com Krishnamurti. Nunca deixei de reconhecer sua influência decisiva sobre mim, e com freqüência ouvia falar dele por meio de várias pessoas; porém, não compareci a nenhuma outra palestra sua, nem li qualquer um de seus outros livros. Então, em janeiro de 1983, me vi em Madrasta, no sul da Índia, participando de uma conferência da Sociedade Teosófica Mundial, que ficava em frente à propriedade de Krishnamurti. Como ele estava lá e ia dar uma palestra naquela noite, resolvi aparecer para apresentar-lhe meus cumprimentos. O belíssimo parque, com suas gigantescas árvores seculares, estava repleto de gente, quase todos indianos, sentados em silêncio no chão, aguardando o início de um ritual de que a maioria já participara muitas vezes antes. Às oito horas Krishnamurti apareceu, vestido com trajes indianos, e caminhou lentamente mas com enorme segurança até uma plataforma que fora erguida. Foi maravilhoso vê-lo, aos oitenta e oito anos de idade, fazendo sua entrada como durante mais de meio século, subindo as escadas da plataforma sem ajuda de ninguém, sentando-se numa almofada, e unindo as mãos no tradicional cumprimento indiano para iniciar sua palestra. Krishnamurti falou durante setenta e cinco minutos sem nenhuma hesitação, e quase com a mesma intensidade que eu presenciara quinze anos antes.
O tópico dessa noite era o desejo, e ele teceu sua teia com a clareza e habilidade de sempre. Foi uma oportunidade única para eu avaliar a evolução de meu próprio entendimento desde a época em que o conhecera, e senti pela primeira vez que eu realmente compreendia seu método e sua personalidade. A sua análise do desejo foi bela e cristalina. A percepção causa uma reação sensorial, disse ele; o pensamento então intervém — “Eu quero…“, “Eu não quero…“, “Eu desejo…“ —, e assim é gerado o desejo. O desejo não é causado pelo objeto de desejo, mas persistirá com diversos objetos enquanto intervier o pensamento. Portanto, não nos libertaremos do desejo suprimindo ou evitando a experiência sensorial (o modo do asceta). O único meio para nos libertarmos do desejo é libertando-nos do pensar. O que Krishnamurti não disse é como podemos nos libertar do pensamento. Como Buda, ele ofereceu uma análise brilhante do problema, mas, à diferença dele, não mostrou um caminho claro para a libertação. Talvez, pensei, o próprio Krishnamurti não houvesse avançado o suficiente por esse caminho… Talvez não houvesse se libertado o suficiente de todo o condicionamento para poder levar seus discípulos à plena auto-realização.Depois da palestra, fui convidado para jantar com Krishnamurti e várias outras pessoas. Compreensivelmente ele estava bastante exausto devido a seu esforço e sem ânimo para qualquer discussão. Nem eu pretendia algo assim. Fora ali apenas para mostrar-lhe a minha gratidão, sendo ricamente recompensado. Contei a Krishnamurti a história de nosso primeiro encontro, e agradeci-lhe mais uma vez por sua influência e ajuda decisivas, estando consciente de que esse talvez fosse o nosso último encontro, como de fato acabou sendo. O problema que Krishnamurti resolvera para mim, à maneira zen, de um só golpe, é o problema com que a maioria dos físicos se deparam quando confrontados com as idéias das tradições místicas — como é possível transcender o pensamento sem abandonar um compromisso com a ciência? Esse é, acredito, o motivo pelo qual tantos de meus colegas sentiram-se ameaçados por minhas comparações entre a física e o misticismo. Talvez lhes seja proveitoso saber que eu também já senti a mesma ameaça. E a senti com todo o meu ser. No entanto, isso foi no início de minha carreira, e tive uma enorme felicidade: a mesma pessoa que me fez perceber a ameaça foi também a que me ajudou a transcendê-la. 

Discussão Online – Fritjof Capra – Português

O físico austríaco Dr. Fritjof Capra, autor de best-sellers como “O Ponto de Mutação” e “A Teia da Vida”, conversou com os professores participantes do concurso cultural “Santander Práticas de Educação para Sustentabilidade”
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CONCLUSÃO E NOTA DO BLOG
Fritjof Capra é um dos mais recentes pensadores que emergiu juntamente com o pensamento científico, social e filosófico, abordando por isso em suas obras,perspectivas que incluem como ponto chave a ciência aliada á sustentabilidade.Sua obra propõe uma nova compreensão científica em todos os níveis dos sistemas vivos, sejam organismos, sistemas sociais e ecossistemas, baseando-se em uma nova percepção da realidade. A Ecologia Profunda,tema extensivamente abordado em seus livros e palestras acerca da crise de percepção pela qual passa a ciência e a sociedade aponta soluções, as quais precisam estar atreladas a uma profunda mudança radical na percepção, no pensamento e nos valores, em uma dimensão política, cultural, social e científica. Segundo o autor, os problemas da época não podem ser compreendidos isoladamente como foi e ainda é proposto por muitos, pois são sistêmicos e estão interligados, sendo interdependentes. Propondo, então, uma mudança de paradigma, a qual, como esperado, não é facilmente aceita, por se tratar de uma visão estranha e inesperada da realidade.  Uma mudança do paradigma mecanicista preconizado por Newton e Descartes por uma nova forma de pensar a ciência, a filosofia e mesmo as leis que regem a vida em toda sua complexidade, um novo paradigma. O novo paradigma proposto pelo autor permeia uma visão de mundo holística, a qual concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas, podendo ainda ser definido e entendido como uma visão ecológica, a qual reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos e na qual indivíduos e sociedades encaixam-se nos processos cíclicos da natureza e dependem desses processos. Por conseguinte, a mudança de paradigmas requer uma expansão não apenas de nossas percepções e maneira de pensar, mas também de mudanças nos valores.A visão emergente do pensamento holístico no sentido de ecologia profunda enfatiza que a vida se encontra em sua própria essência, o que é particularmente importante para a ciência, pois no velho paradigma, a física (baseada no paradigma mecanicista) foi o modelo e fonte metafórica para todas as ciências, a física, aos poucos perdeu o seu papel como a ciência que fornece a descrição mais fundamental da realidade. Na atualidade, a mudança de paradigma na ciência implica em uma mudança da física para as ciências da vida.No século XX, a perspectiva holística passa a ser conhecida como “sistêmica” e a principal característica do pensamento sistêmico esteve presente em várias disciplinas de modo simultâneo, sendo os biólogos os pioneiros a abordar esse pensamento, enfatizando a concepção dos organismos vivos como totalidades integradas, sendo posteriormente enriquecida pela nova ciência da Ecologia. São os ecologistas como Capra, no seu livro “A Teia da Vida”, que introduzem a concepção de sistemas vivos como redes, fornecendo uma nova perspectiva sobre as chamadas hierarquias da natureza. A saber, essa nova perspectiva, vem explicar que na natureza não há hierarquias, não há “acima” ou “abaixo”. Há somente redes alinhadas dentro de outras redes. Essa concepção de rede representou avanços na compreensão científica não apenas dos ecossistemas, mas também da própria natureza da vida.A essência da obra de Capra mostra de uma forma bastante coerente que não é pela fragmentação das ciências, da filosofia, da sociedade e da natureza que se tem uma compreensão geral das mesmas, não é por partes que a vida e toda a complexidade que esta palavra carrega em seu significado, devem ser analisadas, mas pelo todo que faz compreender a essência. O ser humano tomado como um ser complexo em relação aos demais organismos vivos, não pode ser visto como um ser controlador obrigatório da natureza e superior às demais distintas formas de vida, pois não se trata de um ser externo à natureza, ele faz parte dela, é a natureza. Não há partes isoladas que funcionam independentemente nesse complexo sistema que é a vida, vista aqui não apenas em sua forma biológica, mas social, política, cultural e científica, essa é uma teia, da qual o ser humano é apenas um fio.

EQUIPE DA LUZ É INVENCÍVEL 
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