Décadas de trabalho têm sido dedicadas à busca por uma partícula subatômica denominada bóson de Higgs, também conhecida como "partícula de Deus", e que pode ter sido ao menos detectada, afirmaram cientistas esta terça-feira.
Bruno Mansoulie, físico do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN, na sigla em francês), disse a jornalistas, em Genebra, que o grande acelerador de partículas europeu "reduziu a janela na qual os cientistas acreditam que encontrarão o bóson de Higgs".
A sustentação para esta busca é o desejo de preencher a maior lacuna da teoria das partículas subatômicas, conhecida como Modelo Padrão.
Desenvolvido no começo dos anos 1970, o Modelo Padrão diz haver 12 partículas que compreendem os elementos principais presentes em toda a matéria.
Estas partículas fundamentais se dividem em uma sequência de seis léptons e seis quarks, batizados com nomes exóticos, como "charme" "tau" e "estranho".
O Modelo Padrão também diz que as partículas de antimatéria, conhecidas como bósons, atuam como mensageiras entre as partículas de matéria.
Esta interação dá origem a três forças fundamentais: a força forte, a força fraca e a força eletromagnética (há uma quarta força, a gravidade, que se suspeita que seja provocada por um bóson ainda a ser descoberto, denominado "gráviton").
O mistério, no entanto, é o que dá massa às partículas de matéria - e porque algumas destas partículas têm mais massa do que outras.
A teoria que sustenta o bóson de Higgs é que a massa não derivaria das partículas em si. Ao contrário, viria do bóson que reage fortemente a algumas partículas, e menos (ou não reage em absoluto) a outras.
Uma forma de visualizar isto é pensar em um coquetel onde há um grupo (os bósons) e recém-chegados (as partículas de matéria).
Imagine o que aconteceria se um desconhecido entrasse na festa e atravessasse a sala. Apenas algumas pessoas o conheceriam e se aproximariam dele, e sendo assim, ele conseguiria cruzar o ambiente rapidamente, sem grandes obstáculos.
Mas o que aconteceria se uma celebridade entrasse? As pessoas se concentrariam em torno dela e seria mais difícil para ela cruzar o salão. Em termos físicos, esta partícula tem mais massa.
"A ideia é que as partículas colidem contra os bósons de Higgs e este contato é o que as tornam mais lentas e lhes dá massa", explicou o físico e filósofo francês Etienne Klein.
O bóson de Higgs recebeu este nome em homenagem ao físico britânico Peter Higgs, que propôs sua existência em um artigo publicado em 1964 no periódico científico Physical Review Letters.
Higgs teve a ideia enquanto caminhava um fim de semana pelas Montanhas Cairngorm, na Escócia. Quando retornou ao laboratório, ele disse aos seus colegas ter tido sua "grande ideia" e encontrado uma resposta para o enigma de porque a matéria tem massa.
Embora a partícula leve o nome de Higgs, importantes trabalhos teóricos também foram desenvolvidos pelos físicos belgas Robert Brout e François Englert.
O bóson de Higgs ficou conhecido como "partícula de Deus", porque assim como Deus está em todas as partes, mas é difícil de definir.
De fato, a origem do nome é menos poética. Ele vem de um livro do físico ganhador do prêmio Nobel Leon Lederman, cujo esboço de título era "A Partícula Maldita" ("The Goddamn Particle", no original), em alusão às frustrações de tentar encontrá-la.
O título foi, depois, cortado para "A Partícula de Deus" por seu editor, aparentemente temeroso de que a palavra "maldita" fosse ofensiva.
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