CIGANO - Povos das Estrelas
O fato do Povo Cigano
não ter, até os dias atuais, uma linguagem escrita, fica quase
impossível definir sua verdadeira origem. Portanto, tudo o que se disser
a respeito de sua origem está largamente baseado em conjecturas,
similaridades ou suposições.
A
hipótese mais aceita é que o Povo Cigano teve seu berço na civilização
da Índia antiga, num tempo que também se supõe, como muito antigo,
talvez dois ou três milênios antes de Cristo.
Compara-se
o sânscrito, que era escrito e falado na Índia (um dos mais antigos
idiomas do mundo), com o idioma falado pelos ciganos e encontraram um
sem-número de palavras com o mesmo significado.
E
assim, os Ciganos são chamados de "povos das estrelas" e dizem que
apareceram há mais de 3.000 anos, ao Norte da Índia, na região de
Gujaratna localizada margem direita do Rio Send e de onde foram expulsos
por invasores árabes.
Outros pontos também colaboram para que esta hipótese seja reforçada, como a tez morena comum aos hindus e ciganos, o gosto por roupas vistosas e coloridas, e princípios religiosos como a crença na reencarnação e na existência de um Deus Pai e Absoluto.
E
com respeito à suas crenças, tanto para os hindus como para os ciganos,
a religiosidade é muito forte e norteia muito de seu comportamento,
impondo normas e fundamentos importantes, que devem ser respeitados e
obedecidos.
Depois de vagarem pelas Terras do Oriente, os ciganos invadiram o Ocidente e espalharam-se por todo o mundo. Essa invasão foi uma das únicas na história da humanidade que foi feita sem guerras, dor ou derramamento de sangue. O que não se sabe ainda é se esses eternos viajantes pertenciam a uma casta inferior dentro da hierarquia indiana (os parias) ou de uma casta aristocrática e militar, os orgulhosos (rajputs).
Independente
de qual fosse seu status, a partir do êxodo pelo Oriente, os ciganos se
dedicaram com exclusividade a atividades itinerantes: como ferreiros,
domadores, criadores e vendedores de cavalo, saltimbancos, comerciantes
de miudeza e o melhor de suas qualidades que era a arte divinatória.
Viajavam sempre em grandes carroças coloridas e criaram nomes poéticos para si mesmos.
No primeiro milênio d.C., deixaram o país e se dividiram em dois ramos: o Pechen que atingiu a Europa através da Grécia; e o Beni que chegou até a Síria, o Egito e a Palestina.
Existem
vários clãs ciganos: o Kalê (da Península Ibérica); o Hoharano (da
Turquia); o Matchuaiya (da Iugoslávia); o Moldovan (da Rússia) e o
Kalderash (da Romênia).
São mais de 15 milhões de ciganos em diferentes pontos da Europa, Ásia, África, América, Austrália e Nova Zelândia.
Quase
sempre os ciganos eram bem recebidos nos países onde chegavam. Os
chefes das tribos apresentavam-se de forma pomposa, como príncipes,
duques e condes (títulos, aliás inexistentes entre os ciganos).
Diziam-se peregrinos cristãos vindos do Egito e, assim obtinham licença das autoridades locais para se instalarem.
Ao contrário do que muitos pensam, o Povo Cigano é que foi perseguido, julgado e expulso ao longo do seu pacífico caminhar.
Na
Moldávia e na Valáquia (atual Romênia), os ciganos foram escravizados
durante trezentos anos; na Albânia e na Grécia pagavam impostos mais
altos. Na Alemanha, crianças ciganas eram tiradas dos pais com a
desculpa de que "iriam estudar", enquanto a Polônia, a Dinamarca e a
Áustria puniam com severidade quem os acolhesse.
Nos
países baixos inúmeros ciganos foram condenados à forca e seus filhos
obrigados a assistir à execução dos pais para que assim aprendessem a
"lição de moral".
Apenas no país de Gales eles tiveram espaço para manter parte das suas tradições e a língua.
Os ciganos chegados em Andaluzia no séc. XV vieram do norte da Índia, da região do Sind (atual Paquistão), fugindo das guerras e dos invasores estrangeiros (inclusive de Tamerian, descendente de Gengis Khan) eles encontraram facilidades e estabeleceram-se.
Mesmo
assim, durante a inquisição católica, vários deles foram expulsos pelos
tribunais do Santo Ofício. As tribos do Sind se mudaram para o Egito e
depois para a Checoslováquia, Rússia, Hungria e Polônia, Balcãs e
Itália, França e Espanha. Seus nomes se latinizaram (de Sindel para
Miguel; de András para André; de Pamuel para Manuel, etc.).
O
primeiro documento data a entrada dos ciganos na Espanha em 1447. Esse
grupo se chamava a si mesmo de "ruma calk" (que significa homem dos
tempos) e falavam o Caló (um dialeto indiano oriundo da região do
Maharata).
Eles
trouxeram a música, a dança, as palmas, as batidas dos pés e o ritmo
quente do "flamenco", tanto que essa palavra vem do árabe "felco"
(camponês) e "mengu" (fugitivo) e passou a ser sinônimo de "cigano
andaluz" à partir do séc. XVIII.
Porém
de acordo com a Tradição Cigana, a teoria mais freqüente sobre a origem
do Povo Cigano, é que após um período de adaptação neste planeta, os ciganos teriam surgido do interior da Terra e esperam que um dia possam regressar ao seu lar.
Existem
lendas que falam que os ciganos seriam filhos da primeira mulher de
Adão, Lilith, e, portanto, livres do pecado original) e por isso eles
não aceitam de modo algum ser empregados dos "gadjé" (não-ciganos) e
apegam-se a antigas profissões artesanais que caracterizam suas tribos e
são ensinadas desde cedo às crianças.
O Povo Cigano é guardião da LIBERDADE.
O Povo Cigano é guardião da LIBERDADE.
Seu grande lema é: "O Céu é meu teto; a Terra é minha pátria e a Liberdade é minha religião",
traduzindo um espírito essencialmente nômade e livre dos
condicionamentos das pessoas normais geralmente cerceadas pelos sistemas
aos quais estão subjugadas.
A vida é uma grande estrada, a alma é uma pequena carroça e a Divindade é o Carroceiro.
Em
sua maioria, os ciganos são artistas (de muitas artes, inclusive a
circense); e exímios ferreiros, fabricando seus próprios utensílios
domésticos, suas jóias e suas selas.
Rotulados
injustamente como ladrões, feiticeiros e vagabundos, os ciganos
tornaram-se um espelho onde os homens das grandes cidades e de pequenos
corações expiaram suas raivas, frustrações e sonhos de liberdade
destruídos.
Pacientemente, este povo diferenciado, continuou sua marcha e até hoje seus estigmas não sararam.
Na verdade cigano que se preza, antes de ler a mão, lê os olhos das pessoas (os espelhos da alma) e tocam seus pulsos (para sentirem o nível de vibração energética) e só então é que interpretam as linhas das mãos.
A
prática da Quiromancia para o Povo Cigano não é um mero sistema de
adivinhação, mas, acima de tudo um inteligente esquema de orientação
sobre o corpo, a mente e o espírito; sobre a saúde e o destino.
A família é a base da organização social dos ciganos, não havendo hierarquia rígida no interior dos grupos. O comando normalmente é exercido pelo homem mais capaz, uma vez que os ciganos respeitam acima de tudo a inteligência.
Este
homem é o Kaku e representa a tribo na Krisromani, uma espécie de
tribunal cigano formado pelos membros mais respeitados de cada
comunidade, com a função de punir quem transgride, a rígida ética
cigana.
A
figura feminina tem sua importância e é comum haver lideranças
femininas como as phury-day (matriarca) e as bibi (tias-conselheiras),
lembrando que nenhum cigano deixa de consultar as avós, mães e tias para
resolver problemas importantes por meio da leitura da sorte.
Esse
povo canta e dança tanto na alegria como na tristeza pois para o cigano
a vida é uma festa e a natureza que o rodeia a mais bela e generosa
anfitriã.
Onde
quer que estejam, os ciganos são logo reconhecidos por suas roupas e
ornamentos, e, principalmente por seus hábitos ruidosos.
São um povo cheio de energia e grande dose de passionalidade.
São
tão peculiares dentro do seu próprio código de ética; honra e justiça;
senso, sentido e sentimento de liberdade que contagiam e incomodam
qualquer sistema.
O
líder de cada grupo cigano, chama-se Barô/Gagú e é quem preside a Kris
Romanis (Conselho de Sentença ou grande tribunal do povo rom) com suas
próprias leis e códigos de ética e justiça, onde são resolvidas todas as
contendas e esclarecidas todas as dúvidas entre os ciganos liderados
pelos mais velhos.
O mestre de cura (ou xamã cigano) é um Kakú (homem ou mulher) que possui dons de grande para-normalidade.
Eles usam ervas, chás e toques curativos.
Os
ciganos geralmente se reúnem em tribos para festejar os ritos de
passagem: o Nascimento, a Morte, o Casamento e os Aniversários; e
acreditam na Reencarnação (mas não incorporam nenhum espírito ou
entidade). Estão sempre reunidos nos campos, nas praias, nas feiras e
nas praças.
O
misticismo e a religiosidade, fazem parte de todos os hábitos da vida
cigana. A maior parte deles acredita em um único deus (Dou-la ou Bel) em
eterna luta contra o demônio (Deng).
Normalmente,
assimilam as religiões do lugar onde se encontram, mas jamais deixam de
lado o culto aos antepassados, o temor dos maus-olhados, a crença na
reencarnação e na força do destino (baji), contra a qual não adianta
lutar.
O
mais importante para o Povo Cigano é interagir com a Mãe Natureza
respeitando seus ciclos naturais e sua força geradora e provedora.
Outro
fato que chama a atenção para a provável origem indiana do povo cigano,
é a santa por quem nutrem o mais devotado amor e respeito, chamada
Santa Sara Kali.
Kali é venerada pelo povo hindu como uma deusa, que consideram como a Mãe Universal, a Alma Mater, a Sombra da Morte.
Sua pele é negra tal como Shiva.
Para os ciganos, Sara, santa venerada, possui a pele negra, daí ser conhecida como Sara Kali, a negra.
Ela
distribui bênçãos ao povo, patrocina a família, os acampamentos, os
alimentos e também tem força destruidora, aniquilando os poderes
negativos e os malefícios que possam assolar a nação cigana.
Seu
mistério envolve o das "virgens negras", que na iconografia cristã
representa a figura de Sara, a serva (de origem núbia) que teria
acompanhado as três Marias: Jacobina, Salomé e Madalena, e, junto com
José de Arimatéia fugido da Palestina numa pequena barca, transportando o
Santo Graal (o cálice sagrado), que seria levado por elas para um
mosteiro da antiga Bretanha.
Diz
o mito que a barca teria perdido o rumo durante o trajeto e atracado no
porto de Camargue, às margens do Mediterrâneo, que por sua vez ficou
conhecido como "Saintes Maries de La Mer", transformando-se desde então
num local de grande concentração do Povo Cigano.
Quase todos são devotos de "Santa Sara", que é reverenciada nos dias 24 e 25 de maio, em procissões que lotam Lês Saints Maries de La Mer, em Camargue, no Sul da França.
Através
de uma longa noite de vigília e oração, pelos ciganos espalhados no
mundo inteiro, com candeias de velas azuis, flores e vestes coloridas;
muita música e muita dança, cujo simbolismo religioso representa o processo de purificação e renovação da natureza e o eterno "retorno dos tempos".
A sexualidade é outro ponto importante entre os ciganos.
E, ao contrário do que se imagina, eles têm uma moral bastante conservadora.
Alguns
mitos antigos falam da existência das mães-de-tribo, que tinham um
marido e um "acariciador". Outros falam das gavalies de la noille, as
misteriosas noivas do fim de noite, com quem os kakus se encontravam uma
única vez, passando desde então, a ter poderes especiais.
Mas
o certo mesmo é que os ciganos se casam cedo, quase sempre seguindo
acordos firmados entre as duas famílias. Não recebem nenhum tipo de
iniciação sexual e ter filhos é a principal função do sexo.
Descobrir
os seios em público é comum e natural, mas nenhuma mulher pode mostrar
as pernas, pois da cintura para baixo todas são merimé (impuras).
Vem
daí a imposição das saias compridas e rodadas para as mulheres, que
também são proibidas de cortar os cabelos, e nunca sentam à mesma mesa
que os homens.
Ironicamente,
como praticantes da magia e das artes divinatórias, são elas que cada
vez mais assumem o controle econômico da família, pois a leitura da
sorte é a principal fonte de renda para a maioria das tribos.
O resultado é uma situação contraditória, em que o homem manda, mas é a mulher quem sustenta o grupo.
As
crianças ciganas normalmente só freqüentam até o 1o. Grau nas escolas
dos gadjés (não-ciganos), para aprenderem apenas a escrever o próprio
nome e fazer as quatro operações aritméticas.
A
maioria das crianças não vai à escola com receio do preconceito
existente em relação a elas. Claro que com o acelerado processo de
aculturação, um bom número de ciganos, disfarçadamente, estão
freqüentando as universidades e até ocupando cargos de importância na
vida pública do país e já chegaram até à Presidência da República. (Washington Luiz e Juscelino Kubitshek).
Para
o Povo Cigano, a Lua Cheia é o maior elo de ligação com o "sagrado",
quando são realizados mensalmente os grandes festivais de consagração,
imantação e reverenciação à grande "madrinha".
A
celebrações da Lua Cheia, acontecem todos os meses em torno das
fogueiras acesas, do vinho e das comidas, com danças e orações.
Também
para os ciganos tudo na vida é "maktub" (está escrito nas estrelas),
por isso são atentos observadores do céu e verdadeiros adoradores dos
astros e dos sidéreos.
Os
ciganos praticam a Astrologia da Mãe Terra respeitando e festejando
seus ciclos naturais, através dos quais desenvolvem poderes
verdadeiramente mágicos.
Para uma kalin (cigana kalon), descendente desse povo, essa é uma hora em que precisamos estar atentos e vigilantes para ouvirmos uma espécie de "chamado mítico"
que a dura realidade planetária está nos fazendo, e, nos unirmos em
corpo e espírito com as forças maiores que regem esse universo.
Os Ciganos são "povos das estrelas" e para lá voltarão quando morrerem ou quando houver necessidade de uma grande evacuação.
Há
milênios eles vem cumprindo sua missão neste Planeta, respeitando e
reverenciando a Mãe Natureza, trocando e repassando conhecimento.
Eles pregam a necessidade urgente de pisar na
superfície desse lindo "planeta água"
(símbolo da emoção e da sensibilidade que preenche nossos corações) observando não só a violência praticada contra as minorias,
como também os incríveis gestos de solidariedade humana
mostrados
via satélite ou pela Internet, na mesma velocidade da luz ou do
pensamento humano, nessa era de virtualidade nem um pouco caracterizada
pelas mais elementares virtudes.
OBS.:
Parte deste texto foi retirada de uma Palestra apresentada pela Cigana
Sttrada ( do clã Kalon) na 7ª edição do "Encontro para a Nova
Consciência", em Fevereiro de 1998, em Campina Grande-PB.
Postado por Sonia em anjo de Luz
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