Dr. Márcio Borges - geriatra
Aconselhamento para famílias de idosos de alta dependência
www.marcio-borges.com
"Dona Ricardina, viúva muito cedo, precisou costurar durante muitos anos para fora, para poder educar sua filha. Hoje, professora universitária, Maria Helena não tem tempo para ajudar a olhar a mãe, portadora de mal de Parkinson e osteoporose severa. Ela entrega todos os cuidados a duas moças acompanhantes, que não têm qualquer tipo de orientação ou instrução para serem cuidadoras. Como médico, em consultas não tão periódicas, vinha percebendo que dona Ricardina estava mais magra e desnutrida, mais triste e depressiva. As acompanhantes relatavam falta de apetite e saudades da filha, que pouca a visitava. Em minhas avaliações anotava anemia, aporte de proteínas baixo e perda de peso. Por mais que mudasse as medicações e indicasse um esquema nutricional mais eficaz, dona Ricardina não respondia ao tratamento. E eu não conseguia entender a razão.
Ao final de mais um dia de trabalho, reparei que uma senhora, que não tinha marcado consulta, estava me aguardando na sala de espera. Pedi que entrasse, depois de ter dispensado minha secretária, que já estava atrasada para pegar seu ônibus.
- Doutor, não vou tomar seu tempo. O que vou falar será muito rápido - Iniciou me cumprimentando.
- Sou também costureira e velha amiga de Ricardina. Escutei de uma vizinha dela, que sua filha pouco a visita e que suas cuidadoras não são nada daquilo que pensamos. Elas a tratam mal, gritam com ela e praticamente ficam vendo televisão o dia todo. Quando fui visitá-la semana passada, notei que tinha emagrecido muito. A cuidadora, não querendo muito papo, disse que o senhor, doutor, falou que a doença dela faz isto mesmo. E aproveitando um momento de descuido desta cuidadora, que tinha ido ao banheiro, abri a porta da geladeira e quase não encontrei nada, a não ser uma panelinha de macarrão tipo miojo, fria e que parecia ter sido cozinhada um dia antes. Sua vizinha já tinha me alertado sobre a história do miojo. Quando Ricardina não queria almoçar o dito macarrão, elas guardavam na geladeira para o jantar e até para o almoço do dia seguinte.
- Doutor, só o senhor poderá ajudar minha amiga a sair desta enrascada. O que estão fazendo com ela é maldade!"
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Os nomes estão trocados, mas a situação, acima, realmente aconteceu. Conversei com a filha, depois por telefone. Fui claro: ou mudava toda esta situação de abandono ou a denunciava por mau tratos à própria mãe! Felizmente, dona Ricardina encontra-se, hoje, bem amparada em uma casa de repouso de bom padrão, onde ganhou alguns quilos e recobrou um pouco da alegria de viver.
Muita se fala em crimes, em violência urbana, em narcotráfico e em violência contra crianças. Também são temas importantes e devem ser discutidos. Mas é muito comum todos esquecerem da violência e maus tratos contra os idosos. Principalmente contra os idosos mais fragilizados e dependentes, como é o caso de dona Ricardina.
Somente através da aplicação eficaz do ESTATUTO DO IDOSO e da educação e treinamento de familiares e cuidadores, encontraremos caminho para cuidar melhor de nossos idosos.
Gostaria de fazer uma enquete e saber de vocês, queridas amigas e amigos do Facebook e das Redes Sociais. Cuidar de Idosos, se já presenciaram ou denunciaram algum ato de maus tratos e violência contra pessoas idosas. Comente abaixo!
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Tags: A, CONTRA, DOS, ESCONDIDA,IDOSAS, MAUS, PESSOAS, SOMBRA,TRATOS
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