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sábado, 4 de janeiro de 2014

A ESTRELA DOS TRÊS REIS MAGOS:




Três Reis Magos seguindo a Estrela. St. Albans Psalter. 1140. Artista desconhecido.

A Estrela de Belém que guiou os três reis Magos até o local do nascimento de Cristo pode não passar de mais uma história mitológica, em que a aparição de uma nova estrela representava o nascimento de um novo Avatar. A mesma história se repete com o nascimento de Buda, Confúcio,Sócrates, Esculápio, Baco, Rômulo, dentre várias outras divindades. Convém relembrar alguns acontecimentos, que são citados abaixo.

Segundo os historiadores o Rei Herodes ou Herodes, o Grande, era um governante considerado muito cruel, pois destruía qualquer um que ele achava que tomaria seu poder. Ele tirou a vida de vários membros da sua própria família porque pensava que estavam conspirando contra ele.


Três Reis Magos (1915) por Henry Siddons Mowbray (1858-1928).

Quando um grupo de sábios, os chamados três reis Magos, vieram a Jerusalém, pouco tempo depois de Jesus ter nascido, perguntaram onde poderiam encontrar o recém-nascido rei dos Judeus. Disseram que haviam visto sua grande estrela no oriente e vieram adorá-lo (Mateus 2:1-2). Herodes ficou ciente disso e mandou chamá-los, pedindo para acharem o menino, para que assim ele também poderia adorá-lo. Vale dizer que o rei estava mentindo, sendo que seu verdadeiro objetivo era matar o menino, temendo que Jesus um dia tomasse seu poder. Através de um sonho, Deus avisou os sábios da trama de Herodes. Os magos, portanto, escaparam e Herodes ordenou a morte de todos os meninos em Belém que tivessem menos de dois anos.

Como observa teólogo alemão, Holger Kersten, em seu livro Jesus Viveu Na Índia, lançado em 1986:

“No segundo capítulo do evangelho de Mateus está escrito: “Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, no tempo, do rei Herodes, eis que vieram Magos do Oriente a Jerusalém, perguntando: ‘Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo’”. (Mateus 2:1-2).”


Adoração dos Magos por Giotto di Bondone (1267–1337). A Estrela de Belém é mostrada como um cometa acima da criança. Giotto testemunhou a aparição do Cometa Helley em 1301.

De acordo com o Evangelho de Mateus, o nascimento de Jesus foi anunciado após a aparição da Estrela de Belém, que guiou os Três Reis Magos até o local onde Cristo se encontrava. Convém ressaltar que registros demonstram que era uma prática entre astrólogos da antiguidade interpretar fenômenos astronômicos como anúncio do nascimento de reis. Como aponta Kersten:

“Se naquela noite tivesse acontecido de fato algum fenômeno astrológico extraordinário, estaria devidamente registrado nos documentos da época. Além disso, se tivesse realmente surgido alguma constelação especial naquela ocasião, seria hoje detectada com facilidade por computadores. Johannes Kepler, pesquisando sobre isso, levantou a hipótese de que a estrela de Belém poderia ser, talvez, uma nova (estrela nova), resultante da conjunção de Júpiter e Saturno no ano 7 a.C. Mais tarde essa teoria foi refutada pelos astrônomos. Essa nova de Kepler foi batizada por muitos com o nome de estrela de Belém. No decurso do ano 7 a.C, por três vezes ocorreu uma conjunção de Júpiter e Saturno na constelação de Peixes (o peixe tornou o símbolo de Cristo e um sinal de identificação entre os membros das comunidades cristãs primitivas). Esse fenômeno astronômico acontece a cada 794 anos, e todos os que o assistiram ficaram impressionados pelo espetáculo oferecido pela proximidade desses planetas, que, resplandecendo no céu noturno, parecem uma dupla estrela de grande brilho. Em 1925 o orientalista Paul Schnabel conseguiu decifrar uma pedra com inscrições cuneiformes encontrada no observatório de Sippar, no Eufrates, de 2000 anos atrás, e que descrevia, com exatidão, o fenômeno astronômico ocorrido no ano 7 a.C., isto é, a grande conjunção de Júpiter e Saturno, na constelação de Peixes.”


Estrela de Belém: conjunção planetária entre Júpiter e Saturno. Créditos: Wikipédia.

Vale lembrar que a primeira explicação astronômica dada a Estrela de Belém foi que teria sido um cometa. Quem primeiro lançou a hipótese de um cometa foi Orígenes, no século III. Astrônomos do século XVI propuseram que a Estrela de Belém era o cometa Halley. A Estrela de Belém é muito representada com uma cauda por causa disto. Nos dias atuais sabe-se que o Cometa Halley apareceu no ano 12 a.C.

Já os astrônomos chineses registraram um “nova estrela” na Constelação de Capricórnio no ano 5 a.C. Essa “nova estrela” poderia ser um cometa ou uma estrela explodindo (supernovas), já que os registros não nos dizem se essa nova estrela se movimentava em relação às estrelas de fundo.

Entretanto, a explicação mais próxima ao que realmente aconteceu é a citada acima por Kersten, em que houve uma tripla conjunção planetária entre Júpiter e Saturno no ano 7 a.C. O autor supramencionado continua:

“Em fins do ano 8 a.C., Júpiter e Saturno tornaram-se visíveis do lado do ocidente, após o crepúsculo. Nesse momento Júpiter localizara-se na constelação de Aquário e Saturno, na de Peixes, a uma distância de 16 graus um do outro. Em fevereiro do ano 7 a.C., ambos desapareceram e, por diversas semanas, permaneceram ofuscados pelos raios do sol. Os astrólogos orientais julgaram que deveria ter algum significado aquela primeira aparição de Júpiter, acontecida na aurora do décimo terceiro Adaru do ano 304 do império Selêucida, que pelos nossos cálculos, deveria tratar-se do dia 16 de março do ano 7 a.C. Eles observaram que Júpiter aproximou-se pouco a pouco de Saturno e que no final do mês Airu (19 de maio do ano 7 a.C.) os planetas se encontraram. A conjunção, em que Júpiter e Saturno se mantiveram a 21 graus de Peixes, separados por apenas um grau de inclinação e exatamente com o mesmo azimute, iria se repetir ainda duas vezes no mesmo ano, em 3 de outubro e em 5 de dezembro.


Clique para ver movimento da conjunção. Créditos: Wikipédia.

Ambos eram visíveis do entardecer ao amanhecer e alcançavam a maior intensidade de brilho ao atingir o meridiano, por volta de meia noite. Quando o sol se punha no ocidente, os planetas surgiram no oriente, e quando eles desapareciam no ocidente, surgia a aurora no oriente. No começo do ano esses planetas surgiam com o sol e, no final do ano, desapareciam com ele. Durante todo o ano eles ficavam visíveis, nunca se afastando um do outro mais de três graus. Esse espetáculo na constelação de Peixes só se repetiria daí a 800 anos.


A Estrela de Belém por Edward Burne Jones. 1890.

No evangelho de Mateus a estrela é mencionada apenas três vezes. Os magos dizem “… pois vimos sua estrela no oriente…”. No texto grego original encontramos uma referência ao anatole. Os lingüistas descobriram que a palavra anatole, no singular, tinha um significado astrológico muito especial. Designava o nascimento helíaco de uma estrela, isto é, seu surgimento a leste, a um certo ponto do horizonte, um pouco antes do sol. Empregada no plural, a mesma palavra tem conotação geográfica, e indica o Oriente. De fato, os três reis magos seguiram a aparição celestial na direção leste-oeste.


Júpiter e Saturno. Créditos: SpaceNepal.

A segunda referência do evangelho de Mateus a esse fenômeno também apresenta, no grego, um significado especial: “Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e procurou certificar-se com eles a respeito do tempo em que a estrela tinha aparecido” (Mateus 2:7). Em astronomia, o verbo aparecer era empregado para designar a primeira aparição de uma estrela nascente. De acordo com a crença popular da época, no momento em que nascia uma pessoa, nascia também uma estrela sua no céu. A pergunta de Herodes indicava que o nascimento de Jesus deveria ter ocorrido algum tempo antes do aparecimento da estrela. Segundo o calendário babilônico, Júpiter apareceu no crescente do último mês do ano 304 do império selêucida. O ano de 305 (6 a.C.) começou no mês primaveril de Nisan, que marcava o início do Ano-novo judeu. Quando os magos chegaram a Jerusalém, Júpiter já deveria estar no segundo ano de sua conjunção com Saturno, e assim Jesus teria nascido aproximadamente no ano 7 a.C., e tinha na ocasião quase dois anos de idade. De acordo com a lenda, teria sido, talvez, esse o motivo que levou Herodes a matar todas as crianças de até dois anos de idade.

O que atraiu esses misteriosos sábios do leste (neste caso a palavra anatole estaria no plural), levando-os a enfrentar os percalços de uma longa e penosa viagem que poderia ter durado meses, ou até anos? Na realidade, de onde vinham e por que perseveraram com tanto afinco na busca de um menino? Sozinha, a teologia não consegue dar nenhuma resposta a essas questões e à identidade dos três magos.”


4th century Sarcophagus. Vaticano.

Diante deste contexto, vale questionar se teria sido mesma essa conjunção planetária entre Júpiter e Saturno que guiou os três reis magos. Convém lembrar que era uma crença comum entre os magos, os astrólogos, os caldeus e os místicos dos países orientais da antiguidade, o cometa ao ser visto no céu ser a representação do nascimento de um Avatar ou de um líder, que se tornaria um redentor da humanidade. Esta crença tem origem com o nascimento de Krishna, que de acordo com as antigas crônicas essênias e rozacruzes, foi uma grande estrela que anunciou seu nascimento e os magos foram adorá-lo, levando presentes como sândalo e perfumes. A mesma coisa aconteceu com o nascimento de Buda, com o de Confúcio (551 a.C.), Mitra (o Salvador persa), Sócrates, Esculápio, Baco, Rômulo, dentre outros.


Journey of the Magi por James Tissot. 1902.

Interessante dizer que a Bíblia não menciona que os Magos eram astrólogos nem filósofos, sendo que podiam ser pessoas comuns. Entretanto, convém ressaltar que os Magos eram sábios instrutores e altos representantes das grandes academias e escolas místicas do Oriente. Pode-se dizer que a estrela já estava sendo observada durante meses, sendo que com seu movimento peculiar foram realizadas tabulações e concluída a ocasião provável de seu significado final. Escolheram alguns eruditos das escolas místicas para viajar até o local do nascimento.


Três Reis Magos. Basílica de Sant’Apollinare Nuovo in Ravenna, Itália: The Three Wise Men (Balthasar, Melchior e Gaspar). Detalhe de: “Mary and Child, surrounded by angels”. 526 AD. “Master of Sant’Apollinare”.

Pode-se concluir que a história da Estrela de Belém não passa de uma cópia mitológica que se tornou uma verdade, chegando a confundir até os cientistas. Foi uma coincidência incrível ter ocorrido uma conjunção planetária pouco antes do nascimento de Cristo. Pois assim, pode-se elaborar toda essa história de que a grande Estrela de Belém guiou os Magos até o local que Jesus nasceu. Virou de fato uma história mitológica com provas.

Vários seres importantes supramencionados, como Buda, Mitra, Krishna, etc., têm sua versão mitológica com a estrela de guia dos Magos, e a maioria dos cristãos não acredita nessas histórias nem mesmo nesses grandes mestres em si, e ainda conseguem acreditar fielmente na história de que uma estrela anormal guiou os três reis Magos.

Mariana Lorenzo

Referência Bibliográfica:

- KERSTEN, Holger. Jesus Viveu Na Índia. Editora Best Seller. Rio de Janeiro. 2007.

http://marianaplorenzo.com/2011/01/03/a-estrela-dos-tres-reis-magos/

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