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sábado, 24 de agosto de 2013

COMO O ORGULHO ATRAPALHA A NOSSA VIDA...




por Andrea Pavlovitsch -andreapavlovitsch@gmail.com



Minha avó foi uma pessoa especial para mim. Já ao nascer nos identificamos de cara. Ela tinha um jeito meigo e ao mesmo tempo forte, que sempre me cativou. Era uma mulher guerreira que, após sobreviver ao parto difícil do meu pai, seu único filho, e à guerra, fez as malas e veio tentar a sorte no Brasil. Tinha uma parca bagagem, o endereço de alguns parentes e uma força de vontade e garra incríveis.


Trabalhou em tudo quanto foi coisa, nos diversos empreendimentos que meus avós tiveram. Uma granja no porto de Santos, um bar, uma loja de utensílios domésticos. Tudo isso enquanto, como todo bom português, construíam casas. Ela construiu a própria casa, carregando tijolo por tijolo, até vê-la pronta. Casa em que viveu até seu último dia de vida, cedo demais, diga-se de passagem. Dela eu guardo o incrível amor que ela tinha por mim e pela família, a garra de fazer as coisas (mesmo paralítica) e o amor pelas plantas e pela cozinha.

Há alguns anos eu estava vivendo um inferno pessoal. Tive depressão e síndrome do pânico, tudo isso no auge dos meus 21 anos de idade. Tinha tudo o que uma garota poderia querer, mas minha mente não via isso. Sentia uma profunda tristeza, sentia um vazio existencial imenso, como se estivesse partida em duas. Tive um tipo de depressão atípica, regada a momentos de euforia. O pânico e crises compulsivas por compras e comida, fizeram-me ficar endividada e obesa em menos de um ano. Sentia que não existia saída. Meus pais me ajudaram como puderam, dentro do pouco conhecimento que ainda se tem sobre os distúrbios psiquiátricos. Fazia terapia e tomava remédios fortíssimos, mas nada parecia me tirar daquilo. Isso tudo aliado a uma parte espiritual latente, que achava que já tinha esperado demais para aparecer. O que eu senti e passei, até hoje, não desejo para o meu pior inimigo. Só quem teve na vida uma crise de pânico (e eu cheguei a ter três ou quatro por dia) sabe o que é o inferno. Quando você é um completo escravo da sua mente.

Um dia, no meio disso tudo, recebi uma mensagem psicografada da minha querida avó. Uma mensagem de um espírito preocupado com outro, principalmente com a neta querida que tinha ficado ainda na experiência da carne. Ela dizia que eu era forte, que tinha um grande futuro pela frente. Que precisava focar em ficar boa e deixar de ser orgulhosa.
Peraí! Pára tudo! Eu estava tomando pito da minha avó desencarnada? Ela tinha vindo do além pra me dizer que eu, euuuuuu, era orgulhosa? No meio daquele sofrimento todo? Das crises de pânico, dos dias sem sair de casa? Depois de ser assaltada quatro vezes, de bater o carro, de brigar com meus pais e de não ter um único centavo para nada, eu era orgulhosa?

Num primeiro momento, simplesmente ignorei. Ah, foi um erro de comunicação astral, não recebi a mensagem do Chico Xavier (era com certeza um "amador" qualquer) e aquilo deveria ser para outra pessoa. Eu não. Não, eu não tinha essas coisas.
E como diria ela mesmo "qual não tinha o que". É verdade que só me dei conta do meu incrível orgulho muitos anos depois, quando a vida percebeu que eu tinha mudado e me deu a segunda chance. Depois de anos de sofrimento, de intenções suicidas, de ganhar e perder milhões de coisas. Depois de ter sambado muito na minha cabeça, percebi o quanto não aceitava a vida.

Orgulho é isso. É não aceitar a vida e as coisas como são. É achar que a vida ainda lhe deve alguma coisa, que todas as pessoas devem algo para você. Por que todo mundo me trata mal? Por que as coisas não dão certo? Por que a fulana é ruim comigo? Por que meus pais me trataram assim? Por que meu grande amor me deixou? Por que existe louça para lavar e por que ninguém faz isso por mim? Orgulho é mimo! Ou mimo vivido ou o pretendido que não aconteceu. Orgulho é não perceber o quanto a vida é rica e o quanto ela lhe deu e dá todos os dias. Orgulho é não aceitar que tudo, tudo precisa de trabalho duro para acontecer. Orgulho é não prosperar com medo de perder. Orgulhos são os fracassados.

Percebi cada uma destas coisas em mim. Recomecei do zero! Deixei meu orgulho de lado e fiz coisas difíceis, que me ajudaram a entender a mim e aos outros. Trabalhei, trabalhei muito cada um dos meus aspectos mimados perante a vida. Aprendi a lavar um bom banheiro, a não deixar a tal louça na pia. Aprendi que tudo precisa de capricho e dedicação, desde uma pequena plantinha, até eu mesma. Aprendi que, se quero alguma coisa, preciso arregaçar as mangas e fazer por merecer. E sim, eu mereço muito, mas a vida não é generosa à toa. Ela cobra cada centavo, cada coisa que dá. Mas ela dá em abundância para quem tem olhos de ver.
Minha avó foi um anjo mesmo depois da sua morte. Ensinou-me uma lição que eu jamais vou esquecer. Que não existe trabalho menor ou pior. Que existe aquilo que precisamos fazer, pela gente. Lembro-me de um emprego que eu tive, mesmo depois de formada, em que entrava às sete da manhã. Era muito cedo, eu dormia muito pouco e um dia, indo para o trabalho de metrô, passei na frente de um lixo muito fétido e acabei passando mal no meio da rua. Pensei por um instante "eu não preciso passar por isso", para logo depois ser tocada por uma voz que disse: se você está passando é porque precisa sim.

Hoje eu ainda trabalho. Muito. Mais ainda. Tenho uma clínica e lá faço tudo com muito carinho. Desde um incenso que é aceso até o mais complexo dos tratamentos, tudo é pensado e analisando para o meu cliente. Hoje muitos conhecem os meus textos e gostam deles. Estou ampliando a clínica, tenho propostas e projetos interessantíssimos, e vou lançar meu livro em breve. E isso tudo porque, um dia, eu deixei de ser orgulhosa e presunçosa. Aceitei a ajuda do Universo e estou fazendo o meu caminho. E da próxima vez que for reclamar da sua vida, ou reclamar que um trabalho não é suficientemente bom para você, lembre-se destas palavras. Se quiser. Ou tente uma mensagem astral da sua avó! Comigo funcionou.

Texto revisado

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