O CORPO E A MENTE
A maioria de nós sente que nossas mentes (ou almas) e nossos corpos são por alguma razão essencialmente diferentes um do outro, seja lá o que for que pensemos em nossas reflexões mais racionais. Nós nos experimentamos como um ser que tem ou que está dentro de um corpo. Sentimo-nos profundamente recolhidos, guardados, um algo intangível que espia o grande mundo lá fora e que pode desfrutar de toda a sorte de capacidades e liberdades, limitados apenas pelo corpo. Nos bons tempos transcendemos esta prisão de carne. Estamos saudáveis apesar de suas doenças, jovens apesar de seus cabelos brancos e rugas, “puros” apesar de sua “corrupção”.
O RANÇO RELIGIOSO
Nos tempos ruins descemos até o fundo desse nível da carne e gritamos em desespero. “Infeliz de mim!”, clamou São Paulo. “Quem me livrará deste corpo de morte?; Assim, pois, eu mesmo sirvo à lei de Deus com o espírito; e sirvo à lei do pecado com a carne.” O discurso de Paulo acerca de corpos vis e a penitência por suas ações deixou uma marca indelével em todo o desenvolvimento da cristandade e, portanto, na psiquê do homem ocidental. Embora sendo um apóstolo, ele foi por sua vez produto de sua própria educação e cultura — no seu caso em particular, os sentimentos expressos em Fédon e na República de Platão, cerca de meio milênio antes, e transmitidos por todos os tempos pelas tradições platônica e neoplatônica. “Enquanto nos ativermos ao corpo e nossa alma for contaminada por suas imperfeições”, queixava-se Sócrates, “estamos perdidos para nossa busca da verdade. O corpo nos enche de amores e desejos e medos e toda sorte de fantasias e um monte de bobagens, com o resultado de que literalmente nunca temos uma oportunidade de pensar sobre coisa alguma.” Por sua vez, Sócrates ficou muito grato pela cicuta, aguardando ansiosamente uma boa morte, após a qual sua alma imortal estaria finalmente livre para cuidar do que realmente interessa. Por mais que nossa razão moderna queira livrar-se da dicotomia mente—corpo, alma—corpo, este profundo condicionamento cultural nos mantém cativos, em boa parte porque a física dos últimos trezentos anos o apóia.
Desde que Descartes trouxe o dualismo à sua mais sucinta e poderosa expressão no século 17, apoiando-o nos novos conceitos mecânicos de massa e matéria, filósofos posteriores procuravam em vão construir uma alternativa viável. As pessoas comuns vêm tendo o mesmo problema. Devido à nossa noção corriqueira, essencialmente newtoniana, do que a matéria é, e portanto do que os corpos são, não conseguimos ver como eles poderiam ter qualquer semelhança com a mente. A física newtoniana apossou-se da antiga noção platônico-cristã de que a matéria era algo “baixo, inerte, informe” e a aguçou considerávelmente. A matéria era algo que tinha peso e extensão, era essencialmente constituída de átomos, pequeninos corpúsculos que se comportavam como uma coleção de bolas de bilhar. Era, então, sólida, influenciava mecânicamente outras matérias através do contato e, o mais importante, por ser uma quebra com o passado, era completamente desprovida de mente. A matéria não tinha propósitos ou intenções. Não havia átomos de desejo, de vida ou de alma como haviam existido para alguns dos atomicistas primitivos da Grécia Antiga. Assim, a nova ciência física do século 17 não tinha nada a dizer sobre o lado espiritual ou psicológico da vida. O físico se contrapunha ao mental como um mundo à parte, e por sua vez o mental passou a ser visto em termos não físicos. Dois conjuntos completos de categorias opostas emergiram para descrever as duas esferas radicalmente diferentes da existência, e em grande parte permanecem assim até hoje, estampados em nossa maneira de nos percebermos.
MENTE E SUAS DIMENSÕES
Nossas mentes são secretas, localizadas em todo lugar e em lugar nenhum ao mesmo tempo, impermeáveis a medições físicas. Não podemos dizer que a mente tem 8 polegadas de largura e pesa 1,1 quilo como se pode dizer do cérebro, e tampouco podemos vê-la ou deixar que os outros a vejam como deixamos que vejam nosso braço ou nossa perna. Nossas mentes estão repletas de esperanças e temores, motivadas por desejos e expectativas, entregues à perseguição de objetivos — ao passo que nossos corpos, sendo coisas completamente físicas, comportam-se mecanicamente, mais ou menos como os carros ou as torneiras. Nossas mentes são entrelaçadas de memória. Nossos corpos — deixando de lado as habilidades — só enxergam o momento presente. Nossas mentes são holísticas e parecem emergir “de algum lugar” já completas, ao passo que nossos corpos são evidentemente feitos de átomos isolados reunidos segundo as leis da física e da química, sendo que cada átomo não se preocupa com sua origem e é substituível por outro igual em qualquer tempo. “A existência de um corpo humano poderá, portanto, ser elaborada a partir da quantidade suficiente de qualquer coisa — livros, tijolos, ouro, pasta de amendoim, piano de cauda. É preciso apenas organizar adequadamente os componentes básicos”, observa Thomas Nagel. Não diríamos o mesmo da mente. O filósofo americano Herbert Feigl montou uma tabela com essas características opostas com as quais divide o mundo em mental e físico , e disse com toda propriedade que sua aparente incompatibilidade repousa no cerne do que os filósofos chamam de o “problema mente—corpo”.
O MATERIALISMO
Em vista de tanto contraste, não é de admirar que o dualismo nos mantenha a todos sob seus encantos. As alternativas óbvias parecem igualmente indigestas, ou simplesmente impossíveis. Veja o caso do materialismo, por exemplo; a afirmação de que os aspectos físicos da realidade são a única coisa que realmente existe e que qualquer aspecto mental ou espiritual é ou totalmente dependente da matéria para existir, ou então inexistente. Para o materialista não há uma “substância pensante não extensa” como a que Descartes via na mente, nem anjos, deidades, espíritos ou almas imortais. Para que algo exista, diz ele, é preciso que tenha substância, o substancial é o físico, e o físico é feito de matéria, que por sua vez é feita de átomos. Assim, nós, os “nós mesmos” que percebemos como sendo nós, na verdade somos apenas um certo número de átomos sumáriamente reunidos. Nós somos nossos corpos, e nossa mente é mera reflexão de vários processos atômicos ou nervosos.A motivação para tal materialismo é muito antiga e nasce tanto do desejo de simplificar nossa visão da natureza como de livrar a humanidade daquilo que muitos viram como superstição e temor religioso. A urgência em atingir uma explicação unificada para todas as coisas, inclusive nós mesmos e nosso lugar no Universo, intensificou-se particularmente com a ascensão da ciência moderna e com o ímpeto de acreditar que as novas leis da física poderiam explicar tudo o que existe. Mas, como nossa visão pós-cartesiana do físico, por definição, exclui o mental, essa corrida para abraçar a perspectiva científica através de um caso amoroso com a realidade material levou a uma negação daquilo que a maioria de nós considera como o melhor e mais interessante lado da natureza humana.
MATERIALISMO X IDEALISMO
O materialismo nu e cru simplesmente não consegue explicar a consciência. No extremo oposto de uma resposta materialista ao problema mente—corpo, alguns filósofos — os “idealistas” — propuseram que, em vez de a mente depender da matéria para existir (ou não existir de uma vez), na realidade ocorre o contrário. A mente é fundamental, a mente funciona como intermediário e, em grande medida, cria o que quer que percebamos ou queiramos designar pela palavra “matéria”. Assim, para o idealista, a mente é inquestionávelmente real enquanto o corpo não passa de um certo número de impressões e idéias nela contidas. O idealismo tomou muitas formas, desde o tipo mais extremado, que assevera que o mundo material é uma ficção da imaginação, até o tipo mais cauteloso, que argumenta simplesmente que todas as qualidades que percebemos do mundo material dependem da mente, ao passo que a matéria em si é bastante real em algum sentido. Variações sobre esse tema derivam das interpretações da teoria quântica que sugerem ou que a consciência provoca o colapso da função de onda, sendo assim necessária à criação da realidade, ou que não faz sentido perguntar se existe matéria, ou que matéria existe além daquela que nossas observações nos permitem conhecer, pois tais observações são o máximo que podemos conhecer. Mas, em qualquer de suas formas, o idealismo não assenta bem com nossas intuições fundadas no bom senso sobre o mundo da experiência sensível, e tampouco se adequa ao desenvolvimento da ciência objetiva — nos passos do novo subjetivismo oriundo da física quântica popularizada. É uma teoria que satisfaz poucos daqueles que querem compreender o relacionamento entre mentes de verdade e corpos de verdade. Porque nem materialismo nem idealismo parecem oferecer uma resposta adequada ao problema mente—corpo, houve sempre uma terceira maneira tradicional de abordagem: a do pampsiquismo(ver post anterior da série).
Se corpos sem mentes são coisas demasiadamente brutas, e mentes sem corpos demasiadamente etéreas, talvez não haja realmente como separar um do outro. Talvez o mental seja, na verdade, uma propriedade básica do material e vice-versa. Talvez o “material” básico subjacente do Universo seja uma “coisa” só, que possui dois aspectos. Contudo, diferente do materialismo ou do idealismo, ele procura fazê-lo sem negar a realidade nem de um nem de outro. Um pampsiquismo limitado, que atribua algum tipo de propriedade consciente muito primitiva aos componentes básicos da matéria, é o que chega mais perto da argumentação desenvolvida nesta série; Em primeiro lugar, nenhuma forma de pampsiquismo desenvolvida até hoje chega ao verdadeiro cerne do problema. Mesmo se dissermos que mente e corpo estão essencialmente interligados no mais profundo do seu ser, porque todos os componentes materiais do corpo em si possuem propriedades mentais, ficamos ainda sem saber o que é uma propriedade mental e como é que a matéria pode ter tal coisa. O pampsiquismo tradicional não resolve o problema mente—corpo neste nível, apenas o transfere para um nível mais primário da realidade onde, finalmente, se os elétrons são de fato conscientes, teremos de concluir que eles têm uma questão mente—corpo. Também é verdade, e certamente relevante quando se está procurando fazer com que uma solução pampsiquista para o problema mente—corpo seja convincente, o fato de que quase qualquer forma de pampsiquismo até hoje concebida é embaraçosa. Mesmo quando atenuantes como “muito primitiva”, “elementar” ou “proto” são empregadas para discutir a consciência das partículas elementares, não podemos deixar de construir imagens de elétrons “apaixonados” um pelo outro ou então angustiados por não saber se terão um bom desempenho no próximo experimento de duas aberturas. Tal embaraço faz com que muitos daqueles que são atraídos pelo pampsiquismo, na falta de outra teoria melhor, sintam necessidade de se desculpar.
LEIA MAIS;David Chalmers, notóriamente conhecido no campo da Filosofia da mente pelo livro The conscious mind: in search of a fundamental theory
Sob a fria luz da sobriedade continuamos com a impressão de que o pampsiquismo, em sua forma atual, agride a sensibilidade moderna, como aliás também o fazem o materialismo, o idealismo e o dualismo. Há algo profundamente errado nas abordagens tradicionais do problema mente—corpo, pois todas se apóiam fundamentalmente em idéias antiquadas sobre a matéria e/ou deixam de perceber como as idéias mais atualizadas (as que vêm da física quântica) poderiam contribuir muito para explicar como algo que acontece em nosso cérebro físico (objetivo) pode dar origem a todas as características mentais associadas à mente (subjetiva). O problema parece tão grande que alguns filósofos alegam que não há solução. Segundo Colin McGinn, de Oxford, “a mente talvez seja simplesmente pequena demais para compreender a mente”. Adotando uma linha mais otimista, o problema talvez necessite apenas de uma abordagem muito diferente, uma que combine as últimas descobertas sobre a física da matéria com aquilo que podemos conjeturar a respeito da física da consciência. Se reunirmos o conceito de matéria que brota da teoria quântica com um modelo mecânicoquântico da própria consciência, todo o “aspecto” do relacionamento mente—corpo muda radicalmente, e o fez de modo a iluminar tanto a verdadeira natureza dupla da realidade quântica como o significado da consciência. A matéria do nível quântico, devemos ter em mente, não é muito “material”, certamente não no sentido que seria reconhecido por Descartes ou Newton. No lugar das íntimas bolinhas de bilhar movidas por contato ou por forças, há apenas uns tantos padrões de relacionamento ativo, elétrons e fótons, mésons e núcleons que nos irritam com suas ardilosas vidas duplas; ora são posição, ora momento, ora partícula, ora onda, ora massa, ora energia — e todos reagindo entre si e com o ambiente.
Existência e relacionamento são um só emaranhado na esfera quântica, como na vida diária. São os dois lados da moeda quântica e são básicamente o que queremos dizer com a dualidade onda—partícula. Assim como a mente e o corpo são os dois lados da existência humana, aquele alerta, ou percepção de fundo não focalizado, e o pensamento concentrado são os dois lados de nossa vida mental. A dualidade onda—partícula é uma boa metáfora para um relacionamento mente—corpo profundamente integrado, mas, diante da idéia de que a própria consciência nasce de uma ordenação coerente de relacionamentos virtuais dos fótons no sistema quântico do cérebro (seu condensado de Bose-Einstein-LEIA MAIS;international-institute-of-biophysics/”—O que é um condensado de Bose-Einstein), ele se torna muito mais que uma metáfora. A dualidade onda—partícula do “material” quântico toma-se o relacionamento mente—corpo mais primário do mundo, e no cerne de tudo isso, em níveis mais elevados, os reconhecemos como os aspectos mental e físico da vida. Por ser tão primária, e portanto irredutível a outra coisa ou processo, a dualidade onda—partícula nos permite ver a origem do mental e do físico e aquilo que eles realmente significam. Em qualquer sistema quântico de duas ou mais partículas, cada partícula tem igualmente “capacidade de ser” e “capacidade de se relacionar”, a primeira devido a seu aspecto partícula, a segunda devido ao aspecto onda. Por força do aspecto onda e das coisas que ele permite que ocorram é que os sistemas quânticos apresentam uma espécie de relacionamento íntimo, definitivo entre seus membros constitutivos que não existe nos sistemas clássicos. Se temos, por exemplo, um grupo de bolas de bilhar newtonianas saltando dentro de uma caixa, elas têm realmente um relacionamento umas com as outras. Elas colidem e alteram a posição e o momento umas das outras. Elas impedem que outra ocupe o mesmo lugar ao mesmo tempo. Elas se atraem devido à força da gravidade e, se eletricamente carregadas, poderão atrair-se ou repelir-se conforme o caso. Algumas, se maiores ou mais elásticas que as outras, poderão ser vistas como dominando as menores e menos elásticas. No entanto, todos esses relacionamentos são externos. Eles influenciam o comportamento das bolas, mas não alteram suas qualidades internas. Não obstante as forças que agem entre elas, essas bolas continuam sendo redondas, elásticas e distintas, cada uma com massa própria, posição e momento próprios. Mas um grupo de elétrons soltos numa caixa terá um relacionamento muito diferente. Como os elétrons são tanto ondas como partículas (simultâneamente), seus aspectos onda interferirão uns com os outros, haverá sobreposição e fusão, levando os elétrons a um relacionamento existencial em que suas verdadeiras qualidades interiores — massa, carga e spin, além de sua posição e momento — tornam-se indistinguíveis do relacionamento entre eles.
Todos são afetados pelo relacionamento, deixam de ser coisas separadas e tornam-se partes de um todo. O Todo possuirá, como tal, massa, carga e spin definidos, mas não há nenhuma determinação de quais elétrons constitutivos estão contribuindo em que para esse todo. Na verdade, já não tem sentido falar nas propriedades individuais dos elétrons constitutivos, pois estas estão continuamente se alterando para satisfazer as exigências do todo. Esse tipo de relacionamento interno só existe nos sistemas quânticos e foi chamado de “holismo relacional”. Para termos uma melhor idéia do que é o holismo relacional, imaginemos um exemplo mais corriqueiro. Digamos que eu jogue duas moedas exatamente no mesmo instante e que o resultado da jogada seja sempre uma cara e uma coroa. Neste exemplo, não se pode determinar de nenhum modo que moeda cairá assim ou assado, mas elas cairão sempre de maneira oposta uma à outra. O sistema como um todo possui a propriedade de que as moedas estão negativamente correlacionadas. Contudo, o sistema não provoca nem causa a queda das moedas de um jeito ou de outro — ele simplesmente as leva a um relacionamento no qual elas estão negativamente correlacionadas. O tipo de relacionamento quântico que cria algo novo pela reunião de coisas originalmente distintas e separadas é importantíssimo e por si só abre novos panoramas na filosofia da física. Mas sua importância vai muito além da física. Acreditamos que tal relacionamento seja tanto a origem como o significado do lado mental da vida. Ao dizer isso estamos sugerindo que a consciência, ou o mental, está no nível mais básico da existência, um padrão de relacionamento ativo, o lado onda da dualidade onda—partícula; assim como o lado físico da vida — e isto é bem mais fácil de compreender — se origina do lado partícula dessa dualidade . Essa definição essencial da consciência como relacionamento pode ser aplicada e verificada como verdadeira em todos os níveis e graus de consciência. No nível de consciência que compreendemos, que tem origem em nosso próprio cérebro, o “holismo relacional” quântico poderia surgir da correlação de ondas do poderoso campo eletromagnético do cérebro, criado pela vibração de moléculas de gordura ou proteína carregadas no interior da membrana das células nervosas. Seu relacionamento formaria algo parecido com um condensado de Bose-Einstein do tipo do sistema de Fröhlich,(post anterior da série) a forma mais ordenada de relacionamento possível neste mundo. Esse estado de coisas é, então, o que dá origem à unidade da consciência, o “quadronegro” sobre o qual são escritos nossos pensamentos, sentimentos e percepções. Isto é, um condensado de Bose-Einstein do tipo encontrado em tecido vivo.;O físico (coisas que se relacionam); O mental (o relacionamento que há entre elas).
A ESFERA QUÂNTICA
O interessante de se ver a consciência dessa forma é que ela nos diz algo importante sobre o lugar do homem no esquema geral das coisas. O relacionamento entre esses aspectos onda correlatos no cérebro humano e o dos aspectos onda correlatos de dois prótons ou elétrons num simples sistema quântico é, em princípio, os mesmos. De alguma forma importante, nossa consciência é o relacionamento entre partículas quânticas elementares só que em ponto grande. Portanto, compreendendo a natureza mecânico-quântica da consciência humana — vendo a consciência como um fenômeno de onda quântico —, poderemos traçar a origem de nossa vida mental até suas raízes na física das partículas, como sempre foi possível quando procurávamos a origem de nosso ser físico. A dualidade mente—corpo (mente—cérebro) no homem é um reflexo da dualidade onda—partícula, que é subjacente a tudo o que existe. Assim, o ser humano é um minúsculo microcosmo do ser cósmico. Somos, em nosso ser essencial, feitos do mesmo material e sustentados pela mesma dinâmica que responde por tudo o mais no Universo. Da mesma forma, e o que revela a enormidade desta realização, o Universo é feito do mesmo material e sustentado pela mesma dinâmica responsável por nossa existência. Interpretando a consciência dessa forma, como um tipo especial de relacionamento criativo possibilitado pela mecânica ondulatória quântica, muitas coisas entram no lugar, oferecendo melhor compreensão tanto da consciência em si como de seu relacionamento com a matéria, como acontece em nosso cérebro. E mais importante, se queremos combater o materialismo e toda sua ética reducionista, essa visão nos permite argumentar que a mente não é um mero ramo da função cerebral. Assim como o relacionamento entre dois elétrons cujas funções de onda se sobrepõem não pode ser reduzido às características individuais de cada um dos dois elétrons, também o relacionamento das ondas que formam o condensado de BoseEinstein da consciência não pode ser reduzido às atividades de moléculas vibráteis individuais. Nós não somos nosso cérebro. O condensado é uma coisa em si, uma coisa nova com qualidades e propriedades que suas partes constitutivas não possuíam. JOGO DE XADREZ
No caso de duas pessoas que se apaixonam,podemos sugerir que não há ali apenas o amante e o amado, mas também um terceiro elemento, que é o amor entre eles;chamamos esse terceiro elemento de “the between” (aquilo que fica entre dois elementos), a força unificadora que leva um Eu e um Você para um Eu-Você; O amor é um exemplo particularmente adequado de holismo relacional, mas há outras analogias que ajudam a tornar essa idéia familiar. Pense, por exemplo, no jogo de xadrez. Suas “moléculas”, sua “matéria cerebral”, são o tabuleiro e as trinta e duas peças; porém o xadrez em si é mais que esses pedaços de madeira entalhada. O jogo é um padrão mutável de regras e relacionamentos entre as peças e entre os jogadores que as movem, entre os cálculos dos jogadores e suas psicologias, e são essas coisas que dão sentido à verdadeira mecânica do jogo. Ou, melhor ainda, porque assim levantamos a questão da arte e seu significado, considere o quadro de Van Gogh retratando um par de sapatos de camponês. O substrato material do quadro é a tela e as massas de tinta espalhadas sobre ela, mas a obra de arte que nos encanta novamente a cada vez que a contemplamos não pode ser reduzida a tais coisas, nem às intenções e propósitos de Van Gogh e tampouco à sua história de vida. O quadro é uma coisa em si mesma, um todo que revela algo sobre o mundo e que não fora revelado antes, e o faz pela reunião (relação) dos sapatos ao camponês que os usava, a seu trabalho e ao solo sobre o qual esse trabalho era feito, e a todas as coisas que o solo e a terra significam para nós. Em seu ensaio sobre estética, o filósofo alemão Martin Heidegger associa tal inteireza com a revelação da verdade e do Ser: A verdade acontece na pintura de Van Gogh. Isso não significa que algo foi corretamente retratado, mas, antes, que, na revelação do ser instrumental dos sapatos, aquilo que é como um todo chega a um estado de não ocultamento e mais: A essência do não ocultamento daquilo que é, pertence ao próprio Ser.
O holismo relacional, que é a essência da consciência (sua unidade), é também a essência da arte e da verdade. E a ponte entre esse tipo de inteireza e o mundo físico — portanto a ponte entre mente, verdade e beleza e o mundo material — pode enfim ser compreendida ao traçarmos a origem dessa ponte até as origens de um e outro na dualidade onda—partícula. Nesse nível mais primário, nem ondas nem partículas podem ser reduzidas umas às outras. Sua existência conjunta é uma unidade inseparável. Como expressou o filósofo romano Lucrécio: “Pois os dois estão entrelaçados por raízes comuns e não podem ser separados sem resultar em desastre manifesto. Seria mais fácil arrancar o perfume de dentro dos pedaços de incenso sem destruir sua natureza do que abstrair a mente e o espírito de todo o corpo sem dissolução total. Assim, desde sua origem mais primeva os dois estão onerados por uma vida comunitária pelo emaranhado de átomos que os compõem (…) pelos movimentos de interação dos dois combinados é que a chama da consciência se acende em nossa carne”. Lucrécio acreditava que o espírito consistia em “átomos de espírito”, e, por isso, é classificado como um materialista segundo os termos tradicionais. Mas se seus átomos de espíritos fossem traduzidos para “ondas de espírito” (relacionamento), como bem poderia acontecer caso ele conhecesse a física quântica e a dualidade onda—partícula, sua apaixonada crença na unidade sutil da mente com o corpo seria muito parecida com a que ora estamos desenvolvendo. Talvez os materialistas de hoje sofram uma conversão similar caso venham a se inteirar dos desenvolvimentos da moderna física. Também se conclui da visão de que a consciência é uma espécie de relacionamento quântico que ela não pode, em nenhum sentido, ser uma “propriedade” da matéria, como argumentam muitos pampsiquistas. Ela não pode remontar ao ser de uma única partícula elementar de matéria porque é essencialmente um relacionamento entre duas ou mais partículas. A consciência é, em essência, relacional, e só pode surgir quando no mínimo duas coisas se reúnem. “São precisos dois para dançar o tango.”
Assim, a forma mais elementar possível de mentalidade seria uma consciência muito primitiva ligada a duas partículas com funções de onda sobrepostas. Qualquer coisa acima disso, os muitos estados e graus de consciência dependeriam dos muitos tipos e graus de relacionamento — que, por sua vez, dependeriam dos muitos tipos e graus de estrutura. Nossa consciência humana, portanto, não é diferente em espécie daquela associada às mais elementares formas de vida ou à matéria elementar, mas é diferente em grau e nível de complexidade. Por fim, é importante nos perguntarmos se as propriedades mentais primitivas estão associadas a todos os sistemas quânticos onde há sobreposição de funções de onda ou apenas a um tipo particular. Há alguma razão especial para que a consciência pareça estar estabelecida nos sistemas vivos, ou isso é apenas um preconceito nosso que nos impede de ver a vida mental em tudo o que nos cerca? Na verdade, no mundo da natureza, as partículas se apresentam em dois tipos básicos, férmions e bósons. Os férmions, partículas que se combinam para nos dar a matéria (elétrons, pró-tons e nêutrons), são essencialmente anti-sociais. Suas funções de onda podem se sobrepor um pouco, mas nunca inteiramente. Elas são sempre individuais em alguma medida. Os bósons, por outro lado — fótons e fótons virtuais, as partículas w+ , w- e z°, os glúons e gráviton se eles existirem — são partículas de relacionamento. Elas são as partículas portadoras das forças que sustem a unidade do Universo e são essencialmente gregárias. Suas funções de onda podem se sobrepor a tal ponto que elas se fundem inteiramente, fazendo assim com que compartilhem suas identidades, abrindo mão de qualquer direito à individualidade.
Bósons e a Consciência
Um condensado de Bose-Einstein, que é o grau extremo de relacionamento exigido para que se tenha a unidade da consciência, é assim chamado porque é feito de bósons — no caso do sistema em tecidos vivos de Fröhlich, de fótons virtuais. Mas, se a partilha de identidade através da completa sobreposição de funções de onda constitutivas é fundamental para a unidade da consciência, seria de supor que apenas pares de bósons (ou sistemas maiores de bósons) poderiam ser associados a uma mentalidade primitiva. Assim, a característica especial dos sistemas vivos, embora não exclusiva deles, é sua capacidade de sustentar a condensação de Bose-Einstein e, portanto, a mentalidade. Contudo, isso não oferece uma divisão clara no mundo material em partes que são “protoconscientes” e partes que não são, pois, sob certas circunstâncias, os férmions podem formar pares que então, combinados, se comportam como bósons. As ligações químicas covalentes que unem moléculas orgânicas são feitas, na verdade, a partir das propriedades de tais pares de elétrons. Elas também dão aos supercondutores suas propriedades especiais, assim como os núcleos de He4 são a base para os superfluidos. Tanto supercondutores como superfluidos e o sistema em tecidos vivos de são condensados de Bose-Einstein, e combinados com o sistema de computação adequado provavelmente gerariam uma mentalidade estruturada de alguma utilidade. Esta poderá ser a base para computadores quânticos. Mas, sob condições normais, os férmions só cuidam da própria vida. O holismo relacional encontrado em sistemas de férmions, responsáveis pela maior parte de nosso mundo material diário, é uma espécie de primo em primeiro grau do holismo relacionai extremo encontrado nos sistemas de bósons, onde a identidade das partículas é compartilhada. Esta é, porém, uma diferença fundamental: não fosse assim, não haveria nenhuma diferença entre o mundo da matéria e as forças entrepostas a ela, entre as esferas mental e física; e as coisas não poderiam ser como são. É porque os férmions não conseguem entrar no mesmo estado (compartilhar identidades) que a matéria pode ser sólida. A solidez da matéria depende da insociabilidade. Por outro lado, é porque os bósons conseguem entrar no mesmo estado que temos ondas e forças de grande escala. Mas não há uma demarcação nítida e nas circunstâncias certas mesmo o férmion mais ferrenhamente individualista pode ser levado a um relacionamento mais profundo. Nenhum recluso está completamente a salvo das tentações da sociedade. De fato, essa tensão entre partículas e ondas no nível quântico parece espelhar de modo interessante a tensão similar entre indivíduos e grupos na sociedade humana, levantando a questão do significado e da natureza da identidade grupal e individual, do modo como as experimentamos, e a questão de se as raízes de ambas não estariam fincadas na natureza mecânico-quântica da consciência.
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CONCLUSÃO E NOTA DO BLOG
Toda a trama da ascensão espiritual se baseia na abertura terapêutica da consciência divina. A consciência divina é a base e origem da consciência dual e distorcida que temos da realidade e através da qual percebemos o cenário cósmico e nossa vida. Esta consciência distorcida é a que filtra e reflete nosso nível de evolução que deve estar mediado por parâmetros existenciais arcaicos, onde a sobrevivência e a busca da felicidade são a tônica dominante. Devido a esta perspectiva distorcida é gerado em nosso mundo e relações interpessoais, discrepâncias e conflitos de interesses que minam nossa sensibilidade e integridade espiritual. Devido a nossas tendências retrógradas e padrões de conduta discordantes percebemos o entorno e aos demais como adversários e competidores que colocam em perigo nosso bem estar psicofísico e felicidade. Esta visão rudimentar se deve à tendência à exploração e manipulação muito arraigada em nossas mentes, onde o egocentrismo é o protagonista devastador que dirige nossas vidas e o cenário social. Nossa atitude e conduta beligerante e tribal é uma projeção dos padrões de pensamento e emoções tóxicas, que eclipsam nossa perspectiva e visão da vida e da evolução. Nosso condicionamento é um produto da bagagem evolutiva que trazemos de uma encarnação a outra, gerando uma sequência existencial problemática onde a incerteza e o conflito predominam. Por nossas condutas retrógradas temos inclinação a nos identificar com nossas mentes disfuncionais que processam ambições e desejos que corroem nossa sensibilidade espiritual e deterioram nossos corpos inferiores. Ainda que nossos programas evolutivos sejam variáveis e reprogramáveis, se baseiam em arquétipos de consciência retrógrada porque com nossos pensamentos, sentimentos e ações os consolidamos em nossa mente subconsciente. Práticamente vivemos imersos numa dinâmica de inconsciência permanente onde nosso subconsciente sabota e dirige nossa vida, gerando sequências repetitivas conflitivas e dolorosas que criam campos energéticos patológicos que nos prejudicam. Estamos entrando na sequência de grandes transformações planetárias, sociais e individuais como um detonador programado para equilibrar e refinar nossa sensibilidade e consciência espiritual. Não temos consciência de que somos um todo homogêneo como seres de luz ,que escolhemos submergir em experiências existenciais que contribuem para tornar opaca nossa identidade espiritual.Atualmente estamos em um vórtice de catarse evolutiva-espiritual que o universo e o Plenum Cósmico/Deus planejaram para remodelar a humanidade que, até o momento presente, tem se guiado pelo egocentrismo e pela divisão como manifestação evidente da sobrevivência do mais astuto e poderoso. Nossa vulnerabilidade psico-física-emocional é ainda muito grande, a qual incide em nossa conduta discordante que gera toxinas energéticas em nossos corpos inferiores e que também afetam e contaminam a noosfera e os campos energéticos do planeta.
Estamos imersos na espiral da fusão do “Tempo Cósmico Evolutivo” onde estamos compelidos a enfrentar às lições evolutivas que são requeridas para nos graduar e nos despojar dos estados sombrios que cultivamos no decorrer da evolução até agora. A abertura terapêutica da consciência divina é um mecanismo de transformação evolutiva que nos ajudará a recuperar nossa sensibilidade espiritual. As pautas e orientação estão sendo dadas constantemente, mas devemos aplicá-las em nossa vida. A preguiça espiritual é uma expressão de nossa falta de interesse, porque no fundo pensamos que é melhor viver no caos, onde o poder e a manipulação dos egos é a inspiração que dá sentido a nossa vida. Isto é um erro de avaliação e é necessário corrigi-lo;A abertura terapêutica da consciência divina é uma atitude de consagração aos paradigmas espirituais universais que os mestres do passado nos legaram, e que as esferas de luz nos recordam e atualizam para que nossa vida seja melhor, próspera e que sejamos promovidos á um nível de evolução superior. Esta opção de ascensão espiritual é factível para todos aqueles que realmente tem compreendido sua origem e identidade espiritual e com o direito a fazer parte do plano divino que a Fonte Infinita tem projetado para nossa redenção espiritual. Isto requer um compromisso pessoal e uma grande dose de integridade e sinceridade espiritual que devemos avaliar e por em prática para que a nova humanidade se manifeste e celebre a ascensão de um coletivo de indivíduos que apostaram e compreenderam seu lugar maravilhoso no universo .
EQUIPE DA LUZ É INVENCÍVEL
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Bibliografia para consulta
Gerenciamento Quântico
Charlotte Shelton
O Ser Quântico
Dana Zohar
Além da matéria
Robson Pinheiro
.Mente e Consciência
Paul M. Churchland
A Janela Visionária
Amit Goswami
Nota:Biblioteca Virtual—CONSULTE NOSSO CANAL DE VÍDEOS
Divulgação: A Luz é Invencível
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