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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

DANÇA DO VENTRE, KHAN EL KLALILI, QUANDO E COMO COMO COMEÇOU?


DANÇA DO VENTRE
"Como" e "Quando" começou na Khan el Khalili
Revisado em Jan/2010
por Jorge Sabongi

 

Vou procurar fazer um resumo em poucas linhas de como a dança oriental se desenvolveu no Brasil, a partir da Khan el Khalili.

 É claro que em se tratando de algumas décadas fica difícil mencionar tantos fatos, mas a idéia é oferecer um panorama de como a dança do ventre veio, aconteceu e continua em ascensão.
COMO ERA A DANÇA NO INÍCIO

Em nosso país, no início dos anos 70, apenas alguns restaurantes árabes na Cidade de São Paulo, como Semíramis, Bier Maza e Porta Aberta possuíam apresentações de dança do ventre como atração para seu público freqüentador (em sua maioria, pessoas da colônia árabe).

Não havia em nenhum outro lugar.
Em geral, três músicos tocavam num pequeno palco (alaúde, derback e dâff), e num determinado momento do jantar eram chamadas uma ou duas bailarinas para realizarem suas apresentações. 

Existia uma geração de pouquíssimas bailarinas no Brasil que se apresentavam nos restaurantes acima.  Na verdade, no total, não chegavam a encher os dedos de duas mãos.  Eram elas: Shahrazad, Samira, Rita, Selma, Mileidy e Zeina. 

O aprendizado acontecia de maneira informal e sem fontes de informações seguras. 

Shahrazad é armênia e pela própria descendência, tinha uma técnica elaborada e diferenciada.  Devemos lembrar que não existiam computadores, fax, celulares, CDs, vídeos VHS, fotos digitais, imagens atualizadas, revistas ou qualquer forma de contato com a realidade dos países árabes, no que diz respeito a estudos.

Mesmo nos países árabes a dança sempre foi ensinada de maneira informal.

Muito do que se fazia em cena nos shows, vinha dos filmes de Hollywood, e principalmente, de forma intuitiva.  Para uma apresentação nos dias atuais, seria totalmente incompatível, mas para uma época onde o referencial inexistia, era mágico.   

Hoje, quatro décadas depois, as sementes da dança oriental frutificaram,  mesmo após estes locais terem fechado as portas e encerrado suas atividades.
Até então, não tínhamos apresentações de dança.
COMO SURGIRAM AS DANÇAS NA KHAN EL KHALILI

Não se pode negar que a procura pelo desenvolvimento da dança e pelos benefícios que ela traz para as mulheres, se desencadeou geometricamente a partir do momento que ela começou a ser apresentada e divulgada através da Khan el Khalili em 1983, num espetáculo chamado Noites Egípcias (este era o primeiro nome das noites em que haviam shows na Casa de Chá), ocasião do primeiro aniversário da Casa.

Na verdade, a sugestão destas Noites Egípcias com dança do ventre na Casa de Chá foi feita pelo Sr. e Sra. Ashmawi (egípcios natos e amigos da casa), como forma de aproximar e mostrar aos brasileiros um pouco da riqueza da cultura egípcia.

À eles, devemos nosso profundo respeito e carinho por terem nos concedido tal idéia.

Procuramos então algumas bailarinas no mercado, as quais se apresentavam nestes restaurantes árabes para a colônia. 

Não haviam nomes de expressão, pois as bailarinas eram apenas uma atração a mais para aqueles que iam jantar nestes lugares.  A dança ainda engatinhava e acontecia em apresentações esporádicas.  Tudo era muito simples.  Mesmo assim, não deixava de ter um certo glamour

Começamos então a realizar apresentações na Khan el Khalili. 

Agora brasileiros assistiam a dança pela primeira vez e era uma tremenda novidade.


A primeira "Noites Egípcias" na Khan el Khalili - Julho 1983
Samira e Mileidy - Sala Principal
  

Eram espetáculos pequenos.  Praticamente sem nenhum aparato de iluminação ou som de qualidade.  Não existia know how nos shows.  Mesmo assim, encantavam o público.

Na primeira delas, em Julho de 1983 (fotos acima), dançaram: Samira (que realiza anualmente o Mercado Persa - foto ao lado), Rita, Selma, Rosana e Mileidy. 

Ao ver as apresentações na Casa naquela noite, percebi que uma grande idéia surgia no sentido de fazer um trabalho diferenciado e cultural.  Exatamente a identidade que seria necessária para a Khan el Khalili como casa temática.

Dali para frente resolvi que passaríamos a realizar shows todos os finais de semana.  Iniciativa arrojada se observarmos que as possibilidades eram tão poucas. 
Nesse período não havia um grupo fixo de bailarinas.  Vinham dançar aquelas que tinham alguma disponibilidade.
Vez por outra, aparecia uma nova bailarina querendo dançar.  Diziam que sabiam tudo, que haviam dançado no exterior e contando muita vantagem de si.  Enfim fazendo uma auto-propaganda duvidosa.  Como as opções eram poucas no princípio, eu colocava uma música e falava para elas dançarem numa determinada sala para o público: não sei exatamente se era uma decepção ou várias ao mesmo tempo.  Só sei que pela expressão do público, não daria certo. 
Em pouco tempo percebi que aquelas que vinham até nós se enaltecendo demais e contando muita vantagem, fatalmente frustravam quando entravam em cena.
Foi um período de ajustes e de várias tentativas e erros com muitas pseudo-bailarinas. 
Passados 16 meses com shows em todos os finais de semana, dava para entender exatamente o que buscávamos, e principalmente, o que o público realmente não desejava assistir.
Era final de 1984.  Após um ano e meio de shows constantes e propaganda maciça da Khan el Khalili nos principais jornais, revistas e TV (como por exemplo, Goulart de Andrade no Comando da Madrugada - Rede Globo), tínhamos a certeza que era necessário desenvolver e elaborar melhor os shows, afinal começávamos a receber mais público do que o esperado.
A dança estava dando certo!  Todas as semanas o público aumentava.  Mas eu ainda não estava contente com o grupo de dança.  Queria melhorá-lo mais e mais.
Havia um jornal dominical muito conceituado na época chamado Shopping News, o qual sempre divulgava as nossas apresentações como "a grande novidade em São Paulo" e mencionava em seu roteiro todos os finais de semana que todos deveriam assistir a dança.
Artistas começaram a freqüentar.  Sempre elogiavam muito e ficavam encantados com os shows.  E o público crescia... 
Samira e Shahrazad nesta época, ofereciam em suas casas algumas aulas particulares para mulheres que desejassem aprender os passos.
SURGE UM GRUPO FIXO
Um novo grupo de bailarinas se formaria então.

Apareciam alguns novos nomes na dança da KK: Lulu, Fátima Fontes, Nájua, Kareema e Laila. Através de um trabalho sério e comprometido, iniciava-se a popularização da dança do ventre através da Casa de Chá.

A partir de meados dos anos 80, com o aumento de shows na Casa, a dança começou a exercer tremendo fascínio nas mulheres brasileiras.
O respeito pela dança ainda era insuficiente na minha opinião, por este motivo resolvi dar-lhe uma conotação de "arte".  Cunhei então o slogan "A Arte de Dança do Ventre", que se propagou ao longo dos anos em nossa propaganda na mídia e nos títulos de todo material publicitário que criamos dali para frente.
slogan em si, não seria apenas um apelo de marketing; a idéia era que na Casa de Chá as pessoas notassem a dança de outra maneira.  Da mesma forma, a mulher, na personagem da bailarina, tivesse a devida deferência de todos.
Alguns fatores importantes, desde o inicio, foram estritamente observados:
1) no momento do show, todas as atenções estariam voltadas exclusivamente para a bailarina;
2) as bailarinas teriam orgulho do seu trabalho, pois na Khan el Khalili receberiam o respeito do público, diferente de qualquer lugar em que se apresentassem;
3) as tradições culturais seriam mantidas sempre por todo o grupo;
4) as danças deveriam aliar poesia e emoção, completamente antagônico ao fato de explorar as formas e a delicadeza feminina através de impacto e apelação estética;
5) e principalmente, seria notório o caráter "arte" em cada apresentação: a expressão de um ideal de beleza, através de um gênero artístico.
    
Fátima Fontes - 1985                                      Najua / Jorge Sabongi / Laila - 1985                                                   Laila - 1985

Nájua em uma das primeiras apresentações na KK - 1985
As apresentações tornaram-se então parte da história da Casa.  Cada vez mais gente queria assistir.  Os trajes ainda eram simples, nada de riqueza.  Mas a qualidade e o cuidado com a dança começavam a tomar novo rumo.
OUTRAS GERAÇÕES
De lá para cá, são quase três décadas.  Diversas gerações de bailarinas se apresentaram desde então.  Inicialmente em número pequeno em cada geração, tornando-se uma progressão geométrica ao longo dos anos.
Por volta de 1987 chegou Shams; em 1988, vieram Dalila, Nura, Ramda e Zahra.  

Até 1992, este foi o grupo que permaneceu, quando então chegaram:Soraia Zaied, Rosana Chalita e Safira.

Em 1994 surgiram Serena, Shahar Badri, Munira Maharib, e Hayet Xerfan.

Coroando o final deste período, vieram em 1995 Pallú, Dyvia Djy, Dúnia e Jade em 1996. 

   
OUTRA VERTENTE
Paralelo a isso e já nesta época, no outro lado da cidade, Samira (a primeira bailarina a se apresentar na KK em 1983) e sua filhaShalimar desenvolviam outro trabalho de divulgação e ampliação deste mercado.  Realizavam anualmente um evento que se chama até os dias de hoje de "Mercado Persa". Este evento, desde o início, congregou simpatizantes da dança árabe de todo o país, oferecendo oportunidade a quem desejasse se apresentar nos palcos de grandes clubes.  Na verdade, o Mercado Persa acabou se tornando uma imensa amostra de tudo o que se aprende pelo Brasil.
O IMPROVISO SEMPRE PRESENTE NA KK
Acredito que o marco inicial, o qual desencadeou o processo da dança do ventre para o grande público no Brasil, está ligado a todos os nomes acima citados.  De uma forma ou de outra, todas ofereceram sua contribuição.
Um certo dia, ao ver Shahrazad tocar snujs, percebi que tinha facilidade para aprender como manejar este instrumento.  Tratei de encomendar um jogo de snujs para mim e comecei a minha odisséia de aprender a tocar, por conta própria. 
Gostava tanto que em pouco tempo já fazia malabarismos com eles.  Acabara me tornando uma atração dentro da Casa, junto com a dança.  Quando eu não tocava, reclamavam.  Quem diria?
De nosso antigo grupo, tantas coisas já aconteceram. Kareema hoje está na Alemanha;Serena se casou com um percussionista árabe e mora na Inglaterra; Dunia mudou-se para Alemanha e dançou na Europa durante quatro anos; atualmente, de volta ao Brasil, está em Curitiba. Najua dançou nos Emirados Árabes por seis meses e hoje encontra-se no México.  Shahar casou-se e mora atualmente na Inglaterra.  Soraia Zaied tornou-se uma estrela de primeira grandeza no Egito, e se apresenta por lá nos dias atuais. Safira dança atualmente nos países árabes.  Munira morou no Egito por um tempo e hoje, também retornou aos nossos shows em São Paulo.  Jade também se apresenta ainda hoje na KK.
Bailarinas de qualidade não surgem da noite para o dia.  Seriam necessários anos para termos um grupo suficientemente bom para manter acesa a chama do público.
Uma das características mais importantes que imprimimos, desde cedo nas apresentações da Casa de Chá, foi a bailarina dançar sempre "de improviso".  Os shows nasciam no exato momento em que estavam sendo executados, ao sabor da música, do público e da disponibilidade criativa da bailarina.

A partir de 1997, aparecia uma turma nova, que chamamos de "Nova Geração" de bailarinas.  Praticamente uma média de 10 a 15 estagiárias incorporavam-se ao grupo, vindas das aulas de dança do ventre que aconteciam na Khan el Khalili.

     

 Vale mencionar todas da Nova Geração de 1997: Yasmin Namú (aluna de Laila), Mayara, Shiraman, Aisha, Ágata, Salua, Lainah, Zur, Vivi, Nar, Amar, Sabah, Dúnia La Luna, Iman e Naila (a primeira bailarina japonesa - um encanto, hoje morando nos E.U.A.).  Todas em desenvolvimento simultâneo.
  Elas também tiveram parcela significativa na progressão geométrica que aconteceu desde então.
Suas apresentações no dia-a-dia na Casa de Chá, mostraram uma diversidade de estilos e características marcantes nos movimentos. 
Sempre de forma improvisada, elas encantaram multidões.
NOVAS IDÉIAS, NOVOS RUMOS E NOVAS GERAÇÕES
A partir de 1997 também, este site foi construído.  Através dele, o Brasil conhecia diariamente os nomes que surgiam na dança e todas as novidades deste mercado que agora tomava proporções gigantescas.
De lá para cá, muitos grupos também chamados de Nova Geração se desenvolveram anualmente.
Cada público encontra sua predileção.  E todas elas, criavam um incentivo cada vez maior nas mulheres que as assistiam, gerando mais e mais interesse nesta jornada que é o aprendizado da dança. 
Cada dia caminha-se um degrau.  Cada ano, surgiam novas possibilidades.
O período de maior florescimento da dança, criou um segundo "momentum".  A necessidade de aprendizado levou ao aparecimento de novas perspectivas em termos de aulas.  Workshops nasceram e pipocaram por toda parte.  A curiosidade sempre crescente, funcionou como fermento.   Em todos os lugares propostas e temas apareciam, movimentando um mercado emergente de dança.
Muitas das bailarinas que fizeram parte destas primeiras gerações já se foram.  Afinal são quase 30 anos de dança. Cada uma delas, em especial, deixou sua marca, através de seus movimentos e graça; foram seguidas posteriormente, por centenas de mulheres, depois milhares, que ainda estudam seus movimentos e admiram sua arte.
Ao assistir uma apresentação de dança na Khan el Khalili, as mulheres até hoje ficam surpresas e encantadas com a delicadeza e habilidade que ela proporciona à bailarina, os quadris traduzidos em música, as mãos desenhando poesia pelo ar, os trajes e o mito de princesa sempre presentes.  Isso sem falar na fantasia e o poder sedutor que ela desencadeia, principalmente quando tratada como arte.
As aulas passaram a funcionar como um convite para as mulheres se conhecerem melhor, aceitando suas formas, superando limites, enfim uma viagem de auto-conhecimento e polimento da auto-estima, através de novas descobertas.

Durante os anos de nossa permanência no mercado, diversos locais abriram e fecharam suas portas, pois a grande maioria negligenciava componentes e detalhes essenciais, tais como, a qualidade da dança a ser apresentada.  


Khan el Khalili em 1983
A dosagem certa e o ponto da receita, não restam dúvidas, só a Khan el Khalili acertou ao longo de tantos anos. 
Isso motivou um projeto de franquia para os próximos anos.
NOITES NO HARÉM
Em março de 1998, surgiram os shows das Noites no Harém por sugestão de Soraia Zaied.  O espetáculo máximo da dança no país.  As "melhores das melhores", em apresentações inéditas todos os domingos. 
Toda bailarina sonha um dia dançar nas Noites no Harém.  Um público especial, cativante, e sedento por dança de alto nível.
Noites que trazem danças folclóricas diversas, inovações, performances, homenagens e tributos, tudo dentro da cultura, no melhor molde oriental. 
Claro que com tantos talentos de sobra, nos facultamos a desafiar estas beldades com um espetáculo adicional que passou a se chamar "Noitesdo Além", isto é, "além da música árabe".  Na verdade, este show é um desafio para todas mostrarem os movimentos de dança oriental com outros estilos de música.   Assim, brincamos com o estilo de cada uma e damos a chance a todas de ousarem com bom gosto e muito bom humor.

Lainah, Jorge, Nur e Kahina - 2005
No momento que esta página está sendo revista, já aconteceram quase 600 Noites no Harém, e estamos completando seu 12º Aniversário.
SUPER NOITES NO HARÉM  -  NO TEATRO
Resolvemos então, levar este espetáculo com o elenco todo para o teatro.  A idéia neste caso é proporcionar ao público aquilo que o Harém não pode por falta de espaço na Casa de Chá: danças de grupos no palco.
Tornou-se um evento anual e com o nome de Super Noites no Harém.
   
Trata-se de um espetáculo amplificado das Noites no Harém de todos os Domingos.
Nele ocorre uma mescla de estilos, uma miscelânea de shows que agrada a todos os tipos de público.  Criativo e imperdível.
Contamos sempre com a participação de convidados especiais e diversos bailarinos de dança árabe do país.  Estas apresentações folclóricas são coreografadas e idealizadas por Najla Yakoub, uma bailarina revelada no triângulo mineiro.
PRÉ-SELEÇÃO ANUAL DE BAILARINAS
Em 1998 também, resolvi estabelecer uma nova modalidade para escolher as bailarinas que eventualmente poderiam dançar na KK ou como forma de descobrir e reconhecer novos talentos emergentes em outros estados: chamaria de Pré-Seleção Anual de Bailarinas.
Em poucos dias, desenvolvi o esqueleto de como seria esta modalidade.  Todas as regras, o estilo, planilhas, estrutura de organização etc.  Ela começaria no ano seguinte, em 1999.  Haveria uma banca examinadora composta pelas melhores bailarinas da Casa. 
Desde então, esta passou a ser uma característica marcante no sentido de enaltecer e incentivar o aprendizado contínuo da dança.
Pela Pré-Seleção, descobríamos boas bailarinas em muitos estados do Brasil.  Todas reconhecidas e aprovadas pela banca examinadora.
De norte a sul, ninguém contesta o nível e a qualidade do trabalho que é apresentado por esta equipe de profissionais.  Todas são requisitadas para Workshops anualmente nas principais capitais de nosso país.
 Durante as apresentações na casa, você tem a oportunidade de assistir diversas gerações de bailarinas, desde aquelas que ainda estão se desenvolvendo até grandes estrelas conceituadas. 
Cada uma desenvolvendo as próprias características.  É um grande laboratório de dança do ventre em nosso país.
 Anualmente, através da Pré-Seleção, em média 30 a 40 novos talentos são descobertos.  Elas recebem o "Certificado de Padrão de Dança do Ventre de Qualidade", que abre portas para a atividade profissional onde quer que seja.
REVISTA KHAN EL KHALILI
VÍDEOS DIDÁTICOS
CDS DE RITMOS ÁRABES
As Revistas Khan el Khalili, vieram coroar a possibilidade, juntamente com a Internet, de divulgar da cultura árabe e da dança do ventre de uma forma mais abrangente.  Foram quatro fascículos, divulgados em 2001 e 2002.
A partir de 2001 também, uma série de vídeos didáticos, dirigidos e estruturados por Jorge Sabongi e protagonizados por Lulu (da Série - "A Arte da Dança do Ventre") inauguraram de forma inédita os estudos em nosso país. Essa coleção foi em grande parte responsável pela divulgação da dança, facilitando as mulheres de todos os pontos, o acesso a este tipo de informação.  Chegaram a lugares distantes e surpreendentes.
Os CDs didáticos com os ritmos árabes, desenvolvidos por Jorge Sabongi também auxiliam no aprendizado e assimilação da dança do ventre em salas de aulas, todos os dias.
  
CDs de Ritmos Árabes para estudo de dança do ventre
COMO É O DESENVOLVIMENTO DENTRO DA KK
A Casa recebe em seus ambientes público do mundo inteiro.  Brasileiros e estrangeiros que vem de todas as partes, fazem questão de nos visitar.  Isso nos motiva a apresentar um trabalho cada vez mais elaborado.
Construímos e fortificamos cada vez mais uma equipe competente, sempre em busca de crescimento contínuo e com uma união que resiste a todas as intempéries.  A cada ano, mais e mais bailarinas fazem parte deste grupo juntando-se ao elenco que escreve a história da dança árabe em nosso país.
As dificuldades inerentes ao fato de agrupar muitas mulheres num mesmo espaço, trabalhando juntas e exercitando a beleza de todas as formas, sempre foram superadas no sentido de um objetivo maior.  Este objetivo é o de apresentar ao mundo uma dança de alto nível, vista por diversos ângulos, com diferentes características na leitura musical de cada uma.  Diferentes formas de revelar encantos.
Por tudo isso, tantas e tantas mulheres sonham em ser bailarinas da Khan el Khalili. 

Safira, Nura, Jorge Sabongi e Kareema - 1991
 Evidentemente que reunir todas num mesmo dia para uma foto, é praticamente impossível, em função das atividades de cada uma.
Hoje contamos mais de 350 bailarinas qualificadas para dançar na escala da casa mensalmente.  O grupo completo, só se encontrou uma única vez até hoje: na Grande Festa dos 15 anos da Khan el Khalili, no palco do Esporte Clube Sírio, em 24 de Novembro de 1997, na entrega dos abays (mantos pretos de veludo).  Foi a única vez na história da Casa, que foram vistas todas juntas. E ainda assim, hoje o grupo já não é o mesmo, portanto a próxima vez será de novo a primeira.
DIREÇÃO E PREPARAÇÃO ARTÍSTICA
Todas que dançam na KK sempre tiveram informalmente um acompanhamento no que diz respeito a "Direção e Preparação Artística": um trabalho voltado ao crescimento e desenvolvimento das bailarinas.  Através das correções nas danças de cada uma, chegava-se a um grupo extremamente especial.  Era o lapidar final para aquelas que já tinham adquirido boa técnica e realmente tinham talento.
Essa informalidade de tantos anos, acabou sendo transformada e melhor organizada através da criação dos Cursos & Workshops de Direção abertos não só para nossas bailarinas. 
Estes cursos visam oferecer embasamento e vivência de cena necessários à carreira profissional de cada uma.  Trata-se de um trabalho único, específico e de moldagem.  Mais do que isso, de percepção pessoal.
  Os resultados são surpreendentes e imediatos na performance de cada uma.
Para aquelas que dançam na Casa, graduações são estabelecidas visando o desenvolvimento contínuo de todas (estagiárias, bailarinas, e bailarinas Noites no Harém - em diversos níveis). 
 Novas estrelas se revelam e as portas estão abertas à todas aquelas que desejam entrar.
PARA ONDE CAMINHA A DANÇA
Nem tudo cresceu dentro da normalidade nesta área.  Com o passar dos anos, distorções nasceram, permaneceram e ampliaram-se.
A dança do ventre sempre está crescendo, não só no Brasil mas em todos os países do mundo. Mais e mais mulheres sonham a cada dia conhecer e aprender esta arte milenar.
Neste sentido, o crescimento ocorre de forma desordenada, gerando distorções não só no aprendizado, mas também na graduação do respeito e diferenças de umas com o trabalho de outras.
Poucas que ensinam tem preocupação com a qualidade de seus frutos.  Muitas não tem a aptidão necessária para extrair o melhor de suas alunas.  Outras ainda, sentem-se acuadas a partir do momento em que percebem que um novo talento pode superá-la, advinda principalmente, de suas próprias mãos.  A vaidade impera e sufoca talentos natos. O resultado é um aprendizado superficial, isento de refinamento e sem alicerces de filosofia para o desenvolvimento a longo prazo de suas aprendizes.
Infelizmente, em todos os ramos de trabalho existem profissionais indignos.  Gente despreparada que acaba de certa forma denegrindo o trabalho de muitos que desejam fazer algo bem feito.  O oportunismo aparece rápido em todas as áreas.  Este conceito também se aplica ao mercado de dança árabe.
Quando o mercado ainda era embrionário, isso já acontecia, esta tentativa de sacrificar princípios.  Nada mudou, apenas cresceu proporcionalmente ao longo dos anos.
Acredito pessoalmente que não existe um ponto de saturação neste mercado mas sim de desgaste a longo prazo, por um motivo muito sério: esta manifestação artística, ensinada de maneira informal pelo mundo inteiro há tantos anos, a qual resolvemos chamar de "arte" aqui no Brasil, mais precisamente dentro da Khan el Khalili, sofre cada vez mais erosão, motivada pelo excesso de ousadia e criatividade desmesurada.  Exageros, abusos e insensatez.
Muitas com pouco ou nenhum preparo, buscam desesperadamente seus 15 minutos de fama a todo custo.  Nesse intuito, não se importam com o preço a pagar ou o quanto vão se denegrir ou prejudicar as raízes da informação.
Fazem aparições em meios de comunicações e apresentam dança mambembe nomeando de dança do ventre.  Chocam as pessoas.
Assim sendo, nesta linha tão tênue, a poesia e a vulgaridade colidem diariamente por todos os lados.  Novidades estapafúrdias e apelações são incorporadas cada vez mais sem critério a dança, desagradando aqueles que a vêem de forma ingênua. 
Este show de criatividade apelativa através de aparições sensacionalistas, destrói o sentimento do belo.
Situações assim, motivam a mídia explorar cada vez mais esta dança de forma banalizada. Todas as mulheres perdem com isso.
MORAL DA HISTÓRIA
A preocupação constante com o errado atrapalha o certo.
Sempre desconfiei de quem criticava demais.  Críticos são frustrados que gostariam de ser reconhecidos.  Como não conseguiram projeção, tornaram-se críticos.
Prefira pessoas com boas idéias; são interessantes.
A solução?  Primeiramente, é necessário dizer que hoje em dia existe muita informação para quem deseja aprender.  Completamente diferente dos anos iniciais.  Portanto, é necessário muito estudo e a escolha pela continuidade de um trabalho bem elaborado e sério sempre.  Esquecer e afastar-se dos críticos ("os cães ladram e a caravana passa").  Trabalhar com boas idéias e ter sempre um plano de metas para os próximos 10 anos. 
Não basta apenas aprender a dançar para apresentar-se profissionalmente.  É necessário "construir-se" através de boas leituras e equilíbrio psíquico.  Destituir-se de inveja, ciúme e arrogância.
O resultado positivo somente acontecerá a partir do momento em que a quantidade de boas bailarinas superarem a proporção daquelas que buscam uma exploração predatória neste mercado.  Este é o vislumbre de um estágio que vai exigir superação de todas consigo próprias.
É um caminho (talvez uma utopia, quem sabe!), para aquelas que desejam trilhar de forma salutar, uma das mais belas formas de se mostrar mulher. 
Se cada uma fizer um pouco pelo seu círculo, já teremos uma nova via criando sinergia.  Trata-se de uma solução de dentro para fora.  Não a espera de um milagre que possa surgir do lado externo.  Sejamos realistas: o socorro não chegará!  Aqui, a realidade depende da cada um de nós.
A dança do ventre não tem "dono" ao contrário do que muitas possam pensar.  Quem é quem para dizer o que é certo ou o que é errado nesta área?  Nomenclaturas e métodos de ensino são criados todos os dias por bailarinas no mundo inteiro.  Isso não quer dizer que alguém tem mais direito à ela.
Diretrizes são necessárias e sempre bem-vindas.
A boa notícia é que o céu tem inúmeras estrelas.  A Terra também; e todas podem brilhar e desenvolver-se com suas próprias características, sem a necessidade de cópias ou exageros.  Existe espaço para cada uma ter sua própria identidade.
O bom senso e a beleza que encantam os olhos do público, aliados ao talento, a técnica apurada e a sutileza, estes sim, traduzem o objetivo maior de um grande espetáculo.
Isto sim é "arte" ... e para sempre!
Jorge Sabongi - Março/2001
Revisado em Jan/2010
  

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