Com a rotina cheia e muitos prazos a cumprir, facilmente nos sentimos estressados e tediosos. Podemos produzir muito, mas corremos o risco de perder o sabor de nossas conquistas. Por isso, quando caímos na sensação de que a vida ficou sem graça, é hora de fazer algo para recuperar seu frescor.
O que lhe dá a sensação de encanto pela vida? Fiz esta pergunta para um grupo de 20 pessoas. Escutei respostas como: despertar de bem com a vida,
compartilhar descobertas ao participar de uma rede interdependente de pessoas e eventos, enfrentar os erros e acertos com a intenção de se conhecer e se aprimorar, ter contato com a natureza e relacionar-se com bebês.
Em outras palavras, o que gera encanto pela vida é manter um estado aberto para a existência. Isto é, deixar-se surpreender pelas pessoas, lugares, ideias, sentimentos e emoções. Quando estamos abertos ao mundo, deixamo-nos ser atravessados pelas experiências à medida em que elas surgem. O ponto mais importante aqui é compreender que este "atravessamento" só pode ocorrer quando há espaço em nós para deixar o outro entrar.
Quanto mais receptivos estivermos para o outro, mais ele poderá nos oferecer. Neste sentido, quando perdemos o encanto pelo mundo e temos um sinal de que estamos demasiadamente ego-centrados: nos tornamos o centro do mundo. Ao usarmos a nós mesmos como referencial de percepção do mundo, passamos a nos comparar demasiadamente com tudo e todos.
Quando nada mais nos surpreende, é sinal de que já estamos tão fechados e rígidos em nossos hábitos e crenças que perdemos a abertura necessária para nos deixarmos ser tocados pelo desconhecido. Estamos cheios de "nós mesmos"!
Com o domínio do mundo tecnológico perdemos o contato entre as pessoas. O excesso de automatismo tornou nossos relacionamentos tão superficiais que perdemos a profundidade humana sem nos darmos conta. Apenas quando reconhecemos a fragilidade dos vínculos afetivos, como a falta de um comprometimento num relacionamento, é que paramos para pensar onde erramos. Cabe ressaltar que este já não é mais um erro pessoal, é um risco coletivo!
Uma vez que a automatização nos distanciou da realidade externa, ficamos "desconectados" pelo excesso de conexão superficial. A superficialidade e o automatismo nos tornaram áridos, sem brilho existencial.
Pelo excesso de conceitualizações, pensamos mais do que vivenciamos. No entanto, a experiência de vivenciar o conhecimento é que dá o prazer de conhecer algo.
Segundo o mestre budista Lama Yeshe nos tornamos inseguros ao desenvolvermos um conhecimento intelectual que não é capaz de tocar nossa experiência interna. Ele dizia: "Muita gente adquire um incrível entendimento intelectual do budismo com facilidade, mas este entendimento é estéril se não fertiliza o coração." Desta forma, Lama Yeshe estava nos alertando para não deixarmos nossos pensamentos tornarem-se mecânicos pois se isso ocorrer eles deixarão de produzir algo que nos despertará interiormente.
Portanto, se quisermos recuperar o encantamento pela vida, teremos que nos abrir para sermos transformados pelas experiências que a vida nos oferece. Sejam elas agradáveis ou não. Desta forma, aceitamos lidar tanto com o prazer como com a dor.
A vida tem sua graça quando há um constante senso de interesse e curiosidade. Superar nosso medo da abertura é um obstáculo que teremos inevitavelmente que enfrentar. Mas, lembre-se: essa dificuldade não é só sua!
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